_
_
_
_

Reforma trabalhista: revés inesperado como sintoma da crise de Temer

Derrota por 10 votos a 9 em comissão do Senado surpreendeu governistas. Batalha final será no plenário

Oposição comemora a vitória na Comissão de Assuntos Socias (CAS) durante a votação de relatório da reforma trabalhista.
Oposição comemora a vitória na Comissão de Assuntos Socias (CAS) durante a votação de relatório da reforma trabalhista.Lula Marques (AGPT)

Era para ser uma votação tranquila no Senado, mas o Governo de Michel Temer sofreu, nesta terça-feira, a primeira derrota na tramitação da reforma trabalhista, um dos principais projetos de sua agenda para reativar a economia nacional, no que foi lido como um susto em uma base aliada que testa sua coesão enquanto o cerco jurídico da Operação Lava Jato se fecha em torno do Planalto. Ao contrário do que previa o Governo, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) derrotou, por 10 votos contrários a 9 favoráveis, o relatório do relator Ricardo Ferraço (PSDB/ES), que endossa o texto da reforma aprovado pela Câmara, em nome de um texto feito pelo senador Paulo Paim (PT), que rejeita as mudanças nas regras trabalhistas. O placar surpreendeu os governistas e a própria oposição, que comemorou o resultado final com gritos de "Fora, Temer". Após o revés, o texto governista segue no páreo, mas disputará a preferência dos senadores na verdadeira batalha - o plenário do Senado - com o de Paim (PT).

Em Moscou, onde está em viagem oficial, Temer minimizou a derrota e afirmou que caberá ao plenário do Senado tomar a decisão final sobre a reforma. "Não é surpresa negativa não, isso é assim mesmo, tem várias fases, varias etapas, e nas etapas você ganha uma, ganha outra, perde outra, o que importa é o plenário. O Brasil vai ganhar no plenário", disse Temer a jornalistas. Os mercados financeiros, no entanto, reagiram mal à notícia. Logo após a rejeição do relatório de Ferraço pela CAS, o dólar subiu cerca de 1,5%,chegando a a ser contado a 3,35 reais. Já a Bolsa de Valores de São Paulo acentuou a queda. "Enquanto a perspectiva de aprovação da reforma trabalhista permanece inalterada, o revés sugere que o recente recrudescimento da crise política tornou mais difícil para o Governo o manejo o coalizão", escreveu em boletim a clientes a consultoria política Eurasia.

Mais informações
Reforma da Previdência: entenda como ela afeta sua aposentadoria
Governo compara oposição à reforma da Previdência com a Revolta da Vacina
Novas acusações de Joesley pressionam Temer em momento crítico
Reforma trabalhista vai para votação no Senado após novas concessões do Governo

A oposição também leu no resultado um claro sintoma do desgaste de Temer. Nesta segunda, a Polícia Federal concluiu, em um relatório parcial, que o presidente cometeu crime de corrupção passiva e ainda apura se há indícios dos delitos de obstrução à Justiça e participação em organização criminosa. "O resultado dessa votação demonstra a impossibilidade de o presidente continuar liderando o país. A base está se deteriorando e os senadores já colocam em xeque se vale a pena assumir um desgaste com o eleitorado por um presidente denunciado por corrupção", afirmou o líder da Rede, Randolfe Rodrigues (AP) ao EL PAÍS.

Na derrota do Planalto desta terça foram decisivos a ausência do senador Sérgio Petecão (PSD-AC) e os votos da base aliada dos senadores Otto Alencar (PSD-BA) e de Eduardo Amorim (PSDB/SE). Durante a reunião, senadores do PT, PSB e PCdoB fizeram duras críticas ao documento e disseram que, da forma como está, a proposta retirará direitos do trabalhador. A oposição também ressaltou o fato de o relator ter rejeitado inclusive emendas apresentadas pela própria base aliada para modificar pontos mais polêmicos. O mesmo relatório havia sido aprovado, na semana passada, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa. A sessão teve momentos de debates acalorados entre  os senadores.

Após rejeitar o parecer de Ferraço, a comissão aprovou um texto alternativo da oposição, de Paim (PT). Mesmo com a derrota na comissão, a tramitação do projeto da reforma trabalhista continua e segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Lá será apresentado o relatório de autoria do líder do Governo na Casa, Romero Jucá, semelhante ao de Ferraço e, só depois, o texto da reforma será encaminhado para a votação no plenário. Os três relatórios da CAE, CAS e CCJ vão servir de orientação para a votação em plenário.

Na visão de Jucá, a derrota foi fruto de "posições individuais" de parlamentares da base, mas o resultado não vai alterar o cronograma de votação. De acordo com o senador, o seu relatório irá para a CCJ nesta quarta, mas o documento deve ser votado na próxima semana, no dia 28 de junho. "Os três [relatórios] irão para o plenário e será votado aquele que o plenário entender que tem prioridade. Não muda nada, não muda a posição do Governo, não muda o plano de aprovar, nós vamos aprovar a reforma trabalhista porque é importante para o Brasil", afirmou Jucá a jornalistas.

Próximas etapas

Caso o texto seja aprovado na CCJ, a expectativa é que ele passe a tramitar em regime de urgência no plenário do Senado, onde será posto em votação o voto em separado do senador Paulo Paim, aprovado na CAS. Nele, Paim pede a rejeição total do texto aprovado pela Câmara. Caso o plenário confirme a decisão da CAS, a matéria da reforma será arquivada. Se o voto em separado de Paulo Paim for rejeitado em plenário, vai à votação o parecer do senador Ferraço, com o mesmo texto aprovado pela Câmara dos Deputados. Nesse caso, se aprovado, irá à sanção presidencial.

A reforma trabalhista proposta pelo Governo, se aprovada no Senado, acabará com a contribuição sindical obrigatória, determina que o que for negociado entre patrões e empregados prevalece sobre a legislação e dificultará o acesso dos servidores à Justiça do Trabalho. O texto cria uma jornada intermitente de serviço, regulariza o home office e exclui os sindicatos das homologações de demissões, entre outros tópicos.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_