Família de copiloto da Germanwings que bateu nos Alpes em 2015 lança dúvidas sobre sua culpa
Pai desmente versão de que seu filho padecia de depressão que o levou a acabar com a vida de 149 pessoas
O momento escolhido parece cheio de simbolismo. Nesta sexta-feira completam-se dois anos do voo da empresa Germanwings, procedente de Barcelona com destino a Düsseldorf, que acabou com a vida de 150 pessoas. Passavam poucos minutos do momento exato do segundo aniversário da catástrofe quando apareceu na abarrotada sala de um hotel berlinense Günter Lubitz, o pai de Andreas, o copiloto a quem tanto o Ministério Público alemão como o francês apontam sem nenhuma sombra de dúvida como único responsável. Ele e sua família haviam passado, segundo disse, dois anos escondidos.
Durante quase duas horas o patriarca dos Lubitz e o jornalista especialista em aviação contratado pela família trataram de buscar resquícios na versão oficial aos quais se agarrarem. Queriam a todo custo afastar a insuportável ideia de que seu filho querido tenha causado propositadamente a morte de 149 pessoas. Mas ele mesmo também não está seguro da inocência de Andreas. Ao ser indagado levou alguns segundos para responder. “Só estamos buscando a verdade”, se limitou a dizer.
Diante da teoria assumida pelos investigadores de que o jovem Lubitz jogou voluntariamente o avião nos Alpes franceses, seu pai acredita que não há provas conclusivas que possam confirmar isso. Os dois não apresentaram nenhuma prova definitiva e nenhuma teoria consistente alternativa. Tão somente tentaram semear dúvidas. Afirmaram, por exemplo, que não estava demonstrado que o copiloto estivesse consciente durante a descida do avião.
Há algo em que o pai foi, de fato, taxativo: desmentiu que Andreas, a quem definiu como uma pessoa “alegre e com vontade de viver”, padecesse de fortes depressões. “No momento do acidente, nosso filho não era um suicida”, afirmou com um semblante petrificado, que refletia a tensão pela qual estava passando. Diante dessa afirmação categórica, mais tarde lhe custou explicar por que na residência de seu filho haviam sido encontrados medicamentos antidepressivos ou por que tinha ido trabalhar, apesar de estar sob licença médica.
Foram quase dois anos de silêncio absoluto. A família Lubitz permaneceu afastada da polêmica, exceto por pequenos detalhes como a publicação de um bilhete em que definiam Andreas como uma pessoa “encantadora e valente”. Esses qualificativos irritaram parentes e amigos de vítimas do malfadado voo 4U9525. Mas os Lubitz decidiram agora vir a público pra tentar limpar o nome do seu filho. E o momento escolhido contribuiu para esquentar ainda mais os ânimos. Os parentes dos mortos –entre os quais havia 50 espanhóis– consideram a coletiva uma “provocação”, convocada justamente quando se preparavam para prantear os seres queridos perdidos dois anos atrás.
Günter Lubitz foi à entrevista com os jornalistas com um dossiê com o qual pretendia revelar supostas falhas na investigação. “Inclusive o Ministério Público de Düsseldorf se distanciou da teoria da depressão e arquivou os processos contra os médicos. Continuam existindo muitas perguntas por responder e aspectos que foram deixados de lado”, acrescenta o patriarca dos Lubitz.
Apesar das dúvidas da família, os investigadores franceses e alemães insistem em que não há nenhum motivo para pensar em outro responsável. O piloto, que morreu aos 27 anos, tinha passado por dezenas de consultas médicas por causa de transtornos psíquicos e depressões, sofria de tendências suicidas e, no dia da catástrofe, deveria estar de licença médica, situação que ocultou da sua empresa. Os promotores concluíram que Lubitz aproveitou uma saída momentânea do piloto para bloquear o acesso à cabine e atirar o avião contra os Alpes.
Como aperitivo para a coletiva, Günter Lubitz concedeu a sua primeira entrevista nesta semana. O pai está convencido de que Andreas não queria se matar; alega que tinha planos de se casar e ter filhos, e que não deixou nenhuma carta de despedida. “Nosso filho era uma pessoa muito responsável (…). Não tinha nenhum motivo para se suicidar e levar 149 pessoas consigo. Algo assim não casa com sua personalidade”, afirmou ele ao semanário Die Zeit.
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