Brasil e México, dois gigantes também no cinema
Os dois países estão entre os 10 que mais ingressos venderam em 2015
Cannes e Veneza são dois dos festivais de cinema mais importantes e renomados do mundo. O cinema latino-americano passou por esses eventos, em 2015, recolhendo prêmios que fizeram nada mais do que enaltecer a produção do continente, colocando-o novamente no mais alto patamar do cinema mundial. A indústria cinematográfica do México e do Brasil também pode se gabar de uma boa saúde econômica e de um crescimento a nível global. Entre os 10 países que mais ingressos venderam no mundo em 2015, estão o México, em quarto lugar, com 296 milhões, e o Brasil, em nono, com 168 milhões.
Em um cálculo de proporção, considerando a população desses países, no México, com uma população de 122 milhões de habitantes, uma pessoa vai ao cinema pelo menos duas vezes ao ano. No caso do Brasil, com população de 200 milhões de habitantes, uma pessoa frequenta o cinema pelo menos uma vez ao ano, segundo os Resultados Definitivos de 2015, da Câmara Nacional da Indústria Cinematográfica e Videograma (Canacine).
As duas nações latino-americana são superadas em quantidade de ingressos vendidos por Índia (2.007 bilhões de bilhetes), China (1.254 bilhão) e EUA (1.222 bilhão); no entanto, temos que considerar que a população dos dois primeiros é de 1.252 e 1.357 bilhão de habitantes, respectivamente. Os EUA, com 316 milhões de habitantes, também superam a dupla.
A religião move massas, e também o cinema brasileiro. Os Dez Mandamentos – O Filme, a trama bíblica que conta a história da libertação dos judeus das mãos dos egípcios por Moisés, estreou em mais de 1.000 salas, das 3.001 que existem no país. Antes da estreia, nos primeiros 20 dias de pré-venda, foram vendidos 2,4 milhões de ingressos.
Paris Filmes e Downtown Filmes, as distribuidoras do longa-metragem, fixaram a meta de superar o maior sucesso do cinema brasileiro: Tropa de Elite 2 (2010), que teve 11 milhões de espectadores. Até semana passada, o filme religioso havia arrecadado mais de 10 milhões de dólares (equivalente a 40 milhões de reais), segundo o medidor de bilheteria Box Office Mojo.
Outro destaque apresentado pelo relatório é que o México também é uma das 10 nações com maior bilheteria a nível global, com arrecadação de 1.045 bilhão de dólares (4 bilhões de reais), em décimo lugar. Além disso, o país teve o sexto ingresso médio mais barato do mundo em 2015 (3,2 dólares), seguido pelo Peru, em sétimo (3,48 dólares) e a Colômbia, em nono (4,2 dólares).
Esse documento também mostra que o México está entre os quatro países com mais salas de cinema (6.011) ao final de 2015, sendo a única nação latino-americana no top 10. É superada penas pelo vizinho EUA (40.547), China (30.041) e Índia (11.179). No entanto, apesar de ter uma das maiores quantidades de salas do mundo, o público e as receitas de bilheterias para o cinema nacional têm diminuído.
Mercado e demanda
17,2 milhões de espectadores foram assistir ao cinema mexicano em 2015, quase 10 milhões a menos que em 2013. O público gerou um faturamento de quase 39 bilhões de dólares ano passado, 28 a menos que dois anos atrás. No entanto, o presidente da Canacine, José Leonardo Martí, acredita que os números de 2015 são “muito importantes”, considerando que três filmes (Um gallo com muchos huevos, El gran pequeno e A la mala) arrecadaram mais de cinco milhões de dólares cada um.
Não aceitamos devoluções, de Eugenio Derbez, e Los Nobles: Quando os Ricos Quebram a Cara fizeram de 2013 um ano “extraordinário”. Apenas esses dois filmes arrecadaram, no México, mais de 51 milhões de dólares e convocaram mais de 22 milhões de espectadores às salas de cinema. “Há outros dados para contrapor o que se vê na queda de bilheteria. Foram feitos 104 filmes [em 2013], o que não acontecia desde 1954. Foram exibidos 85 filmes mexicanos [em 2015]. Não são muitos, mas se compararmos com os 190 filmes americanos e 182 de outros países, esse número de filmes foi importante”, afirma Martí.
O diretor da Canacine destaca que os filmes, embora que não tenham tido grandes bilheterias, foram “excelentes” em festivais internacionais de muito prestígio. As produções mexicanas receberam mais de 90 prêmios fora do país, com menções especiais a Chronic (de Michel Franco), que ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes e 600 millas (Gabriel Ripstein), que foi reconhecido como o Melhor Filme de Estreia no Festival de Berlim.
O México pode ratificar seu bom momento cinematográfico no Oscar se as previsões do Oscar se confirmarem. Alejandro González Iñárritu pode ganhar sua quarta e quinta estatueta dourada por O Regresso, assim como Emmanuel Lubezki, que pelo terceiro ano consecutivo receberia o prêmio da Academia americana por Melhor Fotografia pela sua segunda colaboração com o também diretor de Amores Brutos.
Então, o cinema artístico não interessa ao público mexicano? Para Martí, isso não é uma questão apenas desse país, mas também do mundo. “Os filmes que ganham prêmios nesses festivais não conseguem grandes bilheterias. São para um público mais especializado e conhecedor”. Explica que não é possível influenciar os espectadores a verem mais filmes nacionais, já que é uma “questão de gosto”. “É como a música. Quantas pessoas ouvem música clássica? É um número reduzido. Em outras artes acontece a mesma coisa”.
O diretor geral da Associação Mexicana de Cineastas Independentes (AMCI), Pedro Araneda, não se preocupa com a situação das produções nacionais e do cinema artístico. Acredita que é normal que as pessoas prefiram filmes divertidos ou dos grandes estúdios, já que isso é um reflexo da educação do país.
Por isso, considera importante que os produtores estejam com “as antenas ligadas” para captar as preocupações dos espectadores e saber por qual produto audiovisual se interessam.
Mostra-se satisfeito com a quantidade de espaços alternativos disponíveis para produções independentes. Como esse tipo de cinema aponta para um público específico, esses lugares ficam lotados e cumprem com a demanda. Diz que as próprias salas comerciais dão espaço para filmes artísticos e que, neste momento, o mercado cobre a demanda. “Quando a educação do país melhorar, as aspirações da vida vão mudar e também os filmes nas salas de cinema serão mais plurais, porque vamos ter uma procura mais diversa da comunidade mexicana”, finaliza.
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