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Olimpíada Rio 2016
Coluna
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Agora que tudo acabou...

Em meio à Rio 2016, candidatos aos cargos de prefeito e vereador buscavam seus eleitores; agora, Brasil volta à realidade

Funcionários retiram placas da Rio 2016, que chegou ao fim
Funcionários retiram placas da Rio 2016, que chegou ao fimPETER KLAUNZER (EFE)

Os Jogos Olímpicos terminaram em clima de euforia e orgulho nacionalista, tendo começado em um ambiente de pessimismo e depressão. E nada poderia ser mais emblemático: a seleção de futebol conquistou uma medalha de ouro inédita, vencendo a partida final contra a Alemanha, que nos havia aplicado aquele traumático e inesquecível 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014. Muitos viram nessa vitória uma “vingança”... Enfim, lavamos a alma: mostramos ao mundo que, aos trancos e barrancos, no final dá tudo certo, pois Deus é brasileiro e o jeitinho é a marca nacional...

Nestes dias, em que todos os olhares estavam voltados para o Rio de Janeiro, o Senado aprovou o relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG) – homem de confiança de Aécio Neves, candidato derrotado nas eleições de 2014 – que recomenda a destituição da presidente Dilma Rousseff. O processo deve ser concluído na semana que vem – mas o resultado, desfavorável à petista, já há muito é conhecido. O presidente interino, Michel Temer, que ausentou-se da festa de encerramento dos Jogos Olímpicos para não correr o risco de ser vaiado novamente, como aconteceu na cerimônia de abertura, vai assumir o restante do mandato, ocupando assim um lugar que por mérito próprio nunca alcançaria.

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Quando vibrávamos a cada uma das 19 medalhas ganhas nas Olimpíadas, Temer era acusado formalmente por Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira que leva seu nome, de ter recebido, em maio de 2014, R$ 10 milhões, via caixa dois, para o PMDB, partido do qual era presidente. Ele já havia sido arrolado na denúncia de outro envolvido na Operação Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que responsabilizou-o pelo pedido, em 2012, de R$ 1,5 milhão destinados ao então candidato à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, hoje vice na chapa do petista Fernando Haddad, que disputa a reeleição.

Aliás, enquanto permanecíamos em frente aos aparelhos de televisão acompanhando o desempenho de atletas de países que nem desconfiávamos que existiam em modalidades esportivas que sequer tínhamos ouvido falar, os candidatos a prefeito e vereador já estavam nas ruas, avenidas, vielas e becos suando a camisa em busca de votos. São quase 16 mil concorrentes a cerca de 5,5 mil vagas de prefeito e mais de 450 mil disputando em torno de 58 mil cadeiras de vereador - a maioria com certeza imbuída não dos mais altos sentidos cívicos de prestação de serviços à comunidade, mas apenas interessados nos vencimentos mensais e nos benefícios indiretos que exercer o cargo implica...

Em São Paulo, a maior cidade do Brasil, o prefeito ganha R$ 24 mil e os vereadores R$ 15 mil por mês. No entanto, como o limite para o salário de prefeito, não importa o tamanho do município, é o valor do salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (R$ 33,7 mil), há políticos em pequenos lugarejos recebendo mais até que o prefeito de São Paulo. No caso dos subsídios aos vereadores há complexos limitadores, mas, só para termos uma ideia, Natal (RN) paga aos seus legisladores os mais altos vencimentos entre todas as capitais, R$ 17 mil por mês.

C.S., taxista que faz ponto próximo à minha casa, me disse certa vez, referindo-se ao período eleitoral: “Lá vêm os políticos atrás do meu voto. Eles só se lembram de mim nesta época do ano”. E eu tive que advertir que também ele só se lembrava dos políticos nesta época do ano. Nós não exercemos o direito de escolher nossos representantes – nós nos livramos de um aborrecimento. No dia seguinte à eleição, nem recordamos mais do nome do candidato no qual votamos. E assim vamos vivendo neste que não é um país, mas um ajuntamento de pessoas que nem mesmo interesses gerais convergentes possuem.

Luiz Ruffato é escritor e jornalista.

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