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Trump acende o pavio com uma ofensiva verbal contra Paquistão, Palestina, Irã e Coreia do Norte

Ofensas mostram um presidente disposto a estimular a instabilidade nos centros nevrálgicos do planeta

Jan Martínez Ahrens

O mundo é um lugar cheio de dinamite e Donald Trump está disposto a acender todos os pavios. O presidente dos Estados Unidos começou 2018 com uma ofensiva desenfreada pelo Twitter destinada a sacudir o Paquistão, os territórios palestinos, o Irã, a Coreia do Norte e até mesmo o delicadíssimo botão nuclear. Uma enxurrada verbal que, depois de quase um ano no poder, mostra o ocupante da Casa Branca em uma campanha permanente, sem barragens de contenção e disposto a estimular a instabilidade nos centros nevrálgicos do planeta.

Donald Trump, em um comício em Pensacola, em 8 de dezembro
Donald Trump, em um comício em Pensacola, em 8 de dezembroCarlo Allegri (REUTERS)
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Todas as mensagens de Trump apontam na mesma direção. Apesar de sua disparidade geográfica, sempre assumem as teses mais duras dos falcões republicanos. Ou seja, rompem pontes, ameaçam equilíbrios de alta complexidade e pulverizam o legado diplomático de Barack Obama. São o canto de poder de um presidente excessivo, que no caso de seu desafio ao tirano norte-coreano –“meu botão nuclear é muito maior e mais poderoso do que o dele”– chegam à caricatura.

O primeiro disparo da série foi recebido pelo Paquistão. Trump começou o ano enviando um amargo e inesperado ataque que coloca no ponto mais alto a desconfiança de Washington em relação a Islamabad. Uma distância que já fora registrada em 2011, quando os paquistaneses não foram sequer informados da operação contra Osama Bin Laden, e que seis anos depois se cristalizou no congelamento de 255 milhões de dólares (cerca de 825 milhões de reais) de ajuda militar. “Os Estados Unidos proporcionaram de forma estúpida mais de 33 bilhões de dólares ao Paquistão nos últimos 15 anos e eles nos deram apenas mentiras e falsidades, fazendo nossos líderes de idiotas”, tuitou Trump.

Um castigo semelhante caiu sobre os palestinos. “[...] Pagamos centenas de milhões de dólares por ano aos palestinos e não recebemos apreço nem respeito. Eles não querem sequer negociar um tratado de paz com Israel [...] por que temos de fazer esses pagamentos maciços?”, disse Trump em referência aos 623 milhões de dólares que Washington destina de diferentes maneiras aos territórios palestinos.

A ameaça ao Paquistão e aos palestinos, que dá motivos para enturvar águas já agitadas, foi acompanhada por uma reviravolta em relação ao Irã. Ao contrário da atitude evasiva mantida por Obama nas revoltas maciças de 2009, o atual presidente dos EUA se lançou em apoio aos protestos que estremecem o país há uma semana. Em um cenário com dezenas de mortes e uma forte incerteza, Trump aproveitou a oportunidade para atacar com dureza o regime dos aiatolás e criticar duramente o acordo nuclear. “O povo do Irã está finalmente agindo contra o regime brutal e corrupto. Todo o dinheiro que o presidente Obama lhes deu de maneira insensata foi para o terrorismo e para os bolsos deles. As pessoas têm pouca comida, muita inflação e carecem de direitos humanos. Os Estados Unidos estão vigiando!”, tuitou.

A manobra permite que Trump cumpra uma de suas constantes políticas: fugir de tudo o que cheire a Obama. Em 2009, quando se desencadearam os protestos contra uma suposta fraude eleitoral na reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, a Casa Branca deu as costas aos manifestantes. Esse desapego diante de um movimento maciço e com fortes vínculos nas elites moderadas iranianas desatou a ira dos republicanos norte-americanos.

Agora, o presidente decidiu apostar na revolta. É uma jogada arriscada. Não só dá argumentos ao regime para culpar o inimigo externo, como, segundo indicam os especialistas, dificilmente obterá simpatias em um país que sentiu a imensa humilhação do veto migratório. Mas tem um sentido estratégico: oferece a Trump uma via para acabar com o acordo nuclear de 2015. Um passo que ele não se atreveu a dar em outubro e que, neste momento, é mais possível do que nunca. “Se o regime continuar matando pessoas nas ruas, é difícil pensar que Trump irá prorrogar o acordo”, disse um porta-voz do Conselho Nacional de Segurança. A ameaça é clara, e o jogo, perigoso. Trump perdeu o controle.

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