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Coluna
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A esquerda brasileira está se deixando devorar pela direita

Após ter dirigido a política brasileira durante 13 anos, o PT está se convertendo em um partido minoritário e até marginal

Juan Arias
Lula no Recife-PE.
Lula no Recife-PE.Ricardo Stuckert (Instituto Lula)

A direita liberal brasileira está se saindo bem com o poder. Talvez menos por méritos próprios do que pelo fato de que a esquerda se deixou devorar por ela.

“A direita me dá medo, porque com esta esquerda covarde e dividida, tudo está sendo muito fácil para ela”, escreve em seu Facebook Esther Solano, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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Efetivamente, em vez de defender sua identidade e lutar por seus ideais, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi se envolvendo na arte dos compromissos por de baixo dos panos, artimanhas de pequenos jogadores de pôquer para surpreender os adversários, os quais chegou a chamar de “inimigos que há de ser exterminados”, em vez de apostar a céu aberto naquilo em que acredita.

Um exemplo está na disputa para a presidência da Câmera de Deputados. Em vez de um candidato da esquerda com peso, com programa próprio, capaz de reconciliar um Congresso ferido e dividido, o PT preferiu optar por um golpe de mão que irritasse o Governo interino de Michel Temer. Buscou um candidato do partido mais infiel. Perdeu, e a derrota foi ainda maior.

O PT já não reparte as cartas nem no Governo nem no Congresso. Após ter dirigido a política durante 13 anos, está se convertendo em minoritário e até marginal.

Os especialistas em ciência política terão, um dia, de estudar os motivos reais do declínio de um partido que chegou a inspirar e até mesmo a entusiasmar a esquerda de todo o continentePara nós, meros observadores, o que parece claro é que, no afã de tê-la como parceira fiel, que lhe garantisse governabilidade e continuidade no poder, a esquerda foi se deixando devorar pela direita mais conservadora.

O PT se sentiu com força e capaz de governar com o apoio das forças mais reacionárias do Congresso, a começar pela chamada bancada evangélica. Para isso, dividiu com elas o poder e aceitou compromissos que acabaram por desfigurá-lo.

Os partidos conservadores foram aos poucos utilizando os caminhos abertos a eles pela esquerda para ganhar confiança e se fortalecer, impondo cada vez mais nitidamente a sua visão e os seus princípios.

Em vez de trazer a parcela mais conservadora do Congresso para o campo da liberdade e da modernidade das grandes democracias, o PT pactuou com ela e selou compromissos que deixariam qualquer esquerda democrática envergonhada.

Em vez de promover uma purificação do conservadorismo, contaminou-se por ele. Em vez de impor uma nova ética na política, deixou-se fisgar pelo vírus da corrupção, até então considerado um patrimônio da direita. E incorporou tão bem a lição, que o partido parece ser hoje o campeão na arte de usar a máquina do Estado em proveito próprio, com dois presidentes e três tesoureiros condenados e presos.

Nenhum democrata poderia se sentir feliz ao assistir à desintegração da esquerda, muito menos de uma esquerda de caráter social, como foi o PT. O jogo político requer pluralismo, ideias divergentes, capazes de dar conta de todo o leque de uma sociedade plural.

Mais do que atacar as forças de direita e liberais por estarem se apoderando da política, é preciso que a esquerda saiba reconhecer os erros que cometeu em suas apostas.

Para se desintoxicar dos compromissos que o desfiguraram e fragilizaram ao longo dos anos, o PT precisaria voltar ao deserto para retomar o seu velho caminho de libertação.

Ser minoria não é pecado nem significa uma humilhação. O pior é não compreender que, como dizia Moisés para os judeus em sua travessia, o caminho para a libertação passa por abandonar os ídolos e por deixar de lamentar a perda das panelas de carne e das cebolas dos tempos da escravidão no Egito.

Somente os homens despojados, fieis às suas próprias convicções, que não se envolvem nos jogos sempre perigosos do compromisso e da sede de perpetuação no poder a qualquer preço, podem chegar à terra prometida.

A idolatria do poder acaba sempre por engendrar monstros difíceis de controlar.

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