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Testemunhas e polícia tentam explicar atropelamento em Copacabana : “Eu só sei que voei uns dez metros”

Motorista estava com a habilitação suspensa e alegou epilepsia para justificar o acidente

Movimentação no calçadão de Copacabana após o atropelamento de 17 pessoas na quinta-feira, 18 de janeiro
Movimentação no calçadão de Copacabana após o atropelamento de 17 pessoas na quinta-feira, 18 de janeiroSTRINGER (REUTERS)
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O calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, voltou a encher de turistas, vendedores ambulantes e ciclistas após o acidente que deixou 17 feridos e causou a morte de um bebê de oito meses na noite de quinta-feira, 18 de janeiro. No trecho onde aconteceu o atropelamento, entre um castelo enorme de areia e um quiosque de comida peruana, as imagens da tragédia continuam vívidas. "Parecia uma nave espacial. O carro voou da ciclovia até a areia. Levou pela frente todo mundo, atropelou o carrinho do bebê. Foi muito chocante", conta o escultor de areia Euclides Antonio, de 57 anos.

Quem também voou foi Manoel Martins, o dono de uma barraca da praia que voltava para casa com dezenas de cadeiras num carrinho. "Eu só sei que voei uns dez metros. Não sei se alguém foi arremessado ou foi algo que bateu em mim. Estou com dor no corpo todo, mas aos meus 78 anos tenho ossos fortes", brinca.

Com o perímetro de segurança feito com a mangueira de uma barraca, o peruano Miguel Mollinedo, dono do quiosque, apressou-se em socorrer as vítimas. "Eu estava de costas e quase não ouvi barulho. Ouvi muitos gritos e pensei que era um ladrão, como aqui sempre que pegam um ladrão querem matá-lo...", conta. Em seguida reparou que a gritaria era por algo muito maior e disponibilizou os seguranças do estabelecimento para proteger as vítimas dos potenciais saqueadores, limpou feridas e tranquilizou os feridos.

Mollinedo criticou o fato de terem sido enviadas apenas duas ambulâncias para o atendimento. "Havia um homem com muita dor e não havia ambulância para levá-lo no hospital", reclamou. Mollinedo chegou a recolher do chão a mamadeira cor de rosa que saiu disparada do carrinho de bebê que o veículo atropelou. "Peguei pensando em devolver depois para a menina, mas não vai ser mais possível", lamenta o senhor. "Espero poder devolver para o pai".

O carro invadiu o calçadão por volta das 20h30, horário de grande movimento na região, atingindo 17 pessoas. De acordo com o jornal O Globo, nove delas continuam internadas nesta sexta-feira, entre elas estão um bebê de 2 anos e crianças de 7 e 10 anos. O caso mais grave é de um australiano, de 68 anos.

Investigação

O motorista Antonio de Almeida Anaquim, de 41 anos, "apagou" ao volante antes de perder o controle do veículo. Embora não sejam descartadas outras possibilidades, essa é a principal linha de investigação da polícia. Ele relatou aos agentes que sofre de epilepsia desde os 12 anos e que, segundos antes de invadir o calçadão, teve um episódio de perda total de consciência. Almeida disse não sofrer convulsões próprias da enfermidade, mas sim esses apagões. O último episódio havia sido há quatro anos, segundo ele.

Os primeiros exames descartaram que o motorista, que ia jantar com uma amiga, tivesse ingerido álcool. A polícia aguarda o resultado de outros exames mais detalhados, mas por enquanto ele foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e responderá em liberdade. A legislação não contempla a prisão se o motorista não foge do local do acidente. Almeida, no caso, ficou dentro do carro até que a Polícia Militar o encaminhasse até a delegacia com o intuito de evitar um linchamento.

A situação do motorista, no entanto, pode se complicar se ficar provado que ele omitiu ser epilético ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran). O órgão afirmou publicamente que a doença não constava no registro do motorista e que ela está com a carteira de habilitação suspensa desde maio de 2014.

Segundo o site de notícias G1, a CNH do motorista aparece bloqueada, com 62 pontos e 14 multas nos últimos cinco anos. Almeida disse à polícia que não foi notificado sobre o bloqueio, apenas sobre as sucessivas multas.

"Qualquer atividade de omissão perante o Estado pode ser considerada negativa. No julgamento, ele pode ser prejudicado. Mas não se pode afirmar que foi intencional", disse o delegado Gabriel Ferrando.

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