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Coluna
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De vítimas a protagonistas

As mulheres brasileiras não aceitam mais instituições machistas e agora dizem "basta!"

Juan Arias

Todas as grandes revoluções da História começaram com a revolta de um grupo de vítimas da sociedade. O Brasil está se surpreendendo com o que está sendo chamado de "primavera da mulher", sob um grito que cresce a cada dia no mundo feminino, decidido a dizer "basta!".

É, por enquanto, um basta para instituições machistas que permitem, de braços cruzados, um verdadeiro extermínio da mulher pelos homens: o Brasil é o quinto país do mundo onde mais mulheres são mortas, e onde meio milhão delas são estupradas anualmente. E onde esses números têm aumentado, especialmente entre as mulheres negras, com uma alta de 54% nos últimos 10 anos.

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Este despertar da mulher brasileira, que decidiu levantar sua voz de protesto nas ruas e nas redes sociais, apresenta-se como um movimento sem precedentes, tanto pela força e surpresa com as quais surgiu quanto pelo momento conjuntural de um país que parecia adormecido, que dá marcha a ré em suas conquistas sociais, marcado pela corrupção política e desiludido com seus líderes.

A mulher, no Brasil, como em quase todo mundo, é maioria. E, entre as mulheres, as negras também representam a maior parte do contingente feminino que, ao mesmo tempo, é o mais atingido. Hoje, no Brasil, as mulheres parecem dispostas a se rebelar.

Brancas e negras, as mulheres continuam, de fato, tendo uma ínfima presença nas principais posições do poder político e econômico, onde decisões são tomadas sem ouvi-las e, quase sempre, contra elas.

São as mulheres brasileiras mais pobres que, por exemplo, carregam sobre os ombros a economia da família, cuidam dos idosos, e protegem os filhos em lares onde o homem as abandonou à própria sorte.

o Brasil é o quinto país do mundo onde mais mulheres são mortas, e onde meio milhão delas são estupradas anualmente

São, ao mesmo tempo, as mais afetadas por todos os tipos de violência, conjugal, institucional e policial. E continuam ganhando, assim como as mulheres brancas, menos do que os homens em tarefas iguais, o que o papa Francisco acaba de classificar como um pecado grave e ofensa contra a dignidade da mulher.

Talvez seja cedo para dizer se esta revolução de protesto das mulheres, que surgiu em um Brasil em crise de recessão econômica, de credibilidade institucional e de retrocesso na conquista da modernidade, represente uma sacudida capaz de despertar o país de sua letargia. Se será capaz de fazer com que seus líderes assumam suas responsabilidades, não só em relação aos graves problemas de violência contra a mulher, mas ao que tem levado um país, até então exemplarmente unido, dividir-se em dois como no reinado de Salomão, colocando até mesmo pessoas da mesma família umas contra as outras.

A nova revolução da mulher brasileira, além de vencer a batalha em defesa de seus direitos como gênero, poderia ser capaz de devolver a esperança a um país desiludido, dividido e com raiva.

Muitos se perguntam, na verdade, onde vai parar este país ao qual a multicrise está levando de volta aos seus piores anos de sombras e medos.

Este grito de "basta" das mulheres; este "não" à violência perpetrada contra elas, talvez acabe se expandindo. Também poderia se tornar um "basta" à corrupção, à impunidade, ao desperdício dos gastos públicos, às desigualdades sociais. Poderia ser um "não" ao monopólio da voz masculina nos fóruns em que os destinos de todos são decididos. Neste caso, o Brasil voltaria a ser notícia positiva no mundo.

As vítimas que tomam consciência de sua condição costumam ter a força do leão. E conta-se que, na selva, quando um leão ferido passa, os outros animais recuam, respeitosos e assustados.

No Brasil, as mulheres têm sido e continuam sendo vítimas de um sistema de poder dominado por homens. Esperemos que, reconhecendo-se não só como vítimas, mas com a força que envolve a consciência de seus próprios direitos e dignidade, as mulheres feridas no corpo e na alma também sejam capazes de incutir medo e respeito na selva dos poderes machistas.

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