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Trump muda o tom e condena Ku Klux Klan e os neonazistas: “O racismo é o mal”

Pressão obriga o presidente dos EUA a alterar seu discurso depois do ataque de Charlottesville e acusar diretamente os supremacistas brancos que o apoiaram

Amanda Mars
Donald Trump caminha para a Casa Branca nesta segunda-feira.
Donald Trump caminha para a Casa Branca nesta segunda-feira.NICHOLAS KAMM (AFP)

A pressão de sua própria Administração e de numerosos republicanos levou nesta segunda-feira o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a fazer uma retificação e condenar explicitamente os movimentos extremistas, como o da Ku Klux Klan (KKK) e os neonazistas, depois da tragédia ocorrida no sábado em Charlottesville (Virgínia) em razão das marchas de supremacistas brancos. “O racismo é o mal e aqueles que causam violência em seu nome são criminosos e matadores, incluindo a KKK, os neonazis e outros grupos de ódio, repugnantes a tudo o que queremos nos Estados Unidos”, disse Trump durante uma breve declaração na Casa Branca.

O presidente tinha recebido uma enxurrada de críticas por suas ambíguas palavras no sábado, depois que um motorista simpatizante do nazismo atropelou um grupo de manifestantes antifascistas e matou um deles, rejeitou “a violência de muitas partes”. Dois dias depois, chegou à condenação.

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A posição que havia adotado estava cada vez mais distante do restante de seu governo. O secretário da Justiça, Jeff Sessions, que tem um passado pontilhado de acusações de racismo, não teve problemas nesta segunda-feira em qualificar o ocorrido como terrorismo, como havia feito no dia anterior o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, o general H. R. MacMaster. “Encaixa-se na definição de terrorismo em nosso estatuto”, disse Sessions na rede ABC. No dia anterior, o vice-presidente, Mike Pence, também havia acusado diretamente os grupos extremistas, ao contrário de seu chefe: “Não se pode tolerar o ódio, a violência de grupos neonazistas, de supremacistas brancos ou da Ku Klux Klan”, enfatizou durante viagem à Colômbia.

Esta crise castigou Trump. A última pesquisa do Gallup sobre a popularidade do presidente, feita entre sexta-feira e domingo – com a polêmica sobre sua reação a Charlottesville em brasa –, coloca-o no ponto mais baixo de seu mandato. A taxa de aprovação geral caiu a 34%, um nível extraordinariamente baixo para um governante que não está lidando nem com recessão nem com guerra. Entre os republicanos, 79% o apoiam, 10 pontos abaixo do total quando chegou à Casa Branca, em 20 de janeiro.

Juiz nega liberdade sob fiança para o suspeito

O Departamento de Justiça abriu uma investigação federal de direitos civis em razão do ataque com um carro durante os distúrbios entre supremacistas e antifascistas. Trump confirmou a medida nesta segunda-feira depois de se reunir com o secretário da Justiça e o chefe do FBI, Christopher Wray. No mesmo dia, o juiz de Charlottesville encarregado do caso negou a liberdade sob fiança a James Alex Fields, o jovem de 20 anos, simpatizante dos neonazistas, detido como suposto autor do atropelamento em massa.

O grosso dos eleitores do empresário nova-iorquino em 8 de novembro era de republicanos, eleitores conservadores fiéis ao partido, mas entre seus seguidores figuram também grupos de ódio como o KKK e os neonazistas seduzidos pela guinada nacionalista que o agora presidente prometeu, bem como seus slogans contra a imigração. E Trump tem sido vacilante na hora de rechaçá-los. O ataque racista a Charlottesville e as 48 horas que levou para condená-lo é o caso mais famoso. Nos Estados Unidos estão registrados cerca de 900 grupos de ódio, mas normalmente eles se situam à margem da política, órfãos do foco midiático. Agora saíram das cloacas, leram a vitória de Trump como um reforço a sua tese e intensificaram marchas e atos públicos.

O presidente se encontrava nesta segunda-feira em Washington para tomar parte de reuniões de trabalho, como havia anunciado na semana passada, mas não fez a “grande coletiva de imprensa” da qual havia falado na sexta-feira. Nesse dia, previa-se que o tema principal da entrevista seria a escalada da tensão com a Coreia do Norte, mas a violência racista desatada em Charlottesville mudou a agenda. “Independentemente da cor de nossa pele, vivemos sob as mesmas leis, saudamos a mesma grande bandeira e fomos feitos pelo mesmo Deus”, ressaltou, diante dos jornalistas, que não puderam fazer perguntas.

Tinha acordado com a demissão de um dos altos executivos do conselho empresarial que o assessora na Casa Branca, o afro-americano Kenneth Frazier, da farmacêutica Merck. “Como executivo-chefe da Merck e por razão de consciência pessoal, sinto a responsabilidade de me posicionar contra a intolerância e o extremismo”, disse em um comunicado. O presidente reagiu ao ataque em sua conta de Twitter e escreveu com raiva: “Agora que Ken Frazier da Merck Pharma se demitiu do Conselho Manufatureiro Presidencial, terá mais tempo para baixar os preços extorsivos dos medicamentos!". Na rede social continuava fiel a seus rompantes.

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