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Corrupção e propina no futebol uniram Globo, Marin e Del Nero, diz delator

Empresário argentino diz que emissora pagava propina aos cartolas para obter direitos de transmissão

Uma delação premiada no caso que investiga a Fifa na Justiça norte-americana respingou na rede Globo, um dos maiores grupos de comunicação da América Latina. O empresário argentino Alejandro Burzaco, ex-diretor da empresa de eventos esportivos Torneos y Competencias, afirmou na terça feira em depoimento à Justiça dos Estados Unidos que a emissora pagou propinas para conseguir direitos de transmissão de campeonatos de futebol. As autoridades americanas investigam um esquema de corrupção envolvendo a Fifa  e outras federações de futebol, apelidado de Fifa Gate. O dinheiro pago pela Globo teria sido destinado a altos executivos da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da Confederação Sul-Americana de Futebol, a Conmebol, responsável por campeonatos como a Copa Libertadores da América e a Copa América. A informação foi divulgada em primeira mão pelo site Buzz Feed News. O delator não mencionou quais os valores pagos pela empresa.

Alejandro Burzaco
O delator Alejandro Burzaco em imagem de arquivo.ANDREW GOMBERT

Ao ser indagado pelo promotor quais grupos de mídia teriam participado do esquema, o empresário argentino citou "Fox Sports dos Estados Unidos, Televisa do México, Media Pro da Espanha, TV Globo do Brasil, Full Play da Argentina e Traffic do Brasil". Segundo Burzaco, Marcelo Campos Pinto, então diretor do departamento esportivo da Globo, teria negociado com os cartolas o pagamento da propina. A reportagem não conseguiu entrar em contato com ele, que deixou a emissora em 2015.

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Mas a emissora não foi a única atingida pelo depoimento de Burzaco. Além da Globo, que nega qualquer irregularidade, o delator também implicou dois ex-presidentes da CBF (José Maria Marin e Ricardo Teixeira), e o atual mandatário, Marco Polo Del Nero. O primeiro já responde a processo nos EUA por sua participação no esquema de corrupção envolvendo empresas de marketing e a CBF. Ele está em prisão domiciliar no país. De acordo com o delator, os três teria recebido pagamentos de um período que vai de 2006 a 2015. Os valores recebidos por cada um deles chegavam até a um 1 milhão de dólares (aproximadamente 3,3 milhões de reais) por campeonato cujos direitos de transmissão negociavam.

Del Nero, que não viaja aos Estados Unidos para evitar uma possível prisão, teria ganho importância no esquema após a morte, em 2014, de Julio Grondona, o poderoso ex-presidente da Associação Argentina de Futebol. O cartola brasileiro e Marin teriam até mesmo pedido um "aumento" no valor da propina paga em troca dos direitos de transmissão. "Marin me deu um abraço e fez um discurso de agradecimento. Del Nero abriu um caderno e anotou os valores. Os dois disseram que dariam instruções sobre como queriam receber o dinheiro", afirmou Burzaco.

Em nota, Del Nero afirmou que "nega, com indignação, que tivesse conhecimento de qualquer esquema de corrupção supostamente existente no âmbito das entidades do futebol a que se referiu". Segundo o cartola, "as investigações levadas a efeito naquele país [EUA] não apontaram qualquer indício de recebimento de vantagens econômicas ou de qualquer outra natureza por parte do atual presidente da CBF".

Ao site Globoesporte.com, Teixeira também negou ter recebido dinheiro, e disse ainda “quem acusa tem que provar. Ele [Burzaco] tem que provar tudo isso”  Seu advogado não quis comentar as acusações de que seu cliente receberia uma espécie de mesada anual de 600.000 dólares (cerca de 2 milhões de reais).

Em nota lida em seus diversos telejornais, a emissora afirmou que "não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina". "Após mais de dois anos de investigação [a Globo], não é parte nos processos que correm na Justiça americana". A assessoria da rede disse ainda que "em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos". Por fim, o texto afirma que "o grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas", e que para a empresa esclarecer o ocorrido é "questão de honra".

A Fox Sports, também mencionada pelo delator, afirmou em nota que “qualquer menção em relação a que Fox Sports teve conhecimento ou aprovou subornos é absolutamente falsa".

Citado por delator se suicida na Argentina

Na Argentina as declarações de Burzaco tiveram um impacto devastador para um dos citados. O advogado Jorge Delhon, ex-integrante do Governo de Cristina Kirchner, cometeu suicídio se jogando nos trilhos de uma linha do metrô poucas horas após ter sido mencionado pelo delator. Ele havia participado do programa Futebol Para Todos, uma iniciativa da ex-presidenta para nacionalizar a transmissão das partidas.

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