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México exige um “basta” à violência contra jornalistas

Veículos de comunicação fazem paralisação nesta terça-feira para cobrar fim da impunidade

Luis Pablo Beauregard
Perito na cena do crime de Javier Valdez.
Perito na cena do crime de Javier Valdez.FERNANDO BRITO (AFP)

A violência contra jornalistas no México atinge um ritmo vertiginoso. Em apenas 48 horas, sete repórteres foram detidos por criminosos no Estado de Guerrero. Nesta segunda-feira, Javier Valdez, um dos maiores especialistas em narcotráfico, foi assassinado em Sinaloa. A subdiretora de um jornal de Jalisco foi vítima de um atentado em que seu filho morreu. Os jornalistas se tornaram protagonistas do noticiário policial em um país que assiste com preocupação a um forte aumento do número de homicídios.

O assassinato de Valdez, o sexto jornalista morto em 2017, provocou uma reação de peso nas redes sociais, sobretudo da própria categoria. O crime levou alguns veículos de comunicação a agirem. O jornal digital Animal Político fará uma paralisação nesta terça-feira. “Queremos protestar contra a impunidade nesses assassinatos e exigir que as autoridades ajam. Chega de mensagens de condenação; queremos resultados concretos. Matam-se jornalistas no México porque nada acontece”, afirma o site nas redes sociais.

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A revista Elos, publicação do escritor e historiador Héctor Aguilar Camín, também se somou a esta iniciativa nascida dos nulos resultados oferecidos pelo Governo: nenhum suspeito relacionado aos seis crimes contra jornalistas foi detido. Também aderiram a este protesto, chamado #Undíasinperiódicos (um dia sem jornais), as publicações Noroeste, Vice, Cultura Colectiva News, Luces del Siglo, Lado B, Zona Franca, Proyecto Puente, Kaja Negra, Horizontal, El Siglo de Durango, Tercera Vía, El Popular de Puebla e Contraseña.

Nesta terça-feira sairá um manifesto nos jornais Reforma e La Jornada, o lar jornalístico de Valdez, assinado por vários colegas do profissional assassinado. Os 38 jornalistas, acadêmicos e escritores fazem perguntas: “Quantos crimes mais devemos esperar? Quem continua nessa lista negra de profissionais sérios dos nossos meios de comunicação? Como viver em um país onde o trabalho honesto e digno deve ser sacrificado, abandonado, ou então esperar a covardia do assassinato? Por que ninguém se ocupa com responsabilidade da morte de jornalistas? Pode uma democracia sobreviver sem liberdade de expressão?”.

As questões mais amargas foram deixadas para o final. “Quem responderá à mãe e aos filhos de Javier Valdez sobre seu assassinato? Quem dará consolo a sua esposa e irmãos? Quem fará justiça?” O texto é assinado por Carmen Aristegui, Lydia Cacho, Denise Dresser, Daniel Lizárraga, Élmer Mendoza, Martín Moreno, Jorge Ramos, Javier Sicilia e Jorge Volpi, entre vários outros.

A morte de Valdez também agitou as esferas políticas mexicanas. O presidente Enrique Peña Nieto condenou o assassinato e enviou suas condolências à categoria. “Não é de condolências que precisamos, presidente. É justiça o que se exige”, respondeu-lhe o jornalista Salvador Camarena.

Andrés Manuel López Obrador, o líder do Movimento de Regeneração Nacional e um dos aspirantes à sucessão de Peña Nieto, pediu ao mandatário que faça um chamado à paz, detenha a guerra e substitua a fracassada estratégia de segurança. “Meu pesar por Javier e outras vítimas do irracional”, escreveu em sua conta do Twitter. Manuel Clouthier, deputado federal independente por Sinaloa, disse que a morte de Valdez é uma “mensagem clara de quem pretende desestabilizar o Estado”. O governador Quirino Ordaz reuniu-se nesta noite com a cúpula de segurança em Sinaloa e com o prefeito de Culiacán, Jesús Valdés.

Atentado em Jalisco

O México não havia acabado de assimilar o assassinato de um de seus mais importantes cronistas do narcotráfico quando outra notícia se espalhou como pólvora. Sonia Córdova, subdiretora comercial do El Costeño, um pequeno jornal no município de Autlán, no sudoeste de Jalisco, foi vítima de um atentado. Córdova viajava em seu automóvel na companhia do seu filho, Jonathan Rodríguez Córdova, quando foi atacada por homens armados. O rapaz, de 26 anos, morreu, e Córdova foi levada com ferimentos a um hospital de Guadalajara. O marido dela é o dono do jornal. A imprensa local informa que Jonathan havia sido sequestrado em duas ocasiões.

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