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‘O rei do pornô’ oferece 10 milhões por informações para destituir Trump

O responsável pela revista pornográfica ‘Hustler’ publica um anúncio de página inteira com sua oferta de recompensa para propiciar um impeachment presidencial

Larry Flynt, em 2011.
Larry Flynt, em 2011.Katy Winn (AP)

É um anúncio de página inteira no The Washington Post deste domingo. Há dois trechos com letras maiúsculas enormes que se sobressaem: 10 milhões de dólares e Donald J. Trump. O provocador Larry Flynt e a revista pornográfica Hustler, da qual é fundador, estão fazendo esta “oferta em dinheiro vivo” em troca de “informações que levem ao impeachment e a destituição” do atual presidente dos Estados Unidos. O anúncio fornece um número de telefone e um e-mail. As informações coletadas, segundo o texto, serão mantidas em estado “confidencial”.

A especulação sobre um impeachment de Trump há meses sobrevoa Washington desde as revelações de seus laços com a Rússia, mas parece um cenário improvável dado que os republicanos controlam o Congresso e por enquanto não há provas de irregularidade. Há um homem fundamental nesse debate: Robert Mueller. O ex-diretor do FBI e atual fiscal especial que está investigando a trama russa é quem deve determinar se Trump cometeu ou não um crime de obstrução de justiça ao despedir James Comey como diretor do FBI. Comey liderava os inquéritos sobre os laços entre os associados mais próximos do presidente e Moscou. Mueller também deve esclarecer se o presidente republicano contou com a ingerência russa em sua campanha eleitoral, mas ainda está na fase inicial de sua investigação.

A estratégia publicitária de Flynt, fundador da Hustler e produtor de filmes pornográficos desde 1998, não é tão surpreendente. O editor, que apoiou a democrata Hillary Clinton nas eleições de 2016, já publicou em 2007 um anúncio no Post no qual pedia informações sobre pessoas que tivessem tido algum encontro sexual inapropriado com algum congressista ou membro do Governo. Em 1998, publicou um anúncio muito semelhante, e especula-se que isso resultou na renúncia do congressista republicano Bob Livingston, que pretendia alcançar a cúpula do Congresso.

No anúncio sobre Trump, Flynt analisa uma corrente de supostas irregularidades durante a eleição e desfia vários motivos pelos quais acredita que o atual presidente é um perigo para os Estados Unidos. “Há provas sólidas de que a última eleição foi ilegítima de muitas maneiras e que, após nove meses tumultuados no cargo, Trump demonstrou ser perigosamente inepto”, escreve. Ele recorda que Trump não venceu o voto popular, mas apenas no voto do colégio eleitoral – a tradução de votos segundo o peso demográfico de cada Estado. Flynt alega ainda que o republicano poderia ter se beneficiado do rearranjo de distritos eleitorais, de leis de supressão de voto e da suposta ingerência russa para ganhar o pleito mediante a divulgação de informações comprometedoras sobre Clinton.

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A possibilidade de um impeachment de um presidente, vice-presidente e qualquer pessoa em um cargo público civil está prevista na Constituição norte-americana. Mas sua interpretação é ampla: pode ser impulsionada diante do que se considera como casos de “traição, suborno, altos crimes ou falhas”. E é necessário um consenso significativo: a Câmara dos Representantes deve aprovar por maioria a destituição e o Senado tem que respaldar essa decisão com o apoio de dois terços do  plenário.

Só houve dois processos de impeachment contra um presidente norte-americano. Os dois eram democratas e a votação não avançou no Senado: Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinon, em 1998. Em 1974, o Congresso iniciava os preparativos para tentar destituir o presidente Richard Nixon quando o republicano apresentou seu pedido de renúncia por causa do escândalo Watergate.

Em seu anúncio deste domingo, Flynt argumenta que há seis motivos legais que poderiam levar à apresentação de um processo de impeachment contra Trump: a coordenação com um “poder estrangeiro hostil”, em alusão à Rússia, e obstruir a Justiça com a demissão de Comey; encorajar um “conflito” violento com sua defesa de grupos racistas; conflitos de interesses pelo império empresarial do presidente; dizer “centenas” de mentiras; “nepotismo” e designação de pessoas não qualificadas para postos oficiais; e “sabotar” o Acordo de Paris contra as mudanças climáticas.

O anúncio é concluído assim: “Creio que é meu dever patriota e o de todos os norte-americanos expulsar Trump antes que seja tarde demais”.

Um personagem polêmico

EFE (Washington)

O homem conhecido como "rei do pornô" é um personagem polêmico, que jamas escondeu seus ideais liberais, como mostra em seu livro Sex, Lies and Politics: The Naked Truth ("Sexo, Mentiras e Política: A Verdade Nua e Crua", em tradução literal), publicado em 2005 e no qual criticava duramente o Governo de George W. Bush (2001-2009) por "violar as liberdades dos Estados Unidos".

Flynt, de 74 anos, vive preso a uma cadeira de rodas desde que foi baleado, em 1978, por um supremacista branco que não concordava com suas publicações pornográficas. Sua vida foi retratada nas telas em 1996 por Milos Forman, no filme O Povo contra Larry Flynt, estrelado por Woody Harrelson.

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