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Evo Morales rompe cerco esquerdista a Michel Temer e faz visita a Brasília

Após não reconhecer a gestão do brasileiro, o presidente boliviano assina atos por ferrovia continental É o primeiro do eixo bolivariano a normalizar de fato relações com o Governo do Brasil

Evo Morales e Michel Temer, no Palácio do Planalto.
Evo Morales e Michel Temer, no Palácio do Planalto.ADRIANO MACHADO (REUTERS)
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Sob o comando de Evo Morales, o Governo da Bolívia foi um dos primeiros a não reconhecer a gestão de Michel Temer. Assim que este assumiu a presidência do Brasil com o impeachment de Dilma Rousseff, o embaixador boliviano em Brasília foi convocado de volta ao seu país. Era um sinal de um dos países identificados como do eixo bolivariano na América do Sul de que não aceitariam a gestão. Nesta terça-feira, um ano e quatro meses após a oficialização do afastamento de Rousseff, Morales se reuniu com Temer para tentar passar um sinal político: apesar das diferenças ideológicas, é possível trabalhar pela integração dos dois países.

A fala de Morales durante um brinde no almoço no Ministério das Relações Exteriores deixou isso bem claro. “A Bolívia precisa do Brasil para se industrializar”. Hoje, o Brasil é o principal comprador de toda a produção boliviana. Quase 20% de tudo o que o país andino exporta, é adquirido pelo Brasil. Conforme o Itamaraty, em 2016, o intercâmbio bilateral alcançou 2,8 bilhões de dólares (9,1 bilhões de reais).

E se a diplomacia é feita por meio dos sinais, a vinda do mandatário boliviano também demonstra o fosso diplomático no qual o Brasil está afundado. Desde que Temer preside o país, apenas cinco chefes de Estado ou de Governo fizeram uma visita oficial a ele. Além de Morales, estiveram em Brasília o paraguaio Horácio Cartes, o argentino Mauricio Macri, o espanhol Mariano Rajoy e o português Antonio Costa. Nenhum outro líder esquerdista, nem mesmo dos Governos tido moderados como o de Uruguai ou Chile, se aproximaram do Brasil. 

No encontro, os dois chefes de Estado assinaram um memorando de entendimento que trata do Corredor Ferroviário Bioceânico e um acordo internacional para a cooperação policial. A ferrovia é de interesse de empresas chinesas e deverá cruzar o Brasil, partindo de Santos, e a Bolívia, até chegar no Oceano Pacífico, em território peruano. Quando e se entrar em operação, as exportações brasileiras que partem do porto de Santos rumo à Xangai demorariam 36 dias para chegar e percorreriam 18.651 quilômetros – uma economia de pelo menos 22 dias e 4.000 quilômetros, segundo os cálculos do Governo boliviano. Em uma segunda etapa ela passaria também pela Argentina e pelo Chile.

Já o acordo de cooperação visa, principalmente aproximar os dois países no combate ao tráfico internacional de drogas. A fronteira entre Bolívia e Brasil é uma das principais rotas de cocaína. Paralelamente, Temer e Morales também trataram da renovação da compra de gás boliviano pelo Brasil, um tema importante e complexo da relação. O atual acordo vence em 2019 e há uma tentativa de renová-lo por mais dez anos.

Durante a reunião, Temer evitou entrar em uma seara cara para Morales, a tentativa do boliviano se reeleger pela terceira vez. Na semana passada, um grupo de opositores de Evo Morales enviou uma carta ao presidente brasileiro para que ele intercedesse na questão. Algo que Temer não fez. No último dia 29, a o Tribunal Constitucional da Bolívia suspendeu os artigos da Constituição que limitavam o número de reeleição a duas consecutivas. Morales está no cargo desde 2006, foi reeleito duas vezes e, pela regra que estava vigente, não poderia se candidatar novamente em 2019. Agora, pode. A decisão do tribunal atropelou o resultado de um plebiscito, que proibia a terceira reeleição.

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