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A repentina demissão de Emily Lima, primeira mulher a comandar a seleção feminina de futebol

Depois de romper hegemonia masculina, treinadora é demitida com menos de um ano no cargo

Emily Lima foi demitida da seleção nesta sexta-feira.
Emily Lima foi demitida da seleção nesta sexta-feira.Divulgação
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Durou apenas 10 meses a trajetória de Emily Lima à frente da seleção feminina de futebol. Nesta sexta-feira, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) demitiu a treinadora do cargo que havia assumido em novembro do ano passado. Em 13 jogos, Emily somou sete vitórias – conquistadas em suas primeiras sete partidas –, um empate e cinco derrotas. Os tropeços nos últimos compromissos da seleção, diante de adversárias mais fortes, como Alemanha, Estados Unidos e Austrália, que chegou a golear o Brasil por 6 a 1, foram determinantes para a demissão.

Embora se trate de uma categoria feminina, Emily Lima se tornou a primeira mulher a dirigir a seleção após três décadas de dinastia masculina no comando. Treinadores renomados como René Simões e Vadão, que antecedeu Emily no posto, já sentaram no banco de reservas da seleção, mas sentiram dificuldades comuns a todos os outros: falta de investimento de longo prazo no futebol feminino e escassez de clubes com estrutura profissional para mulheres, ainda bem distante das condições oferecidas aos homens. No entanto, ao contrário dos últimos cinco técnicos da equipe, Emily foi a única que não teve oportunidade de completar ao menos um ano de trabalho.

Somente no início da tarde, a CBF confirmou o desligamento da técnica, sem entrar em detalhes sobre os motivos. Pela manhã, a jornalista Lu Castro havia revelado a demissão. Em entrevista ao site da ESPN Brasil, o coordenador de futebol feminino da seleção, Marco Aurélio Cunha, também não especificou as razões para abreviar o trabalho de Emily, mas deixou clara sua divergência com métodos de trabalho da treinadora. “Não sei se existe lobby por técnico homem, mas acho bem difícil outra mulher assumir o cargo”, disse Emily. O mais cotado para a função é o próprio Vadão, que retornaria ao comando menos de um ano depois de sua saída.

Emily chegou à seleção após a equipe ficar em quarto lugar na Olimpíada, apresentando um futebol pouco vistoso sob a batuta de Vadão. Como explicou em entrevista ao EL PAÍS, ela tinha como missão não só resgatar o bom desempenho em campo, mas, sobretudo, contribuir para a valorização da modalidade feminina no país. Dirigentes da CBF se incomodavam com sua maneira de conduzir o processo. Ela fazia questão de definir um calendário de jogos para a seleção e enfrentar adversárias mais qualificadas, ao mesmo tempo em que abria espaço para revelações como Gabi Nunes e Juci conviverem com as experientes Marta e Cristiane – algo que até mesmo seus críticos admitem como um avanço.

Jogadoras manifestaram apoio a Emily nas últimas horas. A técnica tem forte ligação com atletas e dirigentes de clubes, além de compreender a realidade do futebol feminino no Brasil, já que, antes da principal, trabalhou nas seleções de base e teve grande êxito à frente do São José, onde foi vice-campeã da Copa do Brasil. Prestes a completar 37 anos, a ex-volante fez cursos para se tornar treinadora na Europa e na própria CBF. Um cartel insuficiente, pelo menos na visão dos cartolas da entidade, que não tem nenhuma mulher em sua diretoria, para fazer de Emily a primeira mulher a consolidar um ciclo olímpico à frente da seleção feminina.

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