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Vitória de Trump põe em xeque a aproximação entre EUA e Cuba

Opinião oscilante sobre a normalização projeta sombras nas relações entre a ilha e os EUA

Pablo de Llano Neira
Turistas no Museu da Revolução em Havana.
Turistas no Museu da Revolução em Havana.Ramon Espinosa (AP)

“Os cubanos são as melhores pessoas do mundo. Adoraria ajudá-los a reconstruir se país e devolver seu antigo esplendor. Assim que mudarem as leis, estou disposto a levantar o Taj Mahal em Havana”, dizia o empresário Donald Trump há duas décadas.

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Hoje Trump é o presidente eleito do Estados Unidos e entre as inúmeras incertezas que cercam seu mandato está a política sobre Cuba. Agora seu papel não é imaginar os pitorescos negócios que poderia fazer na ilha, mas tratá-la como assunto de Estado.

O presidente que vai desocupar a cadeira do Gabinete Oval em 20 de janeiro, Barack Obama, abriu em 2014 o caminho para o fim do histórico conflito entre Washington e Havana. Resta ver se Trump vai continuar o processo ou rejeitar a doutrina Obama.

“Não sabemos o que vai acontecer. A situação poderia voltar para onde estava antes, com contatos mais limitados entre governos, recuperando força as sanções do embargo e reduzindo o contato entre os povos. A aproximação está em perigo”, diz Jorge Duany, diretor do Instituto de Estudos Cubanos da Florida International University.

"Não sabemos o que vai acontecer. A aproximação está em perigo"

O líder democrata imaginou que a melhor maneira de avançar o sistema cubano para a democracia era facilitar as trocas econômicas e humanas entre os dois países. Flexibilizou o envio de remessas, suavizou as condições para que os norte-americanos pudessem viajar para Cuba, reabriu os voos regulares, assinou autorizações para que algumas empresas pudessem fazer negócios com a ilha e removeu as barreiras para que seus compatriotas pudessem trazer de Cuba a quantidade de rum e charutos que quisessem.

Do ponto de vista do Trump economista, seria de esperar que não tivesse objeção a esta pragmática abertura comercial. O ângulo de sombra – porque mal se pode ver em que se pode consistir – é o ponto de vista do Trump geopolítico.

Ao longo de sua campanha o republicano passou de apoiar a aproximação com pequenas diferenças – “está bem, mas acho que deveríamos ter feito um acordo melhor” – a visitar duas semanas antes das eleições os veteranos da Baía dos Porcos com a promessa de não dialogar com Havana se não concordasse com uma abertura total das liberdades civis.

Um discurso que adotou para atrair o voto anticastrista, mas que poderia mudar ao avaliar, entre outras coisas, os interesses de empresas como Starwood (Cuba e seus hotéis), Caterpillar (Cuba e suas carências de máquinas para construção), Google (Cuba e sua falta de Internet) ou PayPal (Cuba e sua necessidade de bancos).

Se Trump quer fazer negócios, teria que obrigar seus colegas republicanos a levantar o bloqueio

“Trump já disse várias coisas e eu ficaria com a primeira: a de reconsiderar o acordo, e teríamos que perguntar a ele: ‘Bem, mas o que você quer? Fazer mais e melhores negócios?’ Se for assim, a bola está do seu lado: teria que forçar seus colegas republicanos a levantar o bloqueio. Se a sua política é a anunciada em Miami no fim da campanha, isso é vinho velho”, opina de Havana o ex-diplomata cubano Carlos Alzugaray.

A eleição de Trump deixou em suspense os cubanos dos dois lados do Estreito da Flórida. Se endurecer a política em relação à ilha, o fluxo econômico e familiar entre os dois lados poderia voltar a ser difícil.

O revés potencial chega bem quando o voto cubano-americano optou pela primeira vez pelos democratas. Cerca de 50% votaram pela derrotada Hillary Clinton e 48% por Trump, de acordo com a empresa de pesquisas Latino Decisions. Em 2012, antes do processo lançado por Obama, 65% apoiavam os republicanos.

Enquanto isso, o Governo de Cuba emitiu uma mensagem de felicitações neutra de Raúl Castro ao próximo presidente e, simultaneamente – mas sem relação expressa – o Ministério das Forças Armadas Revolucionárias (FAR) anunciou manobras militares na próxima semana.

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