Retratos das mulheres antes e depois da revolução islâmica alimentam debate no Irã
Redes sociais ressuscitam imagens do passado ocidentalizado do país para criticar Governo
No Irã já morreram pelo menos 20 pessoas nas manifestações contra o Governo que acontecem no país desde 29 de dezembro de 2016. Nas redes sociais, muitos usuários estão criticando o Governo iraniano com uma fórmula que já tinha sido usada em várias outras ocasiões: lembrando como era o país na década de 70, especialmente para as mulheres, e como é agora. Antes que os aiatolás antiocidentais tomassem o poder em 1979, derrubando a monarquia pró-ocidental que controlava o país, as iranianas podiam se vestir como qualquer mulher europeia. Depois foi instaurada a obrigatoriedade do véu. A sharia, a lei islâmica, coloca as mulheres abaixo dos homens. É a lei vigente no Irã.
A diferença para as mulheres entre o Irã dos anos 70 e o atual aparece na Internet através de fotografias. São imagens que transmitem o contraste entre as mulheres usando jeans e a cabeça descoberta, ou até em biquíni, com a roupa habitual após a Revolução Iraniana. No mínimo, o hijab (véu) nunca pode faltar.
“À esquerda, várias imagens da minha mãe no Irã com amigos e familiares antes da revolução. À direita, com um xador preto após a revolução. Estou com o povo do Irã contra a ditadura islâmica”, diz a autora de uma das mensagens mais compartilhadas no Twitter. Em outro tuite, explica que sua família fugiu do Irã após a revolução e se instalou no Canadá como refugiados. Outros usuários se manifestaram em termos semelhantes.
Me before & after the Islamic Revolution in Iran. Had to wear the veil once I started school. Hated it with a burning passion. pic.twitter.com/QUgSmwbB2A
— Rita Panahi (@RitaPanahi) December 30, 2017
Eu antes e depois da Revolução Islâmica no Irã. Tive que começar a usar o véu quando comecei a ir na escola. Eu odiava com toda minha força
Iran, before and after the Islamic Revolution.#IranianProtests #IranProtests pic.twitter.com/zhMOE1CG3G
— Trump 2020 Landslide Victory (@Sunrise51052) December 31, 2017
Irã, antes e após a Revolução Islâmica
Any government ruled by religious clerics is a tarnished and corrupt government.. Iran 1970#Iranprotests pic.twitter.com/TZkdzqf8xW
— Ensaf Haidar ⚜️ (@miss9afi) December 30, 2017
Qualquer governo controlado por clérigos religiosos é um governo empañado e corrupto... Irã em 1970
What #Iran Looked Like Before The Islamic Revolution #Iranprotests #FreeIran #RegimeChange #Kermanshah
— Max (@MaximeSaada) December 29, 2017
#ايران pic.twitter.com/ZT3VuJiKRp
A aparência do Irã antes da Revolução Islâmica
Nos últimos dias, também foi divulgada nas redes sociais a imagem de uma mulher que teria tirado o véu e amarrado a uma vara, como uma bandeira branca, durante um protesto no Irã. Não foi revelada a identidade da mulher, mas de acordo com o The Guardian a cena aconteceu em Teerã.
This woman in #Iran took off her #Hijab to protest the mandatory Islamic dress code imposed on Iranian women. #IStandWithHer #IranProtests #Islam pic.twitter.com/G6oKHIPA68
— Armin Navabi (@ArminNavabi) December 29, 2017
Mulher iraniana tira o hijab para protestar contra o código de vestimenta obrigatória imposta às mulheres
One of the iconic photos of yesterday's protest was a young woman with her compulsory hejab on a stick...
— Maryam Namazie (@MaryamNamazie) December 29, 2017
What a wondrous site. Viva the protesting people of Iran. Long Live! pic.twitter.com/146HPg4Sna
Uma das fotos icônicas dos protestos de ontem é a desta jovem com seu hijab obrigatório em uma vara. Que maravilha. Vivam as pessoas que protestam no Irã. Vida longa!
A comparação entre o Irã do passado e do presente é um recurso clássico contra o Governo iraniano nas redes sociais. Em muitas outras ocasiões nas quais o Irã tomou as notícias, circularam pela Internet fotos de como se vestiam as iranianas antes e depois da revolução de 1979. Assim fez a ex-ministra socialista Carme Chacón em 2016 (embora, como publicou Voz Pópuli, a primeira imagem é dos Jogos Asiáticos de 1974 e a segunda é de uma competição de 2013).
Arriba, equipo de voleyball de Irán en los #JJOO de 1974. Debajo, #JJOO de #Rio2016 #BreakingBad pic.twitter.com/Qxt1dwa5lp
— Carme Chacon (@carmechacon) August 20, 2016
Entre as mensagens mais destacadas estão as da jornalista iraniana Rita Panahi, colunista do jornal australiano Herald Sun. Além de um dos tuites anteriores, compartilhou imagens de sua mãe com suas amigas quando era jovem. Também divulgou uma foto na qual a mãe segurava uma arma.
This is my mum & her friends in Iran before the Islamic revolution. All were professional, independent & free women. pic.twitter.com/4l69RnOmuZ
— Rita Panahi (@RitaPanahi) December 30, 2017
Esta é a minha mãe e suas amigas no Irã antes da Revolução Islâmica. Todas eram mulheres profissionais, independentes e livres
Images of Iran pre-Islamic revolution. The first two are ads, the lady with the gun is my mum. #IranProtest pic.twitter.com/RlFcnWqz1n
— Rita Panahi (@RitaPanahi) December 30, 2017
Imagens do Irã antes da Revolução. As duas primeiras são propagandas. A garota com a arma é a minha mãe
Esta galeria fotográfica do Business Insider junta muitas fotografias de como era o Irã antes que Khomeini tomasse o poder. Outros meios, como The Guardian, publicaram artigos semelhantes. Usuários das redes sociais estão fazendo essa comparação há muito tempo (ou mostrando apenas imagens anteriores a 1979).
Mulheres protestando contra o “hijab” obrigatório dias antes da revolução (Irã, 1979)
My mom, before and after the 1979 Iranian Islamic Revolution pic.twitter.com/LxjE5Urnku
— Armin Navabi (@ArminNavabi) April 18, 2017
Minha mãe, antes e depois da Revolução Islâmica de 1979.
Esta imagem é a encarnação do Irã antes da Revolução.
This is how Iranian #Women dressed in the 1970s before the Iranian Revolution https://t.co/cQzt6a2H5Z #Iran pic.twitter.com/gbn0NTJdlc
— Nick Sotoudeh (@NickSotoudeh) September 2, 2016
Era assim que as mulheres iranianas se vestiam nos anos 70, antes da Revolução iraniana
#IranAir flight attendants, before the revolution. 1970s. #Iran pic.twitter.com/IyuuTPatAo
— Iranian Atheist (@Atheist_Iran) June 5, 2016
Aeromoças da Iran Air antes da Revolução. 1970
Os protestos no Irã nos dias de hoje, como explica o EL PAÍS neste artigo, não têm como origem a situação das mulheres. As manifestações acontecem pela política econômica do Governo, bem como o custo de vida e a corrupção. O The Washington Post assegura que os manifestantes também criticaram o apoio do Governo ao ditador sírio Assad. Desde sábado, 30 de dezembro, há 450 detidos.
Estes são alguns dos testemunhos recolhidos pelo EL PAÍS em uma reportagem sobre a situação da mulher no Irã: “Queremos nós mesmas decidir como viver nossas vidas”; “tudo relacionado com a diversão é proibido”; “o mais difícil de ser mulher no mundo de homens é trabalhar com mais de 40 graus coberta da cabeça aos pés”; “uma atividade tão simples em muitos países, como tomar banho de sol de biquíni, aqui é preciso viajar quilômetros para chegar ao meio do deserto e que ninguém a veja”.
O presidente iraniano Hassan Rohani, desde 2013, é considerado um reformista. Os defensores dos direitos das mulheres no Irã apoiaram sua reeleição em maio de 2017, mas agora criticam a ausência de medidas para melhorar a situação.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.