Governo catalão anuncia 90% de ‘sim’, 2,2 milhões de votantes e participação de 42% em referendo

Ida às urnas é inferior à anunciada pelo Governo regional no plebiscito de 2014, que teve 2,3 milhões de votantes

Turull, Junqueras e Romeva durante entrevista coletiva neste domingo.Quique García (EFE)

A Generalitat (Governo regional catalão) divulgou no final da noite deste domingo os resultados do referendo suspenso pelo Tribunal Constitucional. Seu porta-voz, Jordi Turull, afirmou que foram registrados 2.262.424 votos, equivalentes a 42% do total de eleitores habilitados (5.343.358). Turull ressaltou as circunstâncias difíceis sob as quais se realizou a votação e defendeu a realização do referendo. A participação, assim, terá sido inferior à registrada na consulta de 9 de novembro de 2014, que contou com 2,3 milhões de votantes. A abstenção seria de 58%, portanto majoritária, segundo os números da própria Generalitat.

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Não é possível, porém, tirar muitas conclusões a partir desses números. O referendo deste domingo carecia de garantias legais (houve inúmeros exemplos de pessoas que votaram várias vezes ou sem qualquer controle nem identificação), e o Governo regional não conseguiu explicar a origem dos dados de participação (que não puderam ser averiguados) nem o método utilizado na apuração, que também não se deu com garantias legais. Além disso, em 2014 o Estado não agiu no sentido de tentar impedir a votação, que na ocasião foi apresentada como não sendo de aplicação imediata, independentemente do resultado. Nos dois casos, os partidos constitucionalistas defenderam que o referendo fosse simplesmente ignorado.

Ainda de acordo com esses resultados, o sim à independência obteve neste domingo uma vitória acachapante entre a minoria que compareceu às urnas. A separação obteve 90% (2.020.144 votos), mas isso representa apenas 37,8% do suposto total de eleitores (um percentual que é até mesmo inferior, de 36,6%, se se considera o último censo eleitoral registrado legalmente na Catalunha, e menos de 27% da população, considerando que estrangeiros e menores de idade não têm direito de voto). O não obteve 176.666 votos (7% do total), segundo a apuração do Governo regional. Os votos nulos atingiram 0,89% e os brancos, 2% (45.686).

“Queremos agradecer à população da Catalunha, que tornou possível esta jornada tão difícil e tão dolorosa. Cumprimos com o mandato do Parlamento e tiraremos as consequências que os resultados impõem”, disse o vice-presidente catalão, Oriol Junqueras.

Turull afirmou que o fechamento de várias seções eleitorais por diferentes forças policiais impediu que 670.000 pessoas registradas nesses locais de votação fossem às urnas, embora esses eleitores pudessem também comparecer, sem controle, a quaisquer outras seções e embora a Generalitat tenha ao mesmo tempo declarado que praticamente a totalidade das seções (96%) puderam permanecer abertas.

Os números da apuração foram divulgados de forma global, sem detalhamento por províncias, comarcas ou municípios. Também não foram sendo divulgados à medida que avançava a contagem, como ocorre normalmente nos pleitos legais e homologados oficialmente. Neste caso, o anúncio do registro de pouco mais de dois milhões de votos foi feito de uma só vez, com 95% da apuração, embora os percentuais de votos publicados já superavam os 100%. Isso se deve, aparentemente, ao fato de a Generalitat ter esquecido de observar que os percentuais de sim, de não e de votos em branco são calculados sobre o total de votos válidos, ou seja, excluindo-se os nulos. Nas dez horas seguintes, não se divulgou mais nenhum dado da apuração.

O ex-presidente da Generalitat Artur Mas afirmou em junho último que seria muito importante que o comparecimento às urnas neste domingo fosse maior do que o de novembro de 2014. “É o que lhe conferirá todo o sentido e total legitimidade”, disse na ocasião. Os dados divulgados agora pela própria Generalitat mostram que, no fim das contas, esse desafio não foi vencido.

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