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Brasileiros e hispano-americanos, (mais) unidos em prol dos filmes

América Latina investe no intercâmbio de talento técnico e criativo no cinema

'Cidade de Deus', de Fernando Meirelles, inspirou diretores fora do Brasil.
'Cidade de Deus', de Fernando Meirelles, inspirou diretores fora do Brasil.Divulgação

O Brasil, depois de desaproveitar por tempos os laços culturais com os vizinhos latino-americanos, anda investindo em parcerias com o cada vez mais potente cinema da região. Quer ocupar o lugar de coprodutor que foi da Espanha, nacionalizando aqui muitos filmes de outros países, tenta ampliar os acordos bilaterais de desenvolvimento de roteiro que já têm com a Argentina, o Uruguai e o Chile, e olha com um pouco mais de cuidado, finalmente, os exemplos ao seu redor.

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Prova disso é a recente visita de Alfredo Manevy, diretor da SP Cine (a empresa de apoio ao cinema e audiovisual de São Paulo), a Bogotá durante o evento do Fondo del Desarrollo Cinematográfico, ligado à agência colombiana Proimágenes, que distribuiu recursos para a nova safra de filmes nacionais. “Nos aproximamos da Proimágenes para pactuar maneiras de escoar a produção cinematográfica paulistana na Colômbia e vice-versa. Outra coisa é a film commission colombiana, cuja experiência inspira em parte a comissão que estamos montando na cidade”, diz Manevy, que pretende armar uma mostra brasileira lá e receber uma colombiana aqui.

Os colombianos celebram a aproximação, que, do lado deles, não começou hoje. Claudia Triana de Vargas, da Proimágenes, conta que quando criavam os moldes que resultaram na atual lei de cinema do país, a lei brasileira do audiovisual foi objeto de cuidadoso estudo deles. “Mandamos traduzir o texto para analisá-lo bem e pudemos aproveitar ideias”, ela relata. Claudia afirma que “os brasileiros são os mais parecidos aos colombianos na região, tanto na maneira de ser, como na diversidade cultural que caracteriza ambos países” e espera que, por conta disso, as parcerias e especialmente as coproduções aumentem. “Não temos no momento recursos para estabelecer um acordo bilateral, mas é um caminho a se pensar no futuro”, adianta.

À margem de acordos estatais, uma das produtoras colombianas mais ativas hoje no corte do chamado cinema de autor, a Burning Blue, buscou produtoras brasileiras para levantar os filmes La playa D.C, de Juan Andrés Arango (com a Bananeira Filmes, do Rio), e o já citado A terra e a sombra (com a Preta Portê, de São Paulo).

À frente da Bananeira, no Rio, Vânia Catani celebrou o movimento, dado quando ela já percorria um caminho de parcerias latino-americanas que faz de sua produtora, hoje, uma das que fala portunhol com maior fluência no país. “Quando comecei a viajar a festivais, achava curioso que nós, brasileiros, éramos tratados como latinos e incluídos no grupo dos argentinos, mexicanos, uruguaios... sem que nós mesmos nos conhecêssemos bem. Achava surreal conversar em inglês com um argentino e então decidi assumir essa turma de fato como a minha”, disse ao EL PAÍS. Deu certo. Hoje, Vânia tem nas mãos o que muitos gostariam de ter: a coprodução de Zama, novo filme da argentina Lucrecia Martel – uma das cineastas mais respeitadas da região.

Questão de método

C.M.

Um denominador comum a muitos filmes latino-americanos que despontaram nas últimas décadas é a mistura de atores profissionais com amadores. São inúmeros os exemplos de diretores que optaram por recrutar pessoas comuns para atuar em suas histórias – várias delas facilmente enquadradas no gênero do drama social, que se beneficia de atuações mais naturalistas.

Uma pessoa (com um filme em específico) deu o tom desse tipo de trabalho na região: a alagoana Fátima Toledo, que preparou o elenco de Cidade de Deus, integrando os meninos da comunidade carioca com os atores profissionais do longa-metragem de Fernando Meirelles. Desde que ele estourou na América Latina – e no resto do mundo –, Fátima vem aumentando sua circulação na região, ao lado de diretores que querem beber de seu método.

"Meu trabalho consiste em despertar nas pessoas as relações com os papeis que elas vão desempenhar nos filmes, buscando referências deles na vida", explica a especialista, que ganhou fama de vez junto aos hispano-americanos depois de preparar o elenco do filme mexicano La jaula de oro em 2003. Dirigido por Diego Quemada-Diez, o filme é o que mais prêmios ganhou na história do cinema do México e, inclui, no elenco, crianças guatemaltecas, incluindo um indígena que não falava espanhol.

Fátima diz que o trabalho de preparação é tão intenso, que os idiomas – o português dela, o espanhol da maioria – nunca foram um problema. E que dá um resultado diferente a essas histórias latino-americanas que combinam personagens e suas vivências pessoais a contextos sociais muitas vezes complicados. “Fazer cinema desta forma, mais humana, é uma marca desse novo cinema que nasceu na América Latina”.

O mexicano Luís Salinas, produtor de La Jaula, concorda. "Fátima desenvolveu com os meninos uma relação afetuosa, e eles, não os profissionais, foram os que terminaram ganhando prêmios de atuação", conta. Salinas é um dos sócios da Machete Producciones, uma das produtoras mexicanas que se especializou em coproduções, "mas que ainda não teve a chance de coproduzir com brasileiros". "O Brasil sempre nos chamou a atenção, sabemos dos apoios governamentais aos filmes, porém não é fácil. Uma coprodução tem que surgir naturalmente, a partir do projeto. Não pode ser forçada". Coincidência ou não, a próxima coprodução da Machete é o novo filme um colombiano: Juan Andrés Arango, que dirigiu La Playa D.C. e agora prepara uma história que se passa entre a Colômbia, o México e o Canadá, onde está radicado.

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