_
_
_
_

Bomba Estéreo, o foguete tropical

Colombianos fazem dançar misturando ritmos folclóricos com música eletrônica

Ana Marcos
Kike Egurrola, Julián Salazar, Liliana Saumet e Simón Mejía.
Kike Egurrola, Julián Salazar, Liliana Saumet e Simón Mejía.R. PIÑEROS

Um dos tuítes na conta do Bomba Estéreo diz: “As pessoas normais amanhecem bebendo com vallenato [ritmo latino que mistura merengue e outros sons], na minha família amanhecemos com Bomba Estéreo”. Esses poucos caracteres resumem o que conseguiu numa década a banda colombiana: encarando a cúmbia, a champeta e outros ritmos folclóricos tocados na região do Caribe, puseram-nos para dançar com a música eletrônica. Com respeito pela tradição e muita diversão, até conseguir “um poder que é uma bomba atômica”, como diz um de seus primeiros sucessos, Fuego.

Simón Mejía, de Bogotá, tinha a música na cabeça quando conheceu em 2005 Saumet, uma jovem de Santa Marta que tinha crescido rodeada dos sons da sua terra e dos discos de Daft Punk, The Chemical Brothers, Björk e Massive Attack, mas que até então não tinha conseguido combinar tudo em sua cabeça. Em 2006 estrearam com Volumen I, e três anos depois convenceram com La boquilla, o hit de seu segundo trabalho, Blow Up. As redes sociais conseguiram atravessar a fronteira de um país em guerra com as FARC, enquanto derrubavam os muros do mainstream.

Mais informações
Kanye West revela ao mundo “o melhor disco de todos os tempos”
Ramones: de pioneiros do punk a figurino de 'it girls'
Lady Gaga e Beyoncé triunfam no Super Bowl 2016

Esse pastiche cultural, no qual surge o legado afro-colombiano, indígena e das ruas, permitiu ao grupo se tornar o tradutor de uma paisagem sonora desconhecida pelas novas gerações colombianas. Como fez Carlos Vives nos anos noventa tocando o vallenato nas rádios da América Latina, Mejía, Saumet e Julián Salazar, outro integrante do Bomba Estéreo, dedicaram-se a mostrar aos jovens dos anos oitenta em diante que existem ritmos, como a champeta (perseguida pelo estigma de ser das classes populares) e a cúmbia, que também podem ser legais.

No novo século o mundo já tinha entendido o kuduro angolano, o funk carioca e a eletrocúmbia. Em parte, graças a seus dois álbuns seguintes, Estalla (2010) e Elegancia Tropical (2012). E, para o caso de alguém não ter sacado do que se tratava a nova mestiçagem, o futebol se encarregou da tarefa: Fuego virou a trilha sonora do videogame FIFA 2010. A responsabilidade deixou de recair somente sobre os ombros do Waka waka de Shakira e da Camisa negra de Juanes.

Desde então estiveram em quatro continentes, pisaram nos palcos de Glastonbury e Lollapalooza, entre muitos outros, além de umas tantas espeluncas onde acabaram conseguindo que o teto suasse tanto quanto o público. Pelos cálculos de Li Saumet, houve uma época em que não conseguiam ficar mais de duas semanas seguidas na Colômbia. Cada concerto não apenas multiplicava a onda, como uma pedra pulando na superfície da água, mas também lhes permitia reforçar o projeto. Enquanto o setor musical afundava por culpa da pirataria, os shows foram seu melhor sustento.

As pessoas continuavam dançando, e o mundo, mudando, como gosta de pensar a cantora: “Dançar te cura, te limpa e te salva”. Assim como faziam os antepassados de Saumet. “Vamos mudar o mundo simplesmente dançando.” Como demonstraram na primeira edição que o festival Sónar, de música de vanguarda, realizou em dezembro em Bogotá. O Bomba Estéreo fez uma festa pagã comparável à do Hot Chip e do The Chemical Brothers. As atrações principais –no papel- só ganharam dos colombianos no tamanho do palco. O público, não ligando para as restrições da sala secundária, pôde dançar mais colado do que dita o protocolo.

Amanecer, seu quarto disco, lançado no ano passado, terminou a tarefa. O Bomba Estéreo resolveu fechar com a Sony Music, e se abriram as portas de novas experiências. O trabalho tem a assinatura do produtor Ricky Reed, responsável por sucessos considerados comerciais, como Problem (Ariana Grande), Talk Dirty (Jason Derulo) y Fireball (PitBull). A novidade provocou algumas críticas na Colômbia. “Não é algo que vá mudar o som da banda. Nosso caminho foi muito sacrificado, sempre independente, e achamos que neste momento apostar em nós mesmos era o mais justo”, explicou Saumet em entrevista ao jornal espanhol El Mundo.

Em menos de um ano conseguiram duas indicações para o Grammy Latino e mais uma para o Grammy. Além de convencer Will Smith a voltar a cantar, 10 anos depois de lançar seu último trabalho musical, Lost and Found. O cantor e ator escolheu o Bomba Estéreo para dizer ao mundo que está preparado para retomar sua produção com uma versão de Fiesta, primeiro single lançado de Amanecer. Até agora a desconfiança não conseguiu conter esse foguete tropical.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_