_
_
_
_
_

Temer diz que desgaste de Trump com México pode abrir espaço ao Brasil

Em entrevista à 'TV Cultura', o presidente brasileiro disse que não teme o protecionismo de Trump

Temer e os jornalistas no 'Roda Viva'.
Temer e os jornalistas no 'Roda Viva'. Beto Barata/PR
Mais informações
Cheque de 1 milhão de reais para Michel Temer joga holofotes em ação do TSE
Agora, Serra diz que não teve pesadelo com eleição de Donald Trump
Vitória de Trump alteraria o equilíbrio na América do Sul, em plena virada política
Temer prevê retomada do emprego só no segundo semestre de 2017

Michel Temer está em busca de qualquer fator que possa ajudar a titubeante recuperação econômica brasileira e a vitória do republicano, Donald Trump, nos Estados Unidos certamente não ajuda o Governo brasileiro no quesito previsibilidade da economia mundial. Por isso, o objetivo do Palácio do Planalto é minimizar o efeito Trump no Brasil. A mensagem já estava no discurso dos ministros desde a quarta-feira e agora é o próprio presidente Temer que a reforça: ele disse que não teme que, apesar de seu discurso nacionalista e protecionista, o presidente eleito dos Estados Unidos possa fazer algo que prejudique o Brasil. "Os Estados Unidos são um parceiro comercial atuante do Brasil e eu duvido que ele faça algo que tente afastar o Brasil", disse Temer, durante entrevista a jornalistas brasileiros no programa "Roda Viva", da TV Cultura.

No programa, exibido na noite da segunda-feira, Temer interpretou até que o desgaste de Trump com o México, diante do discurso anti-imigração do presidente eleito norte-americano e das afirmações de que construirá um muro entre os dois países, poderá eventualmente ser benéfico para o Brasil. "[Trump] pode redimensionar as relações com o México e quando voltar os olhos para a América Latina é muito possível que venha a prestigiar as relações com o Brasil", disse o presidente brasileiro.

Hoje, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e recebem 20% das exportações brasileiras, atrás da China, que é o principal destino de produtos brasileiros. Por isso, há um temor de que a combalida economia brasileira possa ser afetada pelas mudanças previstas por ele - entre elas, está o foco no investimento doméstico para gerar mais empregos no país, o que pode diminuir as relações comerciais com outros países. Sem falar na turbulência e incerteza no mercado financeiro, que já começou a se mostrar. O impacto no Brasil está longe de ser o terremoto imposto ao México, mas, ainda assim, a moeda brasileira tem perdido terreno. Nesta segunda, o dólar fechou em alta frente ao real pela quarta jornada consecutiva. Na sexta, o Banco Central brasileiro interveio pra segurar a queda da divisa brasileira.

Moderação

Temer disse aos jornalistas que ainda é cedo para avaliar Trump _algo que os analistas do mercado financeiro concordam. "Lemos o discurso dele e foi um discurso de muita moderação. Nos Estados Unidos as instituições são fortíssimas. Não vamos imaginar que o presidente da República exerça todo o poder com autoritarismo. Isso não vai acontecer nos Estados Unidos, pois há uma série de condicionantes a partir do Congresso Nacional que dimensionarão a atividade dele."

O presidente brasileiro falou ainda sobre a Venezuela, país vizinho que enfrenta uma grave crise interna. "Há um problema humanitário [no país]", disse ele, que afirmou que o Brasil tentou enviar remédios para o Governo de Nicolás Maduro, que os recusou. "Os venezuelanos estão vindo para o Brasil", destacou Temer, que afirmou que a área militar brasileira está "preocupadíssima". "É uma preocupação. Temos dito que nosso maior desejo é que a Venezuela estabilize suas relações internas, e está havendo um esforço para isso".

Lula preso

Questionado pelos jornalistas, o presidente brasileiro afirmou ainda que acredita que uma eventual prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu na Operação Lava Jato, poderia trazer instabilidade para o Brasil. "Eu espero que, se houver acusações contra o ex-presidente, elas sejam processadas com naturalidade". "Se o Lula for preso causa um problema para o país porque haverá movimentos sociais... Toda vez que você tem um movimento social de contestação especialmente a uma decisão do Judiciário pode criar uma instabilidade". "Imagine a hipótese de uma prisão do Lula, que foi ex-presidente duas vezes? Isso pode criar problemas."

Temer disse ainda que não tem preocupação com a possibilidade de acabar cassado por uma ação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), depois que surgiu a informação de que ele recebeu um cheque de um milhão de reais da construtora Andrade Gutierrez durante a campanha de 2014. Em uma delação premiada da Operação Lava Jato, Otávio Azevedo, ex-presidente da empreiteira, afirmou que o repasse para a campanha, feito em 10 de julho de 2014, seria referente ao acerto de propina por acordos firmados pela empresa com o Governo.  "Esse cheque é de uma conta do PMDB. Você tem a conta do PMDB e tem uma conta da candidatura do vice-presidente da República. [É um] cheque assinado pelo PMDB, nominal à candidatura do vice-presidente", disse. "Não tenho preocupação quanto a isso. Evidentemente, vocês conhecem a obediência que eu presto às instituições (...) Se um dia, lá na frente, o TSE disser: 'Temer, você tem que sair', convenhamos, haverá recursos e mais recursos".

Com informações de agências internacionais

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_