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Trump deve retirar EUA do acordo sobre mudanças climáticas

Ainda não confirmada pela Casa Branca, medida significa avanço do isolacionismo e triunfo dos radicais

Jan Martínez Ahrens
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.JONATHAN ERNST (REUTERS)
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A balança está a ponto de se inclinar. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu retirar o país do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, segundo vários veículos de comunicação norte-americanos. A medida, que não foi confirmada oficialmente pela Casa Branca, significaria muito mais do que a ruptura de um pacto e a dissolução do legado de Barack Obama: a saída consumaria o triunfo do isolacionismo e o avanço da ala mais radical da Casa Branca. Para o planeta, os Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, deixariam de ser um aliado.

Trump afirmou pelo Twitter que tornaria pública sua decisão dentro dos “próximos dias”. Durante anos, ele se mostrou reticente em a aceitar um acordo sobre mudanças climáticas. O presidente duvida que o problema tenha sido provocado pelo homem e considera que se trata de um pacto que vai contra os interesses norte-americanos. Se realmente optar por deixar o acordo, como informam Reuters, AP, CNN, The New York Times, BBC, FOX e Axios, o sinal que enviaria é inequívoco: os Estados Unidos só cumprirão com acordos que lhe convenham.

O impacto de uma eventual retirada levará meses ou anos para se estabelecer. Mas a curto prazo se dirige aos setores deprimidos que deram seu voto a Trump e que ficaram estacionados na era do carvão. Sua suposta melhora, o chamado “interesse nacional”, vem antes de uma sociedade já altamente polarizada e à desilusão de um planeta que chegou a acreditar na Casa Branca. Aliás, ela acarreta até um revés para a grande indústria energética, que nos últimos anos fez enormes investimentos para obter fontes de energia mais limpas.

O Acordo de Paris é basicamente político. Não contém sanções nem medidas coercitivas. É uma expressão da vontade de quase 200 nações. Frente ao aumento das temperaturas, ao degelo dos polos, ao aumento do nível do mar e aos fenômenos extremos, o pacto propõe conter o aquecimento global limitando as emissões de carbono. Foi firmado em 2015, mas os Estados Unidos aderiram em setembro de 2016. Foi com Obama e ofereceu reduzir as emissões entre 26% e 28% até 2025, em relação aos níveis de 2005. Com esse objetivo, o presidente anterior lançou uma prodigiosa bateria de medidas legais que Trump se apressou em bloquear. O republicano, que nunca se mostrou convencido de que as mudanças climáticas são obra humana, deu carta branca à indústria do carvão e a setores altamente contaminantes. Os cálculos apontam que essa decisão limita a queda de emissões a 14%.

A eventual ruptura do Acordo de Paris enviaria uma mensagem devastadora ao mundo. Os Estados Unidos abandonam seus parceiros mais firmes, os europeus, e deixam a China – o maior emissor mundial – no comando do pacto. Em um só golpe, sem mal decolar, uma iniciativa formidável e obtida após décadas de esforço perderia a economia mais potente do mundo. E a ciência veria como, diante de um dos desafios mais inquietantes da humanidade, seu principal instrumento de atuação se dilui por causa das atribulações isolacionistas de um empreiteiro de Nova York.

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