O ‘influencer’ de Deus
Carlo Acutis , que morreu aos 15 anos e foi beatificado com seus tênis Nike e calças jeans, pode se tornar o primeiro santo ‘millenial’. Criança brasileira recebeu milagre atribuído a ele
Os santos rejuvenescem e já não são responsáveis apenas por remotos milagres. Carlo Acutis ascendeu ao altar dos beatos, o primeiro passo para sua santificação, vestindo calças jeans e tênis Nike. O jovem, que morreu aos 15 anos vítima de uma leucemia repentina, foi beatificado no dia 10 em Assis, Itália, abrindo a possibilidade de se tornar o primeiro santo millenial. A suposta ascensão aos céus de um garoto que adorava comunicação, informática e redes sociais se conecta plenamente com uma geração de católicos afastada inevitavelmente de alguns dos mitos da santificação. O “influencer de Deus” ou “padroeiro da Internet”, como é conhecido pelos milhares de devotos que já o seguiam antes da cerimônia de beatificação, inaugura uma nova era no culto a ídolos católicos. Sua história, por vários motivos, deu a volta ao mundo na semana passada.
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Carlo Acutis nasceu em 1991 em Londres, para onde seus pais, uma família da alta burguesia de Turim, tinham se mudado por motivos de trabalho. No entanto, o menino cresceu e desenvolveu suas paixões (a informática e a fé) em Milão. Seu trabalho nas redes sociais e na Internet em favor da Igreja o tornou uma figura conhecida no mundo da juventude católica. O próprio Papa se referiu a ele e a essa característica de mensageiro na semana passada, assinalando que o jovem “soube usar as novas técnicas de comunicação para transmitir o Evangelho, comunicar valores e beleza”. Para o cardeal Angelo Becciu, então prefeito da Congregação para as Causas dos Santos − hoje caído em desgraça devido aos escândalos que atingem a Santa Sé −, era “um exemplo de fé para os jovens”. “Ele criou um projeto de computação sobre assuntos da fé, tinha um site sobre milagres eucarísticos. Portanto, esse jovem viveu sua fé ao máximo”, assinalou Becciu.
O talento para a computação não basta para atrair a atenção da Congregação para as Causas dos Santos. O milagre atribuído a Acutis e necessário para sua beatificação aconteceu em 2013, quando, segundo a versão aceita pela Igreja, salvou a vida de uma criança brasileira “com uma rara anomalia anatômica congênita” conhecida como pâncreas anular. O menino nasceu em 2010 em Campo Grande com uma lesão que dividia o órgão em duas partes, para a qual precisava, teoricamente, de uma cirurgia. Sua família, no entanto, pediu a intercessão de Acutis, que já havia morrido. Basicamente, foi feita uma oração celebrada por um sacerdote diante de um pedaço do pijama do futuro beato, que o menino tocou. A cirurgia nunca chegou a ser realizada porque a criança se recuperou, sem uma aparente explicação médica. Um fato que a Congregação para as Causas dos Santos reconheceu como o milagre necessário para a beatificação de Acutis.
A última surpresa chegou quando os devotos que compareceram à cerimônia do dia 10 em Assis − lugar onde pediu para ser enterrado − comprovaram como o corpo do jovem estava aparentemente incorrupto. Ou seja, praticamente intacto. Mais um suposto sinal da singularidade de Acutis. Quando é realizada uma beatificação ou canonização, o corpo do candidato aos altares é sempre exumado e é feita uma verificação. Mas o de Acutis não foi exumado no estado que depois foi mostrado, afirmou o bispo Domenico Sorrentino, da Diocese de Assis. “Foi encontrado no estado normal de transformação típico da condição post mortem”, assinalou. “O corpo, embora transformado, mas com várias partes ainda em sua conexão anatômica, foi tratado com técnicas de conservação e de integração normalmente praticadas para expor com dignidade à veneração dos fiéis os corpos dos beatos e dos santos. A reconstrução do rosto com uma máscara de silicone foi particularmente bem-sucedida.” A imagem do jovem deitado em sua sepultura com calças jeans, tênis Nike e camisa esportiva causou um enorme impacto. O símbolo de uma nova geração de santos.
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