Os principais momentos que marcaram o referendo da Catalunha
Uma revisão dos fatos mais relevantes da consulta independentista deste domingo
A realização do referendo de independência na Catalunha, considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional da Espanha, gerou na comunidade autônoma momentos de tensão neste domingo, 1º de outubro, com centenas de feridos, um jogo de futebol realizado sem torcida e reações internacionais e nacionais. Segundo a Generalitat, o Governo catalão, a consulta contou com 96% dos locais de votação abertos. Mas ela ocorreu sem nenhuma das garantias mínimas para que o resultado seja considerado válido. Estas são as chaves que definiram este dia na Catalunha:
Abertura dos colégios
As escolas, centros médicos, ginásios e locais municipais habilitados pelo Governo da Catalunha para o referendo deste domingo abriram às nove da manhã, uma hora depois do previsto, devido às longas filas de pessoas que durante toda a madrugada ocuparam e dormiram nestes locais, para impedir que fossem fechados pela polícia espanhola. Às 5h, plena madrugada, começaram a chegar urnas e cédulas aos colégios, uma hora antes do aparecimento dos Mossos d'Esquadra, a polícia catalã. A força de segurança da Catalunha representava uma verdadeira incógnita ao primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy: apesar de estarem obrigadas pelo Tribunal Superior de Justiça da Catalunha a intervir e impedir a votação, não se sabia se, de fato, o fariam.
Segundo a Generalitat, 96% das mesas eleitorais abriram. A policial catalã até as 9h30 havia fechado mais de 90 pontos de votação e confiscado suas urnas, mas foi acusada pelas demais polícias federais de atuar pouco. Conflitos entre as forças policiais da Catalunha e do Governo central foram registrados em vídeos. A polícia catalã, em resposta às acusações dos sindicatos e das associações de policiais, se defendeu dizendo que sua atuação durante o domingo se ajusta ao ordenamento judicial.
Mudanças nas normas para votar
Poucos minutos antes da abertura das urnas, Jordi Turull, o porta-voz da Generalitat (como se chama o Governo da Catalunha), informava aos catalães que eles poderiam votar em qualquer colégio eleitoral, graças a um sistema informatizado de censo universal. Mas a Policia Civil bloqueou parte do aplicativo que dava acesso ao censo e limitou o acesso à Internet em vários colégios. Diante do impedimento, em algumas escolas foi preciso se anotar à mão o número do documento dos que conseguiam chegar até as urnas.
Como o app não funcionava, foram formadas longas filas de pessoas que não sabiam se poderiam votar antes do término do prazo previsto (20h da Espanha, 15h do Brasil). Segundo fontes policiais, o sistema informatizado que sustentava o censo universal era bastante rudimentar e estava alojado em um servidor da Amazon. Depois de um pedido à multinacional, ela cessou o serviço. A Generalitat tentou replicar a página em outros servidores, que também foram inabilitados.
Distúrbios e 761 feridos
A Policial Nacional e a Policia Civil, de acordo com o balanço do Ministério do Interior, conseguiram fechar neste domingo 92 colégios na Catalunha. Na tentativa das forças de segurança para eliminar os pontos de votação do referendo foram registrados conflitos com ativistas e repressão policial, com ao menos 761 pessoas machucadas, segundo o Sistema de Emergências Médicas da Generalitat (SEM).
Duas pessoas ficaram em estado mais grave: um homem foi ferido no olho com uma bala de borracha e outro sofreu um infarto quando um centro de votação era desativado pelas forças policiais. Os incidentes também provocaram ferimentos entre os agentes da polícia. Ao todo, 11, até o momento, após tentarem entrar nos colégios eleitorais para confiscar as urnas.
Entre os agredidos pelas atuações policiais está uma conselheira de Ensino, Clara Ponsatí, que explicou: "Me arrastaram e me deram golpes".
Rajoy: "fizemos o que tínhamos que fazer"
Em uma declaração institucional posterior ao fechamento das urnas, o presidente do Governo, Mariano Rajoy, responsabilizou a Generalitat pelos incidentes registrados e anunciou que comparecerá voluntariamente ao Congresso para debater sobre o desafio independentista. Também convocará todos os partidos (incluindo os nacionalistas) para enfrentar as consequências da consulta.
Horas antes, a vice-presidenta Soraya Sáenz de Santamaría pedia à Generalitat a cancelamento do processo e que assumisse o fracasso da consulta. "Peço que parem com essa irresponsabilidade e esta farsa".
Já o ministro do Interior, Juan Ignacio Zoido, pedia aos promotores do referendo ilegal, e em concreto ao presidente da Generalitat, que abandonassem seus objetivos. "Se queriam ter uma foto, já a conseguiram, agora que voltem a recuperar a razão".
"A vergonha à que chegou o Estado lhe acompanhará sempre"
Em uma declaração institucional, Carles Puigdemont, o presidente do Governo da Catalunha, denunciou a "nova operação de repressão" do Estado "contra a população que quer exercer seu direito de votar" e destacou que isso não impediu, ainda assim, que muita gente votasse. O líder catalão afirmou ainda que se "emocionava" com a "valentia de milhares de cidadãos que defenderam" os colégios e as urnas. "Violência contra civismo", e acrescentou que "a imagem no exterior do Estado espanhol continuou piorando e hoje chegou a níveis de vergonha que o acompanharão para sempre".
Outra das personalidades da política catalã que falou foi a prefeita de Barcelona, Ada Colau, que chamou de "covarde" o presidente do Governo, Mariano Rajoy, por "inundar de polícia" a capital catalã.
Un presidente de gobierno cobarde ha inundado de policía nuestra ciudad. Barcelona ciutat de pau, no té por #MésDemocracia @marianorajoy
— Ada Colau 💜🌈🔻 (@AdaColau) October 1, 2017
As fotos da repressão policial em todas as capas
Por volta das 10h (5h de Brasília) começaram a chegar às agências e aos meios internacionais mais importantes imagens da atuação da Policial Nacional e da Policia civil na Catalunha. A partir de então foram estas fotos de confrontos que protagonizaram todas as capas, que ao longo do dia se concentraram em informar sobre o número de feridos.
Políticos internacionais também criticaram o trabalho do Governo espanhol na Catalunha. Como o líder trabalhista na Grã-Bretanha, Jeremy Corbyn, que pediu à primeira-ministra, Theresa May, que peça a Mariano Rajoy que ponha fim à violência na Catalunha e encontre uma solução política a esta crise institucional.
O Barcelona joga com as portas fechadas
Diante da situação na Catalunha, a junta diretiva do Barcelona decidiu, depois da negativa da liga de adiar a partida deste domingo com o Las Palmas no Camp Nou, que o encontro se daria sem a presença do público. Nem todos os diretores do Barça estavam de acordo com a decisão e, pouco depois de se saber que se jogaria sem público, o vice-presidente do clube, Carles Vilarrubí, se demitiu.
Por sua vez, as federações catalãs de futebol e de basquete suspenderam “todas as partidas” das competições que organizam pela situação da Catalunha, com o objetivo de garantir a boa ordem das competições. Os teatros da Catalunha também suspenderam suas atividades do domingo “pela "indigna situação vivida no país".
I urge @Theresa_May to appeal directly to Rajoy to end police violence in Catalonia & find political solution to this constitutional crisis.
— Jeremy Corbyn (@jeremycorbyn) October 1, 2017
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