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A música soma vozes contra a violência de gênero

Concurso recebe 190 composições contra os maus-tratos e por uma sociedade livre de abusos

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Violência de gênero é um tema que permeia não só as letras, mas as vidas de diversos ídolos da música. Pense em estrelas do jazz (Billie Holliday, Nina Simone), em divas do pop (Rihanna), em nomes prestigiados do indie (Tori Amos) e não faltarão histórias de relacionamentos abusivos, agressões físicas e psicológicas.

Felizmente, para essas e outras artistas, a música também é um instrumento de desabafo e luta. No Brasil, um recente concurso realizado pelo Congresso Nacional, em parceria com o Banco Mundial, recebeu nada menos do que 190 composições.

O número chama a atenção em um país de tradição musical tão rica, e ao mesmo tempo de tantas canções que constroem uma imagem negativa da mulher, naturalizando as agressões de gênero. Violência, aliás, que dá ao Brasil o quinto lugar global no ranking de homicídios de mulheres.

As cinco músicas vencedoras do concurso foram premiadas com a produção de videoclipes, e mais 20 gravadas em 5.000 CDs. Rock, samba, rap e outros ritmos embalam letras sobre a Lei Maria da Penha, uma das mais completas legislações do mundo no combate à violência contra a mulher, que completa 10 anos de vigência em 2016.

Em algumas delas, a mensagem não poderia ser mais direta. São os casos do rap “Lei Maria da Penha”, das DJs Luana Hansen e Drika Ferreira, e do rock “Ligue 180” – uma referência ao número nacional que recebe denúncias de agressões contra a mulher –, da cantora Fernanda Azevedo.

“Me coloquei no lugar da mulher que sofre violência e a inspiração veio de uma maneira muito forte”, lembra Fernanda. Embora tenha feito carreira com canções gospel e pops românticos, desta vez a artista optou pelo rock para passar um sentimento de urgência.

Há ainda canções com histórias pessoais, caso dos raps “Em uma Só Voz”, de Lidiane de Jesus, e “Meu Pai é um Monstro”, de Dr. Paulo, ambos artistas do Distrito Federal. “Maria da Penha me inspirou com sua persistência. Todas nós recebemos um imenso presente por ela não ter desanimado”, diz Lidiane, referindo-se à farmacêutica que lutou por 19 anos até ver o ex-marido receber punição pelas agressões que cometeu.

Finalmente, há um samba entre os campeões. “Maria da Penha”, de Juraildes da Cruz, traz narrativa comum às mulheres retratadas nesse gênero musical: a de uma esposa submissa a um marido bêbado e machista. A história, porém, tem um final diferente, mostrando o homem punido pela lei.

Esperançosas ou tristes, dançantes ou introspectivas, as canções apresentam algo em comum: “Elas têm uma prosa que é realmente boa e trazem distintos pontos de vista”, avalia o coordenador geral de operações do Banco Mundial no Brasil, Boris Utria, que também é músico e fez parte da comissão julgadora. E desde já, disponíveis em meio digital, estão prontas para ganhar o mundo e inspirar mulheres e homens a agir.

Mariana Kaipper Ceratti é produtora on-line do Banco Mundial.

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