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Onde foi parar o dinheiro de Escobar?

A Justiça argentina investiga sua viúva e seu filho por lavagem de dinheiro do tráfico

Juan Pablo Escobar em Buenos Aires, em uma foto de arquivo.
Juan Pablo Escobar em Buenos Aires, em uma foto de arquivo.Telam
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O que aconteceu com a fortuna de Pablo Escobar Gaviria, um dos homens mais ricos do mundo? Sua mulher Victoria e seu filho Juan Pablo deveriam herdá-la. Mas Juan Pablo, que escreveu dois livros sobre a vida com seu pai, o traficante mais famoso do planeta, afirmou em uma recente entrevista ao EL PAÍS que eles nunca viram um só dólar após a morte do patriarca, em 1993. Ele afirma que o cartel de Cali ficou com tudo, em troca de não matá-los.“Eu fui com minha mãe a essas reuniões. Exigiram que entregássemos todos os bens como parte do butim de guerra. A exigência era simples: se esconderem uma só moeda, iremos matá-los. Assim salvamos nossa vida. Voltamos a ser ninguém”, afirmou.

Mas essa história começou a ser colocada em dúvida na Argentina, onde a família de Escobar vive de forma discreta desde que fugiu da Colômbia para salvar a vida. Os investigadores argentinos encontraram um documento que parece uma ligação entre os Escobar e a lavagem de dinheiro na Argentina de um conhecido traficante colombiano, Piedrahita Ceballos. É uma espécie de contrato encontrado na casa do empresário argentino Mateo Covo Dolcet, suspeito de ser o rosto visível dos negócios de Piedrahita Ceballos na Argentina. O texto diz que os Escobar receberam uma comissão por seu trabalho de intermediação entre Covo Dolcet e o traficante colombiano. Juan Pablo Escobar não respondeu ao pedido do EL PAÍS para dar a sua versão.

A família Escobar vive desde 1994 na Argentina, onde chegou oito meses após o assassinato de Pablo Escobar em Medellín. A viúva e os dois filhos do traficante acertaram com o Governo da Colômbia uma troca de identidade e com seus novos nomes chegaram a Buenos Aires, após uma tentativa fracassada de entrada na Alemanha. Em 1999, Henao foi presa em Buenos Aires por lavagem de dinheiro, mas a causa foi uma escandalosa farsa que terminou com dois acusadores presos. A família sumiu depois no anonimato, até Juan Pablo decidir reaparecer com a publicação de dois livros sobre a vida de seu pai.

Escobar Gaviria e seu filho Juan Pablo em Washington, nos anos 80.
Escobar Gaviria e seu filho Juan Pablo em Washington, nos anos 80.Archivo

Juan Pablo afirma neles que a família chegou a Buenos Aires sem um só centavo. Também acusa a família de sua mãe de ficar com o dinheiro vivo que Pablo Escobar guardava em um local secreto para financiar o futuro de seus filhos quando já não estivesse presente. Os Escobar viveram então na Argentina como uma típica família de classe média, sem luxos, longe de qualquer problema relacionado ao tráfico. Até agora.

A rota do dinheiro de Piedrahita Ceballos em Buenos Aires levou ao empresário argentino Covo Dolcet e Covo Dolcet levou à viúva e ao filho de Escobar. Tudo começou com uma batida no Café Los Angelitos, um dos mais tradicionais e antigos de Buenos Aires, antes refúgio de Carlos Gardel e hoje cenário de espetáculos de tango para artistas. O lugar esteve prestes a desaparecer no ano 2000, quando Covo Dolcet o comprou e o reformou durante sete anos. Agora suspeita-se que o dinheiro investido era de Piedrahita Ceballos. A ligação entre o empresário argentino e o traficante colombiano foram, segundo suspeitas da Justiça argentina, Juan Pablo Escobar e sua mãe.

Piedrahita Ceballos está preso na Colômbia por lavagem de dinheiro. Somente na Argentina investiu mais de 15 milhões de dólares (47 milhões de reais) na construção de um bairro particular, um edifício de moradias e garagens no norte de Buenos Aires e o café para turistas. Como consta no processo realizado pela Justiça colombiana, tinha ligações com Don Berna, ex-chefe dos laboratórios de Pablo Escobar. Na Argentina acredita-se que dessa relação surge a possibilidade de que os descendentes de Escobar sejam os responsáveis pelos investimentos de Piedrahita Ceballos na Argentina. E que o pagamento por esses serviços não se limitou a uma simples comissão de 4,5% dos investimentos.

Na Unidade de Informação Financeira (UIF) suspeitam que parte do dinheiro que o colombiano transferiu à Argentina era na realidade da família Escobar, mas camuflado sob a forma de um pagamento por mediação. “Pablo Escobar era a maior autoridade do cartel de Medellín, de estreitas ligações com Piedrahita Ceballos. Não se pode descartar que parte do dinheiro injetado por Piedrahita Ceballos fosse de propriedade de Santos Caballero e de Marroquín Santos”, diz o texto apresentado pela UIF para que a Justiça interrogasse os herdeiros de Escobar. A investigação está no começo, mas pode ser o fim da segunda vida que os Escobar construíram em Buenos Aires.

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