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Crise política no Brasil ofusca tentativa de aproximação com os Estados Unidos

Aloysio Nunes faz reunião discreta em Washington para falar sobre relação comercial e a Venezuela

Nunes e Tillerson
Nunes e TillersonJacquelyn Martin (AP)

Houve um momento em que a presidência de Donald Trump se apresentou como uma oportunidade para o Governo brasileiro de Michel Temer. Como o resto do continente, Brasília observou com preocupação o discurso protecionista de Trump, que se chocava com a abertura comercial promovida por Temer para estimular a economia do Brasil. Mas Temer viu também a possibilidade de aumentar a entrada de empresas brasileiras nos Estados Unidos na decisão do republicano de renegociar o acordo de livre comércio com o México e o Canadá.

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Trump e Temer conversaram por telefone em março sobre como fortalecer a relação econômica e o presidente norte-americano convidou o colega brasileiro a visitá-lo na Casa Branca. Procurava-se uma aproximação que enterrasse a relação tensa entre os governos de Barack Obama e Dilma Rousseff. Mas esse objetivo foi ofuscado nas últimas semanas pela crise política que voltou a sacudir o Brasil e que colocou em xeque o futuro de Temer.

A delação de Joesley Batista, da JBS, e a divulgação de conversas comprometedoras do empresário com o presidente colocaram o Governo na beira do abismo. O Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para investigar se Temer cometeu os crimes de obstrução da justiça, corrupção passiva e organização criminosa. Além disso, na próxima terça-feira, dia 6 de junho, o TSE começa a julgar o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer.

Nesse ambiente pessimista, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, reuniu-se na sexta-feira em Washington com seu colega norte-americano, Rex Tillerson. Foi um encontro discreto que definiu uma agenda de aproximação econômica pouco ambiciosa. Assuntos mais espinhosos, como a negociação de um acordo bilateral de livre comércio e questões fiscais ou de imigração ficaram de fora.

Nunes admitiu que a espiral de corrupção “afeta” a imagem do Brasil no exterior, mas tentou transmitir uma mensagem tranquilizadora para dissipar dúvidas sobre a segurança jurídica e a força da separação de poderes. “Temos uma turbulência política que não significa uma turbulência institucional”, disse em entrevista coletiva após a reunião. Afirmou que Tillerson não lhe fez perguntas sobre o terremoto político no Brasil, mas lhe disse estar convencido de que é um país “institucionalmente sólido”.

O ministro brasileiro evitou entrar em detalhes, mas afirmou que o objetivo é que Trump e Temer se reúnam no segundo semestre. Em seus quatro meses na Casa Branca, o presidente norte-americano se reuniu com três líderes da América Latina (Peru, Argentina e Colômbia).

Em sua tentativa de atenuar as dúvidas sobre o cenário político brasileiro, Nunes – que assumiu o cargo em março depois da renúncia de José Serra (PSDB) – descartou que os tucanos irão retirar o apoio a Temer. “O PSDB não é Madame Bovary. Apoio o presidente Temer e acredito que o PSDB não sairá do Governo”, disse, referindo-se ao romance do francês Gustave Flaubert em que a protagonista é uma traidora.

Como aconteceu no caso de Dilma, os Estados Unidos ficaram à margem da crise política que afeta agora Temer argumentando que é um assunto interno brasileiro e que confia na força institucional do Brasil.

Em um comunicado divulgado depois da reunião entre Tillerson e Nunes, o Departamento de Estado destacou “a solidez das relações bilaterais entre os dois países e a importância da aliança entre os EUA e o Brasil”. Não fez nenhuma menção aos problemas judiciais de Temer. Os dois chanceleres também falaram da relação comercial, da cooperação em matéria de segurança, e de assuntos internacionais, como a deterioração democrática na Venezuela.

Nunes participou na quarta-feira de uma reunião de chanceleres sobre a Venezuela na sede da Organização dos Estados Americanos. Brasília e Washington defendem o endurecimento da posição da instituição regional frente à crise política e humanitária nesse país. “Estamos muito preocupados com a situação na Venezuela e ordenamos concentrar os nossos esforços na OEA”, disse Nunes.

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