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“Negar o referendo o transforma em um ditadorzinho”, diz chefe da OEA a Maduro

Luis Almagro acusa o Governo de Maduro de corrupto e de trair a democracia

Silvia Ayuso

A guerra entre Nicolás Maduro e Luis Almagro já é aberta. Um dia depois de o presidente venezuelano ter chamado o Secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) de “traidor” a serviço da CIA, na terça-feira Almagro acusou Maduro de mentir e instou-o a pôr um freio na corrupção em seu Governo, a libertar os presos políticos, a devolver à Assembleia Nacional seu “legítimo poder” e a acabar de uma vez com a “miséria, a intimidação e a angústia” do povo que governa.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusa Almagro de “traidor”.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusa Almagro de “traidor”.FEDERICO PARRA (AFP)
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Além disso, Almagro advertiu seriamente Maduro contra brincar com a ideia de um golpe de Estado e de se atrever a impedir o referendo revogatório promovido pela oposição, sob pena de se tornar um “ditadorzinho”.

“Não sou traidor. Não sou traidor de ideias, nem de princípios, e isso significa que não sou traidor do meu povo, que se sente representado pelos princípios da liberdade, honestidade, decência, probidade pública (sim, dos que entram e saem pobres do exercício do poder), democracia e direitos humanos” respondeu Almagro numa “mensagem ao presidente da Venezuela”.

“Mas você o é, presidente, você trai o seu povo e sua suposta ideologia com suas diatribes sem conteúdo, você é traidor da ética da política com suas mentiras e você trai o princípio mais sagrado da política, que é submeter-se ao exame do seu povo”, afirma.

A “mensagem” de Almagro a Maduro tem 380 palavras, uma mais dura do que a outra, e deixa claro que o secretário-geral da OEA não acredita mais que a diplomacia e os bons ofícios possam ajudar a resolver a crise no país sul-americano. É, também, uma lista de ofensas que, na opinião dele, o Governo de Maduro perpetrou contra o povo venezuelano nos últimos anos e que considera necessário emendar o presidente se ele quer permanecer no poder com legitimidade.

“Você deve devolver a riqueza daqueles que governaram contigo o seu país”, pede a Maduro. Da mesma forma, exorta-o a “devolver (a) justiça ao seu povo em toda a dimensão da palavra”. Algo que significa, esclarece se não ficou claro, “encontrar os verdadeiros assassinos dos 43 e não os que estão presos por suas ideias, mesmo que não sejam as suas nem as minhas”. E implica também em “devolver os prisioneiros políticos às suas famílias”.

Não param por aí as tarefas pendentes de Caracas, ressalta. “Você deve devolver à Assembleia Nacional o seu legítimo poder, porque ele emana do povo, você deve devolver ao povo a decisão sobre o seu futuro”, disse Almagro. E isso inclui o “imperativo de decência pública de fazer o referendo revogatório neste ano de 2016”.

“Negar a consulta ao povo, negar a possibilidade de decidir, o transforma num ditadorzinho mais, como muitos que teve o continente”, adverte.

A mensagem de Almagro, que ele mesmo se encarregou de enfatizar em uma dezena de tuítes, é uma resposta contundente à longa diatribe de Maduro contra a OEA, contra seu secretário-geral e contra países como a Espanha ou os Estados Unidos, que responsabilizou por estar por trás de uma “conspiração internacional” para derrubá-lo.

O tom de Caracas em relação a Almagro vem endurecendo praticamente desde que o uruguaio assumiu a chefia da OEA, faz agora um ano, em vista de seus pedidos para visitar a Venezuela, negados assim como seus pedidos que Maduro aceitasse que a OEA fosse observadora das eleições. A crispação atingiu um novo clímax nas últimas semanas, depois que Almagro aceitou analisar, a pedido de um grupo de deputados da oposição, se tem justificação aplicar a Carta Democrática Interamericana à Venezuela, possibilidade que Caracas questiona. Desde então, intensificaram-se as acusações venezuelanas contra Almagro, que culminaram com a diatribe de terça-feira do próprio Maduro, que alegou ter roupa suja do ex-chanceler uruguaia.

“Sua mentira, embora repetida mil vezes, nunca será verdade”, respondeu Almagro, que adiantou estar preparando um relatório sobre a situação da Venezuela e a possibilidade de aplicar a Carta Democrática ao país.

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