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Coluna
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Lula quer ser absolvido nas urnas

Na selva política, o ex-presidente é mais leopardo que elefante. Não será que espera a hora de mostrar as garras pela última vez?

Juan Arias
Lula participa de evento contra o impeachment em abril
Lula participa de evento contra o impeachment em abrilRicardo Stuckert/ Instituto Lula

Como escudo contra as acusações de suposta corrupção que poderiam levá-lo aos tribunais, Lula pretende ser absolvido pelas urnas. Seria sua vingança pessoal.

Frei Betto, que conhece bem os segredos e as estratégias de Lula, quase seu confessor, fez duas afirmações importantes numa entrevista concedida a este jornal que desmontam dezenas de rumores e conjecturas.

O escritor jogou por terra a ideia de que Lula esteja triste ou deprimido. Ao contrário: estaria só à espera de que passe o tsunami da justiça para reaparecer.

Seus concorrentes não se esqueçam de que Lula é melhor no jogo rápido e inesperado do pôquer que no lento e reflexivo xadrez

“Agora que a Operação Lava Jato dá as cartas da política brasileira, convém para ele não sobressair muito”, disse, diplomático, Betto. Foi categórico também ao afirmar que o ex-presidente voltará a ser candidato nas eleições presidenciais de 2018, ao não ser que “esteja preso ou morto”. Acabou, assim, com as suposições. Lula está se preparando para voltar, desde que o imponderável não atravesse seu caminho. E ponto final.

O que não explicou o escritor e biógrafo de Fidel Castro é o motivo dessa necessidade peremptória de Lula de querer voltar a disputar a Presidência.

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Será, talvez, por esse vício irresistível que atinge quase todos os políticos uma vez provado o fruto proibido do poder? Sim, mas não só isso. Existem outras razões que Betto poderia explicar melhor. Entre elas, que Lula é um político que sempre se sentiu acima de todos, insubstituível. Foi assim em 2014, quando Dilma, sua pupila, fechou-lhe então a passagem. O ex-presidente chegou a dizer, sem muito pudor, que hoje só ele pode colocar o país nos trilhos.

O reconhecimento foi dado a Lula pelo presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, quando o apresentou como o político mais popular do mundo, exclamando: “Amo este homem”. Estava exaltando o mito americano do sujeito que sai do nada e consegue se superar.

O destino quis que o mito começasse a mostrar fissuras sob as acusações de suposta corrupção, esse vírus que está tomando conta da classe política do País – e parece não ter respeito nem mesmo por ele.

“Não existe alma viva mais honesta do que eu”, reagiu Lula, indignado, às acusações. Betto também aposta por sua honradez ética. O ex-presidente sabe, no entanto, que não é o que pensam alguns juízes que estão revirando sua vida e até mesmo tentam provar que ele foi o chefe da quadrilha. Mas quem conhece Lula sabe que é um político que não se rende. Quando parece mais abatido é quando mais levanta a cabeça. É mais perigoso, dizem, na sobra que ao sol.

Sabe que, para sair do atoleiro aonde foi empurrado por um destino que nunca esperou, não tem outra saída a não ser arriscar-se a desafiar tudo e voltar, pela sexta vez, a disputar eleições presidenciais para vencê-las pela terceira vez. Terá então 73 anos.

Há, no entanto, um último motivo, talvez o mais importante, por trás da volta de Lula ao poder: buscar sua absolvição nas urnas. Seria seu desafio e sua vingança em relação aos juízes. Que os brasileiros o absolvam com seu voto. Uma vez eleito presidente, Lula nem sequer poderia ser julgado pelos supostos crimes cometidos fora de seu mandato.

Tudo isso pode parecer um quebra-cabeça, mas para Lula é só um jogo político. “Nunca antes neste país” foi seu slogan quando era presidente.

Hoje também? É o que terão de responder agora os eleitores nas urnas. Ele tentará a jogada.

Que seus concorrentes não se esqueçam de que Lula é melhor no jogo rápido e inesperado do pôquer que no lento e reflexivo xadrez, como afirmam seus velhos amigos do sindicato.

Lula, na selva política, é mais leopardo que elefante.

Não será que espera, na sombra da noite, a hora de mostrar as garras pela última vez?

O tempo dirá.

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