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Fox demite apresentador após denúncias de assédio sexual

Saída de Bill O’Reilly acontece em meio à fuga de anunciantes meses depois de o presidente da emissora renunciar pelos mesmos motivos

Amanda Mars
Bill O'Reilly, apresentador da Fox, em 2015.
Bill O'Reilly, apresentador da Fox, em 2015.Richard Drew (AP)

Na quarta-feira, enquanto Bill O’Reilly apertava a mão do Papa no Vaticano, a Fox avaliava se finalmente o deixaria cair depois do escândalo gerado pelas denúncias de assédio sexual apresentadas por várias funcionárias contra o apresentador. A empresa controlada pela família Murdoch acabou decidindo demiti-lo, mas as denúncias tinham pouco de novidade. O’Reilly, uma espécie de instituição dentro da casa, tinha sido amparado até agora pelo canal conservador, mas o escândalo cresceu nos últimos tempos e provocou uma fuga de anunciantes. O próprio presidente da Fox, Roger Ailes, renunciou em julho também por denúncias de assédio sexual.

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A saída de O’Reilly é um furacão na Fox. O jornalista trabalhava na emissora havia 21 anos e seu show diário, “The O’Reilly Factor”, foi o programa mais visto da televisão a cabo em 2016, segundo um estudo da Kantar Media. Desde as eleições presidenciais, seus comentários mordazes e patrióticos sobre a situação política atual fizeram a audiência aumentar.

O fato de tanto o presidente como o principal apresentador da Fox terem saído em poucos meses sob acusações de abuso contra mulheres levanta muitas questões sobre a cultura que se respira na emissora. Recentemente, o The New York Times apurou que a Fox pagou quantias milionárias durante anos a diferentes funcionárias para silenciar suas denúncias de assédio sexual. A emissora chegou a entregar 13 milhões a pelo menos cinco mulheres desde 2002 pelo suposto comportamento abusivo de O’Reilly a fim de evitar julgamentos que prejudicassem a reputação de seu apresentador ou seu programa.

Em setembro, a Fox fechou um acordo extrajudicial para pagar uma indenização de 20 milhões de dólares (66 milhões de reais) a Gretchen Carlson, a apresentadora veterana que, em 2016, afirmou ter sido demitida por rejeitar as insinuações sexuais do presidente, Roger Ailes, que renunciou em seguida. Desde então, o gabinete do procurador-geral dos Estados Unidos em Nova York investiga os procedimentos da Fox nesses casos.

“Depois de uma revisão minuciosa das acusações, a empresa e Bill O’Reilly concordaram que Bill O’Reilly não voltará ao Fox News Channel”, declarou a emissora em nota. O’Reilly está de férias na Itália (nesta quarta-feira foi ao Vaticano, como se viu na foto) e, em tese, deveria voltar ao ar na segunda-feira, mas já não será assim. A visita ao Vaticano foi facilitada pela mediação do arcebispo de Nova York, Timothy Dolan, que escreveu à Santa Sé meses atrás.

“É uma decepção tremenda nos separarmos [a Fox e o profissional] devido a acusações completamente infundadas, mas infelizmente essa é a realidade para muitos que somos personagens públicos”, disse o jornalista em nota.

O’Reilly, de 67 anos, estava na Fox desde 1996 e sua saída custa caro à emissora. Seu programa gerou 446 milhões em publicidade desde 2014. Há poucas semanas, com as denúncias já sobre a mesa, vários veículos de imprensa informaram que seu contrato havia sido renovado. Mas as acusações causaram um mal-estar na opinião pública nas últimas semanas, como resultado das notícias sobre pagamentos milionários para encobrir os casos, um escândalo que tinha levado marcas associadas ao programa a se desvincular do produto. O caso O’Reilly provocou uma fuga de até 50 anunciantes do show, entre eles, marcas como Mercedes, BMW e Hyundai.

Dias atrás, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou seu apoio ao apresentador. “Acho que o conheço bem, é uma boa pessoa”, disse Trump. “Acho que não deveria ter aceitado o acordo, minha opinião pessoal é que não deveria ter aceitado, deveria ter ido até o final, acho que não fez nada de ruim”, afirmou. Também apoiou Roger Ailes quando renunciou após as acusações de assédio e deu um emprego a ele.

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