Temer diz que desgaste de Trump com México pode abrir espaço ao Brasil
Em entrevista à 'TV Cultura', o presidente brasileiro disse que não teme o protecionismo de Trump

Michel Temer está em busca de qualquer fator que possa ajudar a titubeante recuperação econômica brasileira e a vitória do republicano, Donald Trump, nos Estados Unidos certamente não ajuda o Governo brasileiro no quesito previsibilidade da economia mundial. Por isso, o objetivo do Palácio do Planalto é minimizar o efeito Trump no Brasil. A mensagem já estava no discurso dos ministros desde a quarta-feira e agora é o próprio presidente Temer que a reforça: ele disse que não teme que, apesar de seu discurso nacionalista e protecionista, o presidente eleito dos Estados Unidos possa fazer algo que prejudique o Brasil. "Os Estados Unidos são um parceiro comercial atuante do Brasil e eu duvido que ele faça algo que tente afastar o Brasil", disse Temer, durante entrevista a jornalistas brasileiros no programa "Roda Viva", da TV Cultura.
No programa, exibido na noite da segunda-feira, Temer interpretou até que o desgaste de Trump com o México, diante do discurso anti-imigração do presidente eleito norte-americano e das afirmações de que construirá um muro entre os dois países, poderá eventualmente ser benéfico para o Brasil. "[Trump] pode redimensionar as relações com o México e quando voltar os olhos para a América Latina é muito possível que venha a prestigiar as relações com o Brasil", disse o presidente brasileiro.
Hoje, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e recebem 20% das exportações brasileiras, atrás da China, que é o principal destino de produtos brasileiros. Por isso, há um temor de que a combalida economia brasileira possa ser afetada pelas mudanças previstas por ele - entre elas, está o foco no investimento doméstico para gerar mais empregos no país, o que pode diminuir as relações comerciais com outros países. Sem falar na turbulência e incerteza no mercado financeiro, que já começou a se mostrar. O impacto no Brasil está longe de ser o terremoto imposto ao México, mas, ainda assim, a moeda brasileira tem perdido terreno. Nesta segunda, o dólar fechou em alta frente ao real pela quarta jornada consecutiva. Na sexta, o Banco Central brasileiro interveio pra segurar a queda da divisa brasileira.
Moderação
Temer disse aos jornalistas que ainda é cedo para avaliar Trump _algo que os analistas do mercado financeiro concordam. "Lemos o discurso dele e foi um discurso de muita moderação. Nos Estados Unidos as instituições são fortíssimas. Não vamos imaginar que o presidente da República exerça todo o poder com autoritarismo. Isso não vai acontecer nos Estados Unidos, pois há uma série de condicionantes a partir do Congresso Nacional que dimensionarão a atividade dele."
O presidente brasileiro falou ainda sobre a Venezuela, país vizinho que enfrenta uma grave crise interna. "Há um problema humanitário [no país]", disse ele, que afirmou que o Brasil tentou enviar remédios para o Governo de Nicolás Maduro, que os recusou. "Os venezuelanos estão vindo para o Brasil", destacou Temer, que afirmou que a área militar brasileira está "preocupadíssima". "É uma preocupação. Temos dito que nosso maior desejo é que a Venezuela estabilize suas relações internas, e está havendo um esforço para isso".
Lula preso
Questionado pelos jornalistas, o presidente brasileiro afirmou ainda que acredita que uma eventual prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu na Operação Lava Jato, poderia trazer instabilidade para o Brasil. "Eu espero que, se houver acusações contra o ex-presidente, elas sejam processadas com naturalidade". "Se o Lula for preso causa um problema para o país porque haverá movimentos sociais... Toda vez que você tem um movimento social de contestação especialmente a uma decisão do Judiciário pode criar uma instabilidade". "Imagine a hipótese de uma prisão do Lula, que foi ex-presidente duas vezes? Isso pode criar problemas."
Temer disse ainda que não tem preocupação com a possibilidade de acabar cassado por uma ação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), depois que surgiu a informação de que ele recebeu um cheque de um milhão de reais da construtora Andrade Gutierrez durante a campanha de 2014. Em uma delação premiada da Operação Lava Jato, Otávio Azevedo, ex-presidente da empreiteira, afirmou que o repasse para a campanha, feito em 10 de julho de 2014, seria referente ao acerto de propina por acordos firmados pela empresa com o Governo. "Esse cheque é de uma conta do PMDB. Você tem a conta do PMDB e tem uma conta da candidatura do vice-presidente da República. [É um] cheque assinado pelo PMDB, nominal à candidatura do vice-presidente", disse. "Não tenho preocupação quanto a isso. Evidentemente, vocês conhecem a obediência que eu presto às instituições (...) Se um dia, lá na frente, o TSE disser: 'Temer, você tem que sair', convenhamos, haverá recursos e mais recursos".
Com informações de agências internacionais