Muito tempo sem estudar? Dicas para se preparar para concursos sem ficar louco
Segundo os especialistas, não adianta tentar se isolar e nunca parar para descansar Abin faz seleção em março para 300 vagas para nível médio e nível superior
Quer na Espanha ou no Brasil, as situações são semelhantes: milhares de pessoas se dedicam a estudar para concursos para garantir um emprego com salários melhores e, no caso brasileiro, estabilidade. Neste começo de ano, a notícia na área é o concurso da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), que em março selecionará ocupantes para 300 vagas abertas, com salários de até 16.000 reais.
Se estudar para concurso já é difícil, o suplício por si só que se torna ainda mais custoso se o candidato perdeu o hábito de estudar. Conversamos, na Espanha, com várias pessoas que enfrentaram concursos depois de anos sem estudar e foram aprovadas. Abaixo listamos seus conselhos, acompanhados da visão de especialistas.
1. Assuma que prestar concurso é um emprego
"Prestar concurso não é como ir à faculdade. Quando nos preparamos para estes exames, temos vidas mais complexas", diz a coordenadora da rede de preparação para concursos na Espanha, Bárbara Ibáñez. "A chave é encontrar um momento para estudar. Devemos ser constantes", acrescenta.
Meli González tinha 29 anos e dois filhos na primeira vez que concorreu a uma vaga nos Correios espanhóis. Estava há mais de uma década sem tocar em um livro. "Tinha muitas coisas para fazer e não consegui terminar de prepará-las como eu deveria". Seis anos depois, seus filhos tomavam a mesma porção do seu tempo, mas ela foi aprovada. "Eu preparei minha consciência, reservando um momento todos os dias. Estudei mais porque me organizei melhor", assegura.
2. Aprenda a estudar na era da Internet: evite distrações que antes não existiam
A maioria das pessoas que encaram concursos não tinham smartphones nas suas etapas acadêmicas anteriores. "Agora, elas o têm e se sentam para estudar com ele ao lado. Embora o mantenha silenciado, o mero fato de olhar para ele a cada cinco minutos prejudica a concentração. Evitar distrações é muito importante", diz o educador Eduardo Jevremovitch.
Alfonso García, de 42 anos, passou por este problema. Recentemente, foi aprovado para trabalhar como porteiro em um colégio na Espanha. "Estudei história quando era jovem, mas me dedicava à restauração. A coisa deu errado e decidi buscar algo mais estável", conta. O celular foi um pequeno obstáculo: "Era difícil não olhá-lo a cada instante. Minha família me dizia que estava viciado, então imagine o quanto olhava para ele enquanto estudava o que me entediava. No fim, decidi deixar o celular em casa quando ia para a biblioteca.
3. Use os recursos que a Internet oferece
Talvez haja mais distrações que antes, mas também há mais recursos ao alcance de qualquer um. E, principalmente, mais baratos. "Acredito que é a parte mais positiva da internet", diz Ana Jiménez, que, aos 37 anos, acaba de ser aprovada para trabalhar como auxiliar administrativa em um banco espanhol.
Passou quase toda sua vida produtiva em empresas privadas. "Trabalhava muitas horas, até 10 ou 12 por dia. Houve um momento em que tomei uma posição. Precisava de uma mudança, algo mais estável e que me tomasse menos tempo". Após dez anos sem estudar, decidiu se preparar para os concursos.
"Estudei enquanto ainda trabalhava. Foi muito difícil, não tinha vida, mas acredito que valeu a pena. A Internet me ajudou de uma maneira incalculável. Por exemplo, aprendi toda a parte de automação de escritório graças a vídeos do YouTube. Não fiz cursos, mas aprendi o que precisava para tirar uma nota nesta parte do exame. Também aperfeiçoei o inglês com vídeos da Internet. Quem dera houvesse isso quando estudava com 20 anos", comenta.
4. Busque apoio e companhia na jornada
Pilar García fez seu primeiro ano de direito aos 18 anos e o abandonou. "Eu me apaixonei, comecei a trabalhar e fiquei grávida". Foram 16 anos até que voltasse a estudar. Com 34, estudou em nível superior para hotelaria. Alternou empregos até que, com 50 anos, foi chamada para trabalhar como governanta em uma moradia pública para pessoas com diversidades funcionais na Espanha. "Para manter o emprego, anos depois, tive que passar por um concurso", afirma.
"Não tinha nenhum hábito de estudo. Foi muito difícil, mas encontrei ajuda no meu filho. Decidimos que prestaríamos juntos, ele no seu campo - design gráfico - e eu no meu. Nós nos incentivávamos para dedicar todo o tempo que tivéssemos". Ele não conseguiu o emprego, mas ela sim. Aos 58 anos, continua trabalhando no mesmo lugar.
5. Comece pelo mais fácil
"A maioria das provas tem uma parte que todo mundo odeia: a Constituição. Embora seja o primeiro tempo, nós sempre recomendamos que não se comece por aí", indica a já citada professora do MasterD. Não é aconselhável começar pela parte mais densa da matéria. É como se alguém que nunca leu um livro na vida começasse por Dom Quixote ou pelo Grande Sertão Veredas.
6. Evite o exagero
Recuperar o hábito de estudar é questão de três semanas, segundo o educador Eduardo Jevremovitch. "Se conseguimos repetir uma mesma rotina durante 21 dias, nós a convertemos em um hábito. Se o mantivermos durante 66 dias, chegamos a um ponto em que, por mais que não gostemos, fazemos sem problemas". Ao longo desse período, o ideal é que as horas de estudos aumentem de forma progressiva.
"Oito horas para aquecer o motor em poucos dias não serve para nada. A minha experiência é que o melhor é começar pouco a pouco e ir subindo até quatro ou cinco horas diárias", indica Raúl Torres, administrador de 33 anos. Após cinco anos sem estudar, retomou os livros e conseguiu emprego como administrador.
7. Prepare-se também psicologicamente
"Estudar é como andar de bicicleta, nunca se esquece". Esta é a premissa que o educador Eduardo Jevremovitch propõe a seus alunos assim que entra em contato com eles. "O maior obstáculo para as pessoas que estão há vários anos sem estudar é o desânimo. Não se acham capazes. Os jovens dizem que os mais velhos têm experiência demais, e os mais velhos que não conseguirão competir com os mais jovens", comenta.
Diego Contreras encarou essa situação. Trabalhou durante 14 anos em um estúdio de arquitetura e a crise o enviou ao desemprego em 2010. Tinha 38 anos. "Não sabia o que fazer. Passei um par de anos em trabalhos temporários até que comecei Educação Especial". Fez a prova à distância, enquanto continuava trabalhando. "Com a idade, você fica mais pragmático. Houve momentos em que pensei que qualquer jovem faria melhor que eu, mas acabei conseguindo um emprego em Madri", afirma. Aos 45 anos, estreará como professor.
8. Coloque metas
Na opinião de Jevremovitch, o mais importante é "ter uma meta muito clara". "A primeira coisa que trabalhamos com nossos alunos é a eliminação da linguagem negativa. Não queremos escutar um 'não posso'. Ajudamos a visualizarem a meta. É muito mais fácil alcançá-la do que parece", acrescenta.
Aos 45 anos, Pedro García, natural da cidade espanhola de Málaga, confirma a importância deste detalhe. "Não pode perder o foco em nenhum momento. Aconteceu comigo na minha primeira tentativa. Eu via o exame como algo muito distante, a muitos meses. Em vez de estabelecer pequenas metas diárias, fiz um esforço brutal na reta final que não me ajudou em nada". Na segunda tentativa, mudou de atitude e conseguiu uma vaga como zelador de um hospital. "Compartilhar suas metas com amigos e familiares é sempre uma boa ideia. Assim, nos comprometemos a cumpri-las", comenta Ibáñez.
9. Encare o desânimo de ser reprovado
Ser reprovado está dentro das possibilidades. Alberto Quintana, de 27 anos, está justamente neste momento da vida. Acaba de concorrer pela segunda vez para professor e foi reprovado. Na primeira ocasião, foi aprovado, mas não conseguiu o emprego. "Dá vontade de parar de tentar, mas de que adianta isso?", afirma. Ele não havia ficado tanto tempo sem estudar antes dos exames como as pessoas que mencionamos antes. "Na primeira vez, fui muito melhor porque não estava trabalhando. Desta vez, dividi os concursos com meu emprego em um colégio e não fui bem. Não vou deixar de tentar", diz Quintana.
Alberto Chacón, militar de 29 anos, não se deixou levar pelo desânimo: "Na primeira vez que fiz a prova, estudei durante três meses. Reprovei. Não sabia se voltaria a concorrer, mas o fiz, preparando-me de verdade, e consegui. O mais importante é se considerar capaz".
10. Ignore as comparações
"Tape os ouvidos", diz Ainhoa Fernández, que, aos 26 anos, acaba de concorrer pela segunda vez ao cargo de professora. "Não tem que se comparar com ninguém, nem se preocupar com quantas horas a mais está estudando que os outros, ou olhar grupos de Facebook, ou dar bola para os pessimistas". Está esperando a sua nota após fazer o concurso de Ensino Fundamental da Comunidade de Madri.
O professor madrilenho amplia o conselho: não se deixe intoxicar pelos concurseiros, tampouco pelos gurus dos exames, que antecipam matérias ou número de vagas.
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