Crise no Irã se agrava e número de mortos em protestos de rua chega a 20
Um menino de onze anos está entre as pessoas que perderam a vida; 450 foram detidas desde sábado
A crise desencadeada no Irã pelos protestos contra os líderes da República Islâmica se agravou nesta segunda feira, 1o de janeiro, com manifestações e o anúncio de que outras nove pessoas (seis manifestantes, um menino de 11 anos, um policial e um integrante da Guarda Revolucionária) foram incluídas no número de mortos, que já são mais de 20, segundo a televisão estatal. Fontes oficiais indicaram que pelo menos 12 pessoas, incluindo um policial, perderam a vida em diversos incidentes no domingo.
Seis manifestantes morreram em confrontos com as forças de segurança quando tentavam ocupar uma delegacia da cidade de Qahderijan, na província de Isfahán, informou a televisão. Um menino de 11 anos morreu e seu pai ficou ferido por disparos de manifestantes em Khomeyni Shahr, ainda segundo a fonte, enquanto um membro da Guarda Revolucionária, a força de elite iraniana, morreu vítima de um tiro de rifle de caça em Kahriz Sang.
Centenas de pessoas foram presas nos últimos dias em todo o país. A TV estatal indicou que centenas foram detidas na noite de segunda-feira na província de Isfahán. Somente em Teerã, cerca de 100 manifestantes foram presos na segunda, segundo fontes oficiais citadas pela Reuters. Na capital, o total de presos desde sábado chega a 450.
O presidente iraniano, Hasan Rouhani, tentou enviar uma mensagem de unidade num momento de extrema tensão. Após cinco dias seguidos de protestos e distúrbios nas ruas da maioria das cidades do país, na segunda-feira a situação piorou quando os meios de comunicação oficiais informaram sobre a morte de pelo menos 12 manifestantes em várias localidades. Um policial também morreu e três ficaram feridos em confrontos na localidade de Najafabad (centro do país).
Rouhani convocou uma sessão extraordinária com os chefes das Comissões do Parlamento. “Os protestos recentes parecem ser uma ameaça, mas são uma oportunidade que temos de ver qual é o problema”, declarou o presidente, de acordo com o jornal Tehran Times, num gesto para acalmar os setores sociais que, indignados com os casos de corrupção e a falta de direitos, realizaram intensos protestos nos últimos cinco dias no país inteiro.
Ao mesmo tempo, o mandatário pediu “ao povo iraniano que não permita que uma pequena minoria blasfema se infiltre em suas fileiras”, o que abre o caminho para reações mais violentas das forças de segurança contra os manifestantes. Em Qazvin, a oeste da capital, ouviram-se disparos.
Nas ruas centrais de Teerã, como vem ocorrendo nos últimos dias, a presença policial foi constante frente a novos protestos e concentrações. Na praça Ferdowsi, no centro da capital, os manifestantes incendiaram vários carros. Na rua Felestin, atearam fogo a caçambas de lixo. As unidades antidistúrbios detiveram dezenas de pessoas.
“Esses protestos não vão a nenhum lugar”, manifestava Alireza, um estudante da Universidade de Teerã que tentava se salvar em meio ao ambiente de tensão na rua Karegar. São muitos os cidadãos que têm essa opinião. Apesar das exigências de melhoras econômicas e outras reformas, eles não estão dispostos a arriscar a vida enquanto não puderem vislumbrar uma saída concreta para os problemas.
Sociedade polarizada
“Espero que as autoridades ouçam os gritos das pessoas e mudem de política. É uma pena que as coisas cheguem a esse extremo, como aconteceu na Síria e no Iraque”, disse Siavash, um engenheiro civil que ia buscar a filha numa academia na rua Zartosht, centro de Teerã.
Os iranianos acompanham com prudência a evolução dos protestos dos últimos dias. São muitos os que não estão contentes com a situação do país, mas têm na memória os conflitos internos da Síria e do vizinho Iraque.
O Ministério de Inteligência advertiu, nesta segunda, que “as concentrações dos últimos dias que procuravam expressar algumas das exigências deram oportunidade à presença de alguns elementos suspeitos e violentos para provocar agitações e tumultos, que causaram prejuízos humanos e materiais”. E acrescentou: “Alguns dos agitadores e instigadores foram reconhecidos e detidos.”
Ao mesmo tempo, alguns usuários de redes sociais afirmam ter recebido mensagens de escritórios provinciais dos serviços secretos advertindo contra a participação nos protestos.
Em muitas cidades do Irã, também houve manifestações de apoio ao sistema islâmico e de repúdio aos atos de protesto, atribuídos a “agentes estrangeiros”, “inimigos do islã” e “ignorantes”. As manifestações são o sinal do fracasso das políticas do sistema para unificar e aproximar os diferentes setores sociais, expondo a polarização da sociedade iraniana.
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