Chegada da tocha olímpica ao Brasil vira ato político de Dilma e alvo de protestos
Presidenta não fala em golpe, mas diz que país vive momento de instabilidade política
Na maioria dos países por onde passa, a tocha olímpica costuma ser o símbolo da paz e de uma suposta união dos povos. No Brasil, ela chega em circunstâncias políticas sui generis diante do iminente impeachment da presidenta Dilma (PT). Nesta terça-feira, em Brasília, cerca de 300 manifestantes contra e a favor da destituição da presidenta se xingaram, trocaram empurrões e alguns entraram em confronto com a polícia, que fazia a segurança da tocha. Em ao menos dois momentos os policiais precisaram usar o spray de pimenta para dispersar alguns dos militantes que protestavam.
A tocha foi carregada por atletas e pessoas indicadas pelo comitê olímpico e patrocinadores. Ao longo do trajeto pelo qual esses eleitos passavam, haviam cartazes em diversos idiomas. Alguns pediam o impeachment da presidenta. Outros, diziam que não haverá golpe no Brasil, chamavam de conspiradores o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (ambos do PMDB), e criticavam parte da imprensa brasileira por entender que ela estava de acordo com a destituição da petista. Tinha ainda um manifestante fantasiado de “pixuleco”, que é uma caricatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário. Nenhuma faixa ou cartaz fazia referência ao jogos do Rio 2016.
“Estou seguindo a tocha apenas para denunciar o golpe de Estado que o Brasil está sofrendo. O mundo precisa ficar atento para isso”, disse o estudante de direito Pedro Lopes, de 19 anos, que empunhava uma faixa dizendo Fora Temer. A cerca de 20 passos de distância dele, um maratonista que se identificou como José Silva (o nome mais comum entre homens brasileiros), de 45 anos, vestia roupas com as cores da bandeira nacional, dizia que golpe “era ter Dilma na chefia do Executivo”. “Cansamos desse Governo. Queremos aproveitar a passagem da tocha para mostrar que nosso país está quebrado. Ainda bem que a presidente está indo embora”, afirmou.
Foi nesse clima pouco amistoso que o símbolo dos Jogos Olímpicos desembarcou na capital brasileira por volta das 7h30 desta terça-feira e, em um ato incomum nesse tipo de evento, foi levada pela organização para o Palácio do Planalto. Na sede da Presidência da República, a tocha foi recebida em uma cerimônia política por Rousseff, parte do seu staff, representantes dos Comitês Olímpico e Paraolímpico Brasileiro, delegações estrangeiras e atletas.
Comedida em seu discurso, a presidenta, dessa vez, não falou diretamente que era vítima de um golpe, como tem dito na maioria das oportunidades em que tem uma tribuna ao seu dispor. Ressaltou, porém, que o país vive um momento de crítico. “Conhecemos a instabilidade política. O Brasil será capaz de, mesmo convivendo com um período difícil, muito difícil, verdadeiramente crítico, da nossa história e da história da democracia do nosso país, saberá conviver porque criamos todas as condições para isso, com a melhor recepção de todos os atletas e de todos os visitantes estrangeiros”.
A presidenta aproveitou para pedir que a população se contagiasse pelo espírito olímpico e disse, assim como fez na Copa do Mundo de 2014, que o Brasil sediará os melhores Jogos de todos os tempos “Deixemos que essa chama guie toda a humanidade, todos os países que vierem aqui ao Brasil participar, mais uma vez, celebrar a paz entre as nações. Vamos todos nós, juntos, ter o orgulho de estarmos oferecendo a melhor Olimpíada do mundo, e sermos quem somos e mostrar ao mundo o nosso valor dentro e fora da arena; dentro e fora de todos os equipamentos onde a competição terá lugar”. Enquanto ela discursava, a Comissão de Impeachment do Senado fazia sua sexta reunião para discutir o processo de impedimento presidencial. A expectativa é que até o dia 11 o Senado vote o provável afastamento da presidenta de seu cargo.
No Distrito Federal, a tocha olímpica foi acesa por Rousseff e entregue para a bicampeã olímpica Fabiana Claudino, a capitã da seleção brasileira de vôlei. O símbolo percorre 118 quilômetros pela capital e, depois, passará por 327 cidades, das cinco regiões do país até o dia 5 de agosto, quando chega ao estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para acender a pira olímpica. Ao todo, 12.000 pessoas conduzirão a tocha.
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