_
_
_
_
_

Clinton freia Sanders em Nevada ao grito de “sim, nós podemos”

Vitória, amparada no eleitorado latino e feminino, é um sopro de ar para a candidata

Pablo Ximénez de Sandoval
Trabalhadoras latinas apoiam Clinton em Las Vegas.
Trabalhadoras latinas apoiam Clinton em Las Vegas.AFP

O doce momento vivido pela campanha de Bernie Sanders terminou na noite deste sábado no Estado de Nevada. Hillary Clinton fez valer a implantação de sua campanha sobre o terreno desde 2008, num Estado que é uma tradicional base democrata e onde 28% do eleitorado é latino. Em Las Vegas, que concentra 70% da população do Estado, a ex-senadora abriu 10 pontos de vantagem sobre seu rival socialista, graças principalmente aos votos dos funcionários de cassinos e restaurantes. Já Sanders venceu o caucus (assembleia eleitoral) nas zonas rurais do Estado.

Mais informações
Bernie Sanders, o candidato de esquerda que injeta adrenalina nas eleições dos EUA
Trump vence na Carolina do Sul e se fortalece como favorito republicano
Trump compra domínios de Bush e Clinton para atrair usuários ao seu site
Obama: “Acho que Trump não será presidente. Isto aqui não é um ‘reality show’”

O condado de Clark, onde fica a populosa Las Vegas, tem um peso incontestável no processo de definição dos candidatos presidenciais em Nevada. Dentro desse condado, os maiores distritos ficam no centro de Las Vegas, onde trabalha a maior parte da base eleitoral democrata, da qual 17% é composta por eleitores de origem hispânica. E, dentro de Las Vegas, há os cassinos. A imprensa presenciou no sábado um caucus no mais puro estilo Vegas: num salão do gigantesco Caesars Palace, onde quase 300 funcionários deixaram durante duas horas as mesas de jogos e as cozinhas para escolherem o seu candidato a presidente.

Eram 10h45 de sábado (4h45 em Brasília, ainda pelo horário de verão) quando Jimmy León, de 52 anos, se colocou no primeiro lugar da fila para se registrar. Nascido em uma família mexicana da Califórnia, ele mora em Las Vegas há 20 anos e trabalha num restaurante, na categoria master cook, segundo a classificação do sindicato da Hotelaria. Veio no seu dia de folga, vestindo uma camiseta de Hillary Clinton. “Os dois são bons, mas ela tem muitíssima experiência”, comentava. “Além disso, nós nos lembramos muito do presidente Clinton [marido da pré-candidata]”. Atrás dele, viam-se muitas camisetas azuis da campanha de Clinton na fila do cadastramento.

Foi essa base eleitoral que garantiu à aspirante a ansiada vitória para demonstrar que, após anos de pré-campanha e de aproximação com os latinos e os sindicatos, ela é de fato a opção mais viável entre os democratas. Em meio a centenas de pessoas que esperavam para entrar no salão do centro de convenções do Caesars Palace, os apoiadores de Clinton (e também os hispânicos e as mulheres) formavam uma vasta maioria, bombardeando os partidários de Sanders com o grito de “Sim, se pode”, um lema cunhado na década de setenta pelo ativista hispânico César Chávez, na forma espanhola “sí, se puede”, e depois traduzido para “yes, we can” e transformado no slogan eleitoral de Barack Obama em 2008. Neste sábado, o grito de guerra foi apropriado pelos hispânicos e mulheres de Nevada em favor de Clinton.

Margem estreita

Gabriela Rivera, há 28 anos trabalhando nas cozinhas do cassino, explicava seu apoio a Clinton: “Ela é mais forte, e queremos ver o poder da mulher. Quero que vejam que as mulheres podem, que nos deem uma oportunidade pela primeira vez”. À frente dela na fila para votar estava Jameson Turner, anglo-saxão e supervisor de mesas de jogo, que apoiou Obama em 2008 e desta vez optou por Sanders. Turner não via uma divisão entre hispânicos e não hispânicos nas preferências de voto, mas sim entre mulheres e homens. As mulheres apoiam Clinton maciçamente, segundo ele. O salão do Caesars, apesar de não ser fielmente representativo do processo eleitoral de Nevada como um todo, reuniu 278 eleitores no sábado, e Clinton teve mais do que o dobro dos apoios de Sanders.

Entretanto, para ela o importante não era apenas vencer em Nevada. Ela precisava arrasar. Sua campanha estava azeitada neste Estado, especialmente entre os trabalhadores hoteleiros e os hispânicos, há oito anos, desde que ela bateu Obama por estreita margem no caucus de 2008. Mais recentemente, ela passou meses somando forças, e tinha uma ampla vantagem sobre Sanders no eleitorado latino. Uma vitória por apenas quatro pontos (52% a 48%), sendo que há dois meses as pesquisas lhe davam entre 20 e 40 pontos de vantagem, sugere que os problemas não acabaram para ela. Da mesma forma, Sanders comprovou que enfrenta dificuldades em áreas dos EUA onde há predomínio dos assalariados e uma grande diversidade étnica. O resultado é fácil de utilizar para as duas campanhas: Clinton ganha entre as minorias, mas Sanders quase conseguiu empatar, no Estado mais difícil até agora.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_