_
_
_
_
_

Oprah Winfrey se levanta contra a violência sexual e o racismo: “Chegou a hora”

Apresentadora emociona a plateia do Globo de Ouro com um discurso corajoso e comovente

Oprah Winfrey durante o seu discurso (legendas do vídeo em espanhol).
Oprah Winfrey durante o seu discurso (legendas do vídeo em espanhol).HANDOUT (REUTERS)
Tommaso Koch
Mais informações
As mulheres de Hollywood que já não se calam
Tapete vermelho se tinge de negro contra o assédio
Análise | ‘Big Little Lies’ e ‘The Handmaid’s Tale’ coroadas no Globo de Ouro das mulheres
Recy Taylor, a mulher negra estuprada por seis brancos que nunca foram condenados

Falou de racismo e assédio sexual. Provocou lágrimas e raiva. Arrepiou e deixou palavras para serem lembradas. Reese Witherspoon a apresentou assim: “Quando Oprah fala, todo mundo para e escuta”. Em seguida, Oprah Winfrey subiu ao palco para receber o prêmio Cecil B. De Mille pelo conjunto da carreira. Começou seu discurso. E, de fato, a cerimônia do Globo de Ouro 2018 parecia ter parado e se entregado à apresentadora, atriz e produtora. Havia uma enorme expectativa com relação ao momento em que Winfrey se plantaria diante do microfone. E ela esteve à altura.

“Em 1964, eu era pequena e estava sentada no piso de linóleo da cozinha, com minha mãe, vendo Anne Bankroft entregar o Oscar de melhor ator. Ela disse cinco palavras: ‘O ganhador é Sidney Poitier’. Nunca tinha visto um homem negro ser homenageado daquele jeito. Já tentei muitas vezes explicar o que isso significa para uma menina”, começou Winfrey. Mais de meio século depois, lá estava ela. Sobre um palco, idolatrada, recebendo um troféu. Para dar o exemplo que recebeu naquele dia: “É óbvio que neste momento haverá alguma menina que vê como sou a primeira mulher negra a ganhar este prêmio. É uma honra e é um privilégio compartilhar a noite com todas elas”.

“Falar a verdade é a ferramenta mais poderosa que temos. Sinto-me inspirada e orgulhosa pelas mulheres que se sentiram fortes para compartilhar suas experiências”, prosseguiu Winfrey. Quis recordar que talvez Hollywood tenha sido um inferno de abusos, mas agora virou um megafone com o qual combater um problema que é generalizado, porque “afeta raças, religiões e partidos”, segundo ela. “Obrigada a todas as mulheres que suportaram e suportam anos de assédio. Que, como minha mãe, tinham filhos para alimentar e contas para pagar e sonhos para realizar. São as mulheres cujos nomes nunca escutaremos: faxineiras, agricultoras, cientistas, empresárias, esportistas, militares”.

Entre todas elas, Winfrey escolheu um nome: Recy Taylor. Uma história inesquecível, e no entanto desconhecida para muitos. E que agora corre o risco de ser silenciada para sempre, já que Taylor morreu há exatamente 10 dias. Quando era jovem, em 1944, Recy Taylor foi sequestrada por sete homens brancos e armados. Levaram-na a um matagal, e seis deles a estupraram. Desde o primeiro momento ela buscou denunciar publicamente sua tragédia. Mas quem escutaria uma mulher negra? Dois júris – ambos compostos exclusivamente por homens brancos – lhe deram as costas. Tampouco o apoio de vários movimentos pelos direitos dos negros e da ativista mais famosa daqueles anos, Rosa Parks, lhe serviu de alguma coisa. Não houve condenações nem culpados. Apesar disso, Taylor nunca se rendeu. Continuou contando seu drama, até o final de seus dias. Assim fez, por exemplo, num recente documentário de Nancy Buirski, The Rape of Recy Taylor. E, agora que sua voz se calou, Oprah Winfrey quis erguê-la mais forte que nunca.

Recy Taylor, a jovem violentada por seis homens, homenageada por Oprah em seu emocionante discurso.
Recy Taylor, a jovem violentada por seis homens, homenageada por Oprah em seu emocionante discurso.

“Chegou a hora. Recy Taylor morreu sem ver isso. Mas time’s up [‘o tempo acabou’, referência ao movimento de apoio às vítimas de assédio]. Só espero que Recy Taylor tenha morrido sabendo que sua verdade serviu, como a de tantas mulheres maltratadas durante estes anos ou que estão sendo maltratadas agora. Ela está presente aqui quando cada mulher diz: ‘Me too’ [eu também]. E em todos os homens que decidem escutar”, afirmou Winfrey. A essa altura, praticamente toda a plateia já estava de pé. Laura Dern chorava. As câmeras do Globo de Ouro focavam muitas das protagonistas da cerimônia, visivelmente emocionadas.

Winfrey prosseguiu: “Já entrevistei e representei gente que sofreu muitíssimo na vida. O que essas pessoas têm em comum é manterem viva a esperança de um mundo melhor. Quero que todas as meninas que virem isto saibam que temos um novo dia pela frente. E quando esse dia raiar será graças a mulheres magníficas, muitas das quais estão nesta sala. E homens que vão lutar unidos, para se tornarem líderes e para chegarem a esse momento em que nunca será preciso dizer ‘Me too’”. Sob uma chuva de aplausos, seu discurso terminou. A luta contra o assédio continua.

Oprah Winfrey - Golden Globes (2018)

Oprah Winfrey fez um discurso emocionante ontem durante a entrega de seu prêmio na cerimônia do Golden Globes, fazendo menção a todas as recentes histórias de abuso que foram trazidas ao conhecimento público. As atrizes estavam usando vestidos pretos como forma de protesto contra as violências sofridas por mulheres que se calaram durante anos.

Posted by Empodere Duas Mulheres on Monday, January 8, 2018

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_