Menino que virou símbolo do luto reencontra a alegria com a Chapecoense
Imagem de Richard, sentado sozinho na arquibancada após a tragédia de avião, comoveu o mundo
Naquela manhã de 29 de novembro, a primeira reação de Richard ao ver pela televisão as imagens dos destroços do avião da Chapecoense na Colômbia foi correr para o colo da mãe e cair no choro. Na tentativa de aplacar o sofrimento do filho, a comerciante Maristela dos Santos resolveu tomar o rumo da Arena Condá em busca de notícias sobre os ídolos que haviam viajado para disputar a final da Copa Sul-Americana. Em um momento de distração, o menino ficou sozinho na arquibancada, cabisbaixo diante do burburinho que estipulava mais de 70 mortos no acidente.
Pouco tempo depois, começaram a pipocar mensagens no celular de Maristela com a imagem de Richard, captada pelo fotógrafo Nelson Almeida, que viralizou na internet e se tornou o símbolo do luto vivido por toda Chapecó. No dia seguinte, a foto já estava estampada em outdoors pela cidade e em jornais do mundo inteiro. Mas as cicatrizes da tragédia ainda estão vivas na memória da família. “Foi o dia mais triste da minha vida”, lembra o garoto.
Richard Ferreira do Nascimento tem 7 anos e vem superando o trauma com a ajuda de seu companheiro mais fiel: o futebol. Apaixonado pela bola, ele não perde um jogo da Chapecoense. Do sofá posicionado no canto da sala, em sua casa na periferia de Chapecó, o garoto torce pelos novos ídolos e comemora o renascimento da equipe, que foi campeã catarinense no último domingo. “Ele ficou muito emocionado com o título da Chape. Deu pulos de alegria quando viu o time levantando a taça”, afirma Maristela.
Depois da tragédia, ele entrou para a escolinha de futebol da Chapecoense. Um passo importante na vida de Richard, que nasceu com sequelas de uma gravidez complicada. Desde pequeno, convive com quadros frequentes de epilepsia, faz tratamento psiquiátrico e toma remédios diariamente. O futebol tem ajudado a aliviar os sintomas e se tornou sua atividade predileta, da qual ele só abre mão caso um jogo da Chape coincida com o horário dos treinos.
Embora seja atacante e não alimente o sonho de ser atleta profissional, Richard tem como espelho o zagueiro que sobreviveu ao acidente na Colômbia. No início do ano, ele encontrou Neto, seu jogador preferido, nos vestiários da Arena Condá. Ganhou uma camisa e conselhos do defensor. O menino conta os dias para o retorno do ídolo aos gramados. Quando a delegação do clube viajou novamente para a Colômbia, prestes a enfrentar o Atlético Nacional pela decisão da Recopa Sul-Americana, nesta quarta-feira, sua maior preocupação era saber se o zagueiro havia chegado bem em Medellín. “Ele não parava de perguntar pelo Neto. Só se acalmou depois que eu mostrei as imagens dos jogadores desembarcando no aeroporto”, conta a mãe.
Em meio ao processo de superação da tragédia, Richard revela que duas coisas o afligem. “Tenho medo de barata e de avião”, diz, com jeito tímido. Porém, os olhos brilham ao mostrar, orgulhoso, seu primeiro par de chuteiras e a coleção de camisas da Chape. Vestindo uma delas, ele promete “torcer de coração” para o clube voltar com mais um troféu da Colômbia. O rosto que um dia simbolizou a tristeza hoje volta a sorrir em novo passo da reconstrução chapecoense.
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