_
_
_
_

Rússia e Trump: entenda a trama pela qual se investiga o 45º presidente dos EUA

O que está sendo investigado? Por que há um promotor especial? O presidente cometeu crime?

Trump saúda à imprensa na Casa Branca
Trump saúda à imprensa na Casa BrancaMICHAEL REYNOLDS (EFE)

A Casa Branca vive um escândalo permanente. Sucedem-se revelações que cercam Donald Trump e forçam seus colaboradores a dar explicações constantes. As linhas são difusas, mas todas elas têm um padrão comum que se consolida cada vez mais: estão relacionadas a uma suposta conexão de pessoas próximas ao presidente com a Rússia. É a chamada trama russa de Trump que está sendo investigada pelo FBI, por comissões do Congresso e também por um investigador especial, Robert Mueller. O destituído diretor do FBI, James Comey, comparece nesta quinta-feira perante o Senado para detalhar as pressões a que foi submetido pelo presidente Trump.

Mais informações
A investigação da trama russa identifica um suspeito no círculo mais próximo a Trump
Trump reforça equipe para conter danos da trama russa
Crescem suspeitas sobre o genro de Trump na trama russa
Líder republicano em 2016: “Acredito que Putin pague a Trump”
Trump pressionou diretor do FBI para encerrar o caso Flynn
Ex-diretor do FBI James Comey depõe no Senado e acusa Trump de “mentir e difamar”

Estas são as chaves do caso:

O que está sendo investigado?

Os Estados Unidos acusam a Rússia de roubar emails do Partido Democrata divulgados pelo Wikileaks às vésperas das presidenciais de novembro com o objetivo de ajudar Trump a ganhar as eleições. Várias pessoas próximas a Trump têm vínculos com a Rússia. O FBI e o Congresso investigam se houve algum tipo de coordenação entre a equipe de Trump e o Governo russo na ingerência eleitoral.

Por que o diretor do FBI foi demitido?

Em 9 de maio, Trump demitiu James Comey como diretor do FBI. Comey coordenava a investigação da agência policial sobre os supostos laços entre a equipe de Trump e a ingerência russa durante a campanha. O presidente inicialmente afirmou que o demitiu por recomendação de Rod Rosenstein, o Secretário de Justiça adjunto, por causa da gestão que Comey fez do caso do servidor privado da democrata Hillary Clinton. Mais tarde, Trump admitiu que demitiria Comey de qualquer maneira e que as investigações sobre a Rússia influenciaram sua decisão.

Depois que deixou o cargo, Comey se tornou um pesadelo para a Casa Branca. O ex-diretor do FBI depõe nesta quinta-feira perante a Comissão de Inteligência do Senado e seu testemunho corrobora em público as acusações que pessoas próximas a ele têm vazado desde sua demissão: que Trump lhe pediu “lealdade” e que ele se negou a dá-la, e que também insistiu que encerrasse investigação sobre Michael Flynn, que foi o primeiro conselheiro de Segurança Nacional do presidente, por seus vínculos com a Rússia.

O ex-diretor do FBI James Comey depõe no Senado nesta quinta-feira.
O ex-diretor do FBI James Comey depõe no Senado nesta quinta-feira.MANDEL NGAN (AFP)

Qual é o papel de Michael Flynn?

O tenente-general aposentado foi um dos principais assessores de Trump durante a campanha. Após vencer as eleições, o republicano o nomeou como conselheiro de Segurança Nacional na Casa Branca. Mas Flynn só ficou 24 dias no cargo e se viu obrigado a pedir demissão, em 13 de fevereiro, depois de ser revelado que ele mentiu para o vice-presidente, Mike Pence, sobre o conteúdo de conversas mantidas em dezembro com o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak.

Os serviços de inteligência norte-americanos gravaram os telefonemas entre Flynn e Kislyak, algo habitual ao se tratar de um diplomata de um país rival. Nas gravações, descobriu-se que Flynn estava “enganando a opinião pública” e era suscetível a ser “chantageado” pelo Kremlin. Esse foi o argumento apresentando em 8 de maio pela ex-secretária de Justiça Sally Yates, que foi quem alertou a Casa Branca.

Desde sua demissão, soube-se que Flynn ocultou os detalhes dos pagamentos que recebeu de empresas russas e de um empresário turco antes das eleições, o que protegeu a opacidade sobre os laços estrangeiros do militar.

Por que o embaixador russo é tão importante?

Kislyak, um veterano diplomata russo e que muitos especulam ser um espião, conversou por telefone com Flynn em dezembro, quando já se sabia que em 20 de janeiro o general se tornaria o conselheiro de Segurança Nacional de Trump. Os dois supostamente falaram sobre as sanções impostas à Rússia em dezembro pelo governo de Barack Obama por causa dos cyberataques que os serviços de inteligência atribuem a Moscou.

Em julho e em setembro de 2016, o embaixador se reuniu com o então senador Jeff Sessions, que apoiava a campanha do republicano e que agora é o secretário de Justiça dos EUA, o que permite que ele aponte cargos judiciais. Sessions não revelou esses encontros quando foi submetido à aprovação pelo Senado. Depois que o fato foi revelado pela imprensa, em março, ele anunciou que se afastaria da investigação da trama russa e que o responsável por supervisioná-la seria seu número 2, Rosenstein.

O destituído diretor do FBI, James Comey, comparece nesta quinta-feira perante o Senado para detalhar as pressões a que foi submetido pelo presidente Trump

O que o secretário especial deve fazer?

Na enésima reviravolta, a imprensa revelou em 16 de maio – o que foi confirmado por Comey no Senado – que em 14 de fevereiro, um dia depois de despedir Flynn, Trump pediu que o FBI encerrasse a investigação de seu ex-conselheiro de Segurança, no que está sendo considerada como uma clara tentativa de intromissão. Comey se negou a fazer isso. A notícia reavivou a tempestade política.

No dia seguinte, o Departamento de Justiça anunciou que Rosenstein tinha decidido nomear um secretário especial para investigar a trama russa. Ou seja, uma figura independente que poderá apresentar cargos penais e que liderará as investigações diante da suspeita de que, após a demissão de Comey, tanto o FBI quanto a Justiça podem ser influenciados politicamente.

 “Um investigador especial é necessário para que o povo americano tenha total confiança nos resultados”, alegou Rosenstein. Trump ficou sabendo da decisão com pouca antecedência e não escondeu sua insatisfação. Disse ser objeto de uma “caça às bruxas”.

O escolhido foi Mueller, director do FBI de 2001 a 2013, um jurista veterano, perseverante e respeitado por democratas e republicanos. A figura do secretário de Justiça independente garante, pelo menos teoricamente, que a investigação chegará até o fim. Isso acrescenta riscos para a Casa Branca, mas também pode ser um alívio se nada irregular for encontrado. Paralelamente, seguem seu curso as investigações de diferentes comissões do Senado e da Câmara dos Representantes sobre a trama russa.

Trump e o embaixador Kislyak
Trump e o embaixador Kislyak

Trump fez algo ilegal?

Até agora não foi demonstrado que houve algum tipo de coordenação por parte de Trump ou de seu entorno com o ciberataque russo. “Não houve conivência minha nem da minha campanha, mas só posso falar por mim: com a Rússia, zero”, alegou o presidente no dia seguinte à nomeação do secretário oficial. Em seu testemunho, Comey confirma que Trump não estava sendo investigado e que o presidente negou ter cometido alguma irregularidade.

A revelação de que Trump pediu a Comey para o FBI parar de investigar Flynn pode ser interpretada como uma tentativa de obstrução da Justiça, o que é um crime. No entanto, para poder acusar o presidente de cometer esse crime seria necessário demonstrar que ele tinha uma intenção de obstrução da Justiça, o que é complexo de provar. Seriam necessárias provas claras sobre essa intenção.

Que papel tem o genro do presidente?

Jared Kushner, genro e um dos principais assessores de Trump, está sendo investigado pelo FBI por causa de um encontro que teve com o embaixador russo em dezembro – entre as eleições de novembro e a posse presidencial em janeiro. O marido de Ivanka Trump também se reuniu com Sergei Gorkov, do banco russo

Vnesheconombank, que foi objeto de sanções norte-americanas por causa das ingerências da Rússia na Ucrânia.

Segundo a imprensa norte-americana, na reunião com o embaixador na Trump Tower, em Nova York – da qual Flynn também participou -, Kushner propôs estabelecer um canal secreto e seguro de comunicação entre a equipe do presidente-eleito e o Governo de Vladimir Putin antes da posse de Trump. Tal canal nunca foi aberto.

O que dizem democratas e republicanos?

Os deputados democratas estão há semanas pedindo a criação de um cargo de secretário especial para investigar a trama russa. Estão satisfeitos com a nomeação, sentem que Trump está mais encurralado e alguns até falam em impulsionar um processo de impeachment contra o presidente.

Mas essa possibilidade parece distante já que é preciso haver motivos criminais e é necessário um apoio da maioria do Congresso. Atualmente, o Partido Republicano controla as duas casas. A maioria dos congressistas conservadores aplaudiu a nomeação de Mueller, mas sem duvidar da honestidade de Trump. De certa maneira, a designação do secretário pode ser um alívio para os republicanos que confiam que isso afastará os olhares da trama russa e lhes permita retomar o debate de sua agenda legislativa.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_