Atentado contra ônibus de policiais mata 11 em Istambul
Bomba ativada por controle remoto explodiu perto de uma parada do transporte coletivo

Um atentado voltou a sacudir a principal cidade da Turquia nesta terça-feira. A explosão de um carro-bomba acionado por controle remoto junto a um ônibus da polícia, em pleno centro histórico de Istambul, deixou pelo menos 11 mortos e dezenas de feridos. “Sete agentes e quatro civis morreram, outras 36 pessoas ficaram feridas”, disse o governador provincial, Vasip Sahin, em um breve comunicado à imprensa, no qual prometia mais informações no decorrer da investigação.
A explosão ocorreu por volta de 8h40 (2h40 pelo horário de Brasília), no bairro de Vezneciler, a menos de 100 metros da estação de metrô homônima, de uma importante parada de ônibus e da Prefeitura Metropolitana. Também perto dali ficam a Universidade de Istambul, o aqueduto de Valente, o Grande Bazar e a praça Beyazit, razão pela qual é uma área muito frequentada por turistas. A imprensa local observou que o fato de o vizinho hotel Celal Aga estar fechado evitou que o número de mortos fosse maior.
Várias ambulâncias foram para o local. Por causa da explosão, o ônibus que transportava os policiais capotou, e veículos e vitrines dos arredores foram destruídos, conforme mostraram as primeiras imagens. Também a mesquita Sehzade, uma obra-prima do arquiteto Sinan construída no século XVI, foi danificada.
Footage shows the last situation of Police vehicle targeted by detonated a parked vehicle #Vezneciler #Turkeypic.twitter.com/vCtpa1sD9L
— hONoUR (@Jakoben1789) June 7, 2016
Testemunhas relataram à agência oficial Anatolia e à privada DHA que tiros foram ouvidos depois da explosão. Além de isolar a área, a polícia desocupou edifícios próximos e, pelos alto-falantes de uma mesquita próxima, pediu aos fiéis que deixassem o templo para que agentes antibomba pudessem revistar a área em busca de outros artefatos explosivos. “Trata-se de uma medida de precaução habitual. Nestes casos, qualquer coisa suspeita que for encontrada será detonada de forma controlada”, disse o governador Sahin.
Apesar de não ter sido reivindicado por nenhum grupo, o modus operandi e o alvo fazem suspeitar de grupos armados curdos, como os Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK) e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), envolvidos desde julho numa incessante luta contra o Estado turco, que já resultou na morte de 1.500 pessoas, sendo um terço delas civis. Pelo menos seis localidades na região curda da Turquia foram sitiadas pelo Exército, e imensas áreas suas foram reduzidas a escombros pelos bombardeios e combates. Segundo a ONG Anistia Internacional, 500.000 curdos ficaram desabrigados por causa do conflito.
VIDEO: Aftermath of the explosion in #Istanbul #Turkey - @postacomtr
— Conflict News (@Conflicts) June 7, 2016
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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, mencionou a suspeita contra os curdos ao dizer, pela televisão, que “não é nenhuma novidade que o PKK cometa atentados nas principais cidades, como Istambul”. Erdogan, depois de visitar o hospital que está atendendo os feridos, prometeu combater o terrorismo “de maneira implacável e até o final”.
Em represália pela campanha militar de Ancara, o TAK havia ameaçado cometer atentados contra o setor turístico da Turquia e contra cidades do oeste do país. Em fevereiro e março, dois ataques mataram mais de 60 pessoas, em sua maioria civis, na capital turca. Esta organização diz ser independente do PKK, mas vários analistas a veem como um grupo de fachada da guerrilha curda, numa estratégia para que os atentados não abalem a popularidade do PKK – algo já feito décadas atrás pelo grupo Setembro Negro em benefício da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Em 12 de maio, um atentado do PKK contra um comboio militar no bairro de Sancaktepe, no lado asiático de Istambul, feriu cinco soldados e três civis. Um dia depois, numa aldeia da província de Diyarbakir (sudeste), um caminhão carregado com 15 toneladas de explosivo foi acidentalmente acionado, matando quatro membros da organização curda e 12 moradores que haviam descoberto os milicianos e tentavam convencê-los a se entregarem.
A insurgência curda, porém, não é a única suspeita, já que o Estado Islâmico (EI) também tem a Turquia na mira desde o ano passado, quando Ancara começou a combater ativamente a organização jihadista. Desde então, suas ações mataram 200 pessoas em diversos ataques em Diyarbakir, Suruç, Ancara, Istambul, Gaziantep e Kilis. Em Istambul, o Estado Islâmico causou a morte de 10 turistas alemães na praça Sultanahmet, em janeiro, e de outras quatro pessoas em março na avenida Istiklal, dois lugares muito frequentados por visitantes estrangeiros. No caso de Kilis, os jihadistas submeteram a localidade a um intenso bombardeio de obuses que, nos últimos meses, mataram cerca de 20 pessoas.