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França celebra casamento póstumo entre soldado morto em atentado e seu namorado

O ex-presidente François Hollande participou da estranha cerimônia, que não é tão rara assim no país

Silvia Ayuso
Étienne Cardiles, no ato de homenagem a seu parceiro, Xavier Jugelé, em 25 de abril.
Étienne Cardiles, no ato de homenagem a seu parceiro, Xavier Jugelé, em 25 de abril.

Étienne Cardiles e Xavier Jugelé disseram o sim na tarde de terça-feira, na prefeitura do distrito XIV de Paris. Uma cerimônia comum na França, desde que o casamento gay foi legalizado durante o mandato recém-concluído do socialista François Hollande. Mas o casamento de Étienne e Xavier não foi um a mais. A cerimônia foi presenciada por altos dirigentes, como o próprio Hollande e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Mas um dos protagonistas, Xavier, não estava lá. Morreu na noite de 20 de abril, quando um extremista disparou contra vários policiais na avenida Champs-Élysées da capital francesa.

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O casamento póstumo é permitido na França desde 1803. É concedido “por motivos graves” e requer, segundo o artigo 171 do Código Civil, a autorização expressa do presidente da República. Além disso, deve ser demonstrado “inequivocamente” que o casal tinha planos de se casar antes da morte de um deles. No passado, quando os filhos “naturais” não tinham os mesmos direitos que os nascidos de um casamento (situação que perdurou na França até 1972), serviu, por exemplo, para que mulheres grávidas de soldados mortos no campo de batalha pudessem regularizar a situação dos filhos e, também, receber uma pensão.

Cardiles e Jugelé haviam formalizado a relação há quatro anos e estavam planejando se casar. Um terrorista cruzou o caminho do casal. Na homenagem oficial realizada em Paris entre os dois turnos das eleições presidenciais, Cardiles fez um discurso comovente, que rapidamente se tornou viral. “Sofro sem ódio”, disse diante das mais altas autoridades do país e também das câmeras, que retransmitiram suas palavras para toda a França. E fez uma promessa a quem foi seu parceiro por tanto tempo: “Estará em meu coração para sempre”.

Esta semana, Cardiles cumpriu a promessa e, embora não tenha como compartilhar a vida com a pessoa que havia escolhido, pôde homenageá-lo mais uma vez com esse casamento que fazia parte de seus planos a dois. Em entrevista à rede Europe 1, Laurent, um amigo convidado para a cerimônia, disse que, apesar da situação, no casamento, que durou meia hora, “não houve nenhuma tristeza”.

“O ambiente era muito sereno. Todos queríamos ver a união de nossos amigos Étienne e Xavier. Estávamos felizes por isso”, disse Laurent. Conforme exigido por lei, embora o casamento tenha sido realizado em maio, a data indicada na certidão de casamento é de 19 de abril, um dia antes da morte de Jugelé. O recém-casado Cardiles foi, imediatamente, também declarado viúvo, como estabelece a lei.

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