_
_
_
_

Reforma trabalhista vai para votação final no Senado após novas concessões do Governo

Para convencer senadores, Temer escreveu carta se comprometendo a fazer alterações por MPs

Senador Antonio Anastasia, Presidente da CCJ, senador Edson Lobão e Relator Romero Jucá na votação da reforma trabalhista.
Senador Antonio Anastasia, Presidente da CCJ, senador Edson Lobão e Relator Romero Jucá na votação da reforma trabalhista.Antonio Cruz (EBC)

O Governo de Michel Temer conseguiu passar pela primeira prova de força após as denúncias de corrupção feitas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente. Depois de mais de 13 horas de sessão, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, por 16 votos a 9, o relatório governista da reforma trabalhista do senador Romero Jucá (PMDB), que endossa o texto aprovado na Câmara. Sob protestos da oposição, a comissão autorizou também o regime de urgência para o projeto ir para plenário. A votação no Senado pode acontecer já na próxima semana, segundo o presidente da Casa, Eunício Oliveira.

Essa é a terceira comissão no Senado pela qual passou o texto da reforma. Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) o parecer foi aprovado, enquanto na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) ele foi rejeitado para surpresa do Governo. Diante do risco de um novo revés na votação nesta quarta, a gestão de Temer teve que fazer novas concessões e propor uma acordo para convencer os senadores a aprovarem a proposta. O líder do governo no Senado Federal, Romero Jucá (PMDB/RR), leu na comissão uma carta do presidente Michel Temer se comprometendo em enviar ao Congresso uma medida provisória com vetos e ajustes à reforma.

Mais informações
Um revés inesperado no Senado como sintoma dos problemas de Temer
“Aprovação das reformas aprofundaria o abismo entre o Congresso e a sociedade”
“Querem precarizar ainda mais e deixar o trabalhador sem força para lutar”
A reforma da Espanha que inspirou Temer: mais empregos (precários) e com menores salários

A estratégia visava também impedir que as mudanças fossem feitas diretamente no texto, já que o projeto teria que voltar para a Câmara dos Deputados, postergando a tramitação da proposta. A reforma é vista como um dos principais projetos da agenda de Temer para reativar a economia nacional, reconquistar a credibilidade dos investidores e mostrar que o Palácio do Planalto ainda tem força no Congresso mesmo em meio à mais grave crise política do Governo do peemedebista. "Quero aqui reafirmar o compromisso de que os pontos tratados como necessários para os ajustes, e colocados ao líder do governo, senador Romero Jucá, e à equipe da Casa Civil, serão assumidos pelo Governo, se esta for a decisão final do Senado da República", diz a carta do presidente. O peemedebista afirmou ainda que a reforma é um fator determinante para que o país possa retomar a geração de emprego.

Depois da carta, Jucá leu aos senadores os pontos do acordo feito entre o Governo e os presidentes das comissões de Assuntos Econômicos, Tasso Jeiressati (PSDB-CE), Marta Suplicy (PMDB-SP) e Edison Lobão (PMDB-MA). Entre eles, o fim da autorização para que mulheres grávidas ou que amamentam possam trabalhar em locais insalubres com atestado médico e a determinação de que jornadas de 12 horas por 36 horas de descanso só possam ser acertadas em negociações coletivas. O documento também diz que deve ser vetado da proposta o trecho que estabelece que as indenizações pagas a trabalhadores serão proporcionais ao salário do empregado.

O Governo concordou também em alterar uma das questões mais polêmicas, a do trabalho intermitente. Um dos pontos que devem ser modificados é a instituição de uma quarentena de um ano e meio para que um trabalhador contratado em regime integral passe para o trabalho intermitente. O acordo também deixou claro a obrigatoriedade da participação sindical nas negociações coletivas.

A carta foi fortemente criticada pela oposição, que insistiu no argumento de que o documento assinado por Temer não dá garantias de que o presidente vá de fato fazer as alterações e nem mesmo que ele conseguirá seguir no poder nos próximos meses. Os senadores oposicionistas pediram inclusive que a votação fosse adiada, o que foi rejeitado. Eles defendiam que o agravamento da crise no Planalto inviabilizava a análise da reforma."Quem de nós tem certeza aqui que esse presidente daqui a 30 dias vai estar exercendo a presidência?, disse o senador petista Humberto Costa (PE). O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que renunciou à liderança do partido do Senado nesta quarta-feira causando mais uma turbulência para o Governo, também pediu a palavra na CCJ para criticar a reforma trabalhista. "Não tenho a menor vocação para marionete. O Governo não tem legitimidade para conduzir essas reformas complexas que, ao invés de resolver o problema, agravam", afirmou no plenário.

Contrários à aprovação do projeto de lei, seis senadores apresentaram votos em separado na tarde desta quarta-feira. Eles foram lidos durante seis horas, antes da discussão do projeto. A maioria deles pediu a rejeição da proposta, com exceção do senador Lasier Martins (PSD-RS), que apresentou emendas para retirar alguns pontos controversos, o que levaria o texto a retornar à Câmara. Jucá rejeitou, no entanto, todas as emendas apresentadas e os seis votos em separado. No fim da noite, os senadores também rejeitaram todas as sugestões de emendas que foram destacadas para serem analisadas separadamente após a votação do relatório.

Entenda o que Governo prometeu alterar na reforma trabalhista

Um acordo entre o Governo e os presidentes das comissões de Assuntos Econômicos, Tasso Jeiressati (PSDB-CE), Marta Suplicy (PMDB-SP) e Edison Lobão (PMDB-MA) foi apresentado nesta quarta na CCJ. Veja quais foram os pontos que o Planalto se comprometeu a modificar na reforma trabalhista.

Trabalho intermitente - Será estabelecido um mecanismo de quarentena de 18 meses para evitar o risco de migração de contratos por tempo indeterminado para contrato intermitente. A multa de 50% em caso de descumprimento será eliminada "por impor inapropriados custos financeiros ao trabalhador".

Jornada 12X36 - Será modificado o artigo que permite a adoção dessa jornada. Essa forma de contratação só será permitida por acordo coletivo ou convenção coletiva.

Salvarguadas à participação sindical - Será obrigatória a participação sindical na negociação coletiva. E a comissão de empregados, figura criada pela reforma, "não substituirá de maneira nenhuma a função do sindicato de defender os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria".

Gestantes e lactantes - Será restabelecida a vedação do trabalho em locais insalubres. Apenas será permitido o trabalho de gestantes em locais insalubres "em grau médio ou mínimo" mediante a apresentação, pela mulher, de atestado emitido por médico do trabalho.

Insalubridade - O enquadramento do grau de insalubridade e prorrogação da jornada em local insalubre só poderão efetivar-se por meio de negociação coletiva.

Dano extrapatrimonial - Será vetado o trecho que diz que as indenizações pagas a trabalhadores serão proporcionais ao salário do empregado. A metodologia do cálculo será reavaliada.

Autônomo exclusivo – O contrato do trabalhador autônomo não poderá prever nenhum tipo de cláusula de exclusividade, sob pena de configuração de vínculo empregatício.

Imposto sindical - No fim do documento, há uma recomendação ao Executivo para que estude um modelo de extinção gradual da contribuição sindical obrigatória.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_