Lojas de departamento já não diferenciam entre roupas de meninos e de meninas
Rede britânica John Lewis elimina seções e lança linha de roupas “de gênero não específico”
Uma das maiores redes de lojas de departamento da Europa, a britânica John Lewis, tomou uma medida revolucionária, pioneira e igualitária em seu departamento de roupas infantis. De agora em diante, suas 48 lojas não fazem distinção entre roupas de meninos e de meninas. Segundo a imprensa britânica, a decisão da empresa, com 153 anos de história, responde ao desejo de “não reforçar os estereótipos de gênero”.
Para começar, de acordo com o The Independent, a rede eliminou a tradicional e até agora inevitável distinção entre as seções deles e delas, de modo que todas as roupas são expostas juntas e é o consumidor que decide se compra essa roupa para o filho ou a filha. Mas as mudanças são mais profundas do que aspectos meramente relacionados à organização e à apresentação: todas as roupas de 0 a 14 anos, incluindo vestidos e saias, são etiquetadas como neutras, com o texto Boys & Girls ou Girls & Boys.
We are absolutely thrilled by this announcement from John Lewis!
— LetClothesBeClothes (@letclothesbe) September 2, 2017
Alongside changes coming at Clarks Shoes, THIS... https://t.co/3mDf87A4vK
Embora o estilo da roupa não tenha mudado e os vestidos continuem sendo cor-de-rosa e floridos, a rede envia a forte mensagem de que o que até agora considerávamos para meninas ou para meninos pode ser usado por ambos os sexos, sem distinção.
Além disso, a rede lançou uma linha de roupas “de gênero não específico”, com desenhos pensados para ambos os sexos e com imagens tipicamente associadas à roupa infantil, como soldados de brinquedo, safáris, naves espaciais e dinossauros. A nova política do departamento de roupa infantil ainda não chegou à loja online da empresa ou ao departamento de uniformes escolares, mas isso acontecerá em breve.
“Não queremos reforçar os estereótipos de gênero em nossas coleções. Em vez disso, queremos oferecer mais variedade aos nossos clientes, para que o pai ou a criança possam escolher o que gostariam de usar”, diz em um comunicado Caroline Bettis, diretora de roupas infantis da John Lewis.
Outras grandes redes farão o mesmo? A influência da John Lewis não deve ser subestimada: é a terceira maior rede de lojas de departamento da Europa, atrás do El Corte Inglés e da Mark & Spencer.
As redes sociais se encheram de mensagens de louvor à empresa, entre elas a de Lauren Apfel, cofundadora e editora executiva da Motherwell, que disse que adora “ver essa etiqueta de gênero neutro”, e já se reivindica que o mesmo seja feito com a roupa de adultos. Os ativistas do grupo Let Clothes Be Clothes elogiaram o gesto e observaram que é a primeira empresa do mundo a fazer isso.
“É uma notícia fantástica e esperamos que outras lojas e varejistas caminhem na mesma direção. Uma camiseta deve ser apenas uma camiseta e não uma camiseta só para meninas ou para meninos”, diz o Let Clothes Be Clothes, que lembra que “as empresas independentes de primeira linha têm sido mais proativas na criação de coleções neutras em relação ao gênero”. Agora, esperam que o unissex chegue ao low cost. “Ainda vemos que muitos supermercados usam slogans estereotipados em suas roupas”, denunciam.
No entanto, algumas vozes críticas também se levantaram, como a do deputado conservador Andrew Bridgen, que afirma que “as etiquetas de meninos e meninas são informativas”. “Eu acho que ao eliminá-las podemos confundir muito o cliente. Parece que o politicamente correto continua avançando, mas não vejo muitos clientes comprando um vestido para seu filho de seis anos”, censurou.
O debate é global, pois redes de todo o mundo enfrentam críticas contínuas ao sexismo de desenhos, mensagens e comercialização de suas roupas. A Clarks retirou recentemente uma linha de sapatos em que a versão das meninas se chamava Dolly Babe (Bonequinhas) e a dos meninos Leader (Líder). A Gap também foi duramente criticada por uma campanha em que se referia às meninas como “borboletinhas sociáveis” e aos meninos como “pequenos eruditos”. No ano passado, foi muito difundido um vídeo em que uma garota britânica de oito anos criticava as frases estampadas em roupas da Tesco – “Linda” e “Eu me sinto fabulosa” diante de “A aventura no deserto te espera” e “Herói”.
Na Espanha, em 2015, a Zara retirou de suas lojas macacões que afirmavam que a bebê é “Pretty and Perfect – It’s what daddy said” (“Bonita e Perfeita – É o que o papai disse” e que o bebê é “Cool and Clever – It’s what mummy said” (“Legal e Inteligente – É o que a mamãe disse”). Um ano antes, a rede Hipercor retirou suas prateleiras duas roupas de bebê depois de receber acusações de sexismo. As roupas diziam “inteligente como o papai, bonita como a mamãe”.
O número de pais que tenta educar as crianças à margem dos estereótipos está crescendo e, nesse contexto, surgiu o fenômeno de vestir os filhos de princesa. Tudo começou com a cantora Adele, que em 2016 vestiu o filho Angelo, de três anos, com uma fantasia da princesa Elsa. Hoje podemos ver meninos Elsa nas festas de cidadezinhas espanholas de apenas cem habitantes.
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