_
_
_
_

A história por trás da foto do menino negro de Copacabana

Garoto cuja imagem viralizou após o réveillon acompanhava mãe que vendia chaveiros na praia. Família mora em favela dominada pelo tráfico e chegou a prestar queixa na polícia após a divulgação

Um menino observa os fogos na virada de ano novo em Copacabana.
Um menino observa os fogos na virada de ano novo em Copacabana.Lucas Landau
María Martín
Mais informações
Coreia do Norte: imagens clandestinas de uma fotógrafa
JR, um olhar da sua arte ao redor do mundo
Magnum: quando o fotojornalismo se fez arte

O menino negro retratado em uma fotografia em preto e branco observando os fogos durante a virada do ano em Copacabana teve parte da sua história revelada. No dia 31 de dezembro o garoto de oito anos saiu com sua mãe da favela onde moram a caminho de uma das praias mais famosas do mundo. A família, sem pai e formada por mais três irmãos, mora num prédio ocupado e dominado pelo tráfico.

Eles não percorreram os 17 quilômetros que separam sua casa da areia para curtir da festa vestidos de branco. A mãe, de 35 anos, é vendedora ambulante e, naquela noite, saiu para vender chaveiros entre os 2,5 milhões de pessoas que comemoravam o réveillon à beira da praia. Ao começarem os fogos, o pequeno se separou da mãe e foi dar um mergulho quando, em seguida, ficou absorto ao observar o espetáculo de luzes no mar.

Foi nesse instante que o fotógrafo Lucas Landau, que retratava a festa para a agência Reuters, captou a fascinação do menino. A imagem, sem o fotógrafo pretender, acabou viralizando, chegou a milhares de brasileiros e foi tema de matérias em vários jornais internacionais.

O que poderia ter se limitado a uma bela fotografia levantou, no entanto, uma enorme discussão nas redes sociais. Discutia-se o papel da fotografia, mas também como a interpretávamos. Muitos enxergaram um menino perdido, pobre, assustado, sendo ignorado pela massa branca. Outros viram apenas uma criança absorta no espetáculo e multiplicaram-se as vozes que apontaram a estigmatização das crianças negras no Brasil ao se perceber a quantidade de pessoas que associaram de imediato a cor da pele do garoto com sua suposta condição social.

Os dias se passaram sem ninguém saber quem era aquele menino, alheio ao rebuliço que sua foto tinha causado. A mãe dele, que não tem celular, não sabe ler nem escrever, nem assinar seu próprio nome, acabou sabendo da repercussão por meio de uma vizinha. Assustada, ela chegou a ir na delegacia de Repressão de Crimes de Informática para apresentar uma queixa. Acreditava que o fotógrafo estava comercializando a imagem sem seu consentimento, algo que Landau sempre negou. A polícia, de fato, não identificou nenhum crime, não haverá investigação e a denúncia ficou resumida a apenas um registro. Foi desse documento, ao qual o EL PAÍS teve acesso, que saíram boa parte das informações para esta reportagem.

Fotógrafo e menino chegaram a se conhecer, mas o próprio Landau alertou em suas redes sociais que aquele encontro ficaria apenas para eles. "O conheci cinco dias depois da nossa vida ter mudado. Conheci também sua mãe. Foi um encontro emocionante em que pudemos criar nossos vínculos, finalmente. Escolhemos manter esse momento privado, assim como a nossa relação", ele escreveu. A reportagem tentou conversar com a mãe, mas ela se negou. Quer proteger seu filho.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_