Dilma se refugia no clã dos Picciani para retomar força no Congresso
Os Picciani, antes próximos de Cunha e hoje em ascensão, são os novo aliados do Governo
Em pleno mês de agosto, no meio do furacão político que ainda cambaleia a Presidência do Brasil, Dilma Rousseff (PT) pegou o telefone em busca de ajuda. Do outro lado da linha estava Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio, influente político peemedebista e profundamente crítico com o Partido dos Trabalhadores. “Eu queria te ouvir”, lhe disse Dilma, que o convidou em seguida a um café no Palácio da Alvorada. Do encontro participaram o ministro de Justiça, José Eduardo Cardozo, o secretário de confiança da presidenta, Giles Azevedo, Jorge Picciani e seu filho Leonardo, promissor líder da bancada do PMDB na Câmara. O patriarca dos Picciani conta que Dilma reconheceu que se encontrava em uma situação “delicada” e pretendia recuperar as rédeas da articulação em Brasília. “Agora é comigo”, disse enfaticamente a presidenta, segundo relata Picciani. Ela ouviu seus conselhos para garantir algo que estava fora das mãos da uma cada vez menos influente Rousseff: uma maioria no Congresso que lhe permita, de uma vez, aprovar o pacote de medidas econômicas para enfrentar a crise.
Naquele café de manhã de duas horas há dois meses oficializou-se a aliança da presidenta com os Picciani, um clã em ascensão ligado ao presidente da Câmara Eduardo Cunha, que fez campanha por Aécio Neves (PSDB) no Rio nas últimas eleições e que hoje, graças à mudança de torcida, promete ampliar sua influência no cenário nacional. Nas últimas semanas, com o clima de Fora Cunha tomando conta dos corredores da Câmara, o Governo já conquistou algumas demonstrações de que o apoio do clã pode surtir efeito no Congresso. Petistas foram mantidos fora da lista de indiciados na CPI da Petrobras e avançou nas comissões a proposta de facilitação para repatriar recursos, um projeto caro para o ajuste fiscal do Governo. Neste segundo caso, foi uma meia vitória, já que o Governo não conseguiu colocá-lo em votação no plenário. Nesta terça, será o teste do poder desta nova aliança. A votação pelo projeto de repatriação está marcada para hoje e Picciani alardeia que pode obter vitória.
O sucesso nas votações é imprescindível para Dilma tomar ar, e, enquanto ela respira, os Picciani fazem o que sempre fizeram: conquistam mais poder. Depois de firmado o acordo, o PMDB ampliou espaço na gestão Rousseff. Em uma estratégia que, em um primeiro momento pareceu atabalhoada, a presidenta deu dois novos ministérios para os deputados peemedebistas, Saúde e Ciência e Tecnologia. O processo foi conduzido por Leonardo Picciani, mas contam nos bastidores que nenhum Picciani dá um passo sem consultar o patriarca.
A entrada da família carioca no cenário não foi bem recebida por Cunha, que ajudou a eleger Leonardo líder do partido por apenas um voto de diferença, e tampouco pelo vice-presidente da República, Michel Temer, até então condutor do diálogo do Governo com o partido aliado. Nos dias posteriores à troca de ministérios a imprensa começou a noticiar que Leonardo saiu enfraquecido da nova aliança com o PT. Dentro do próprio PMDB, dividido em acirradas lutas internas, há quem veja a aproximação com Dilma como um jogo duplo. “Quem quer agradar gregos e troianos pode ser alvo de ambos e ficar sem nada”, alerta um cacique peemedebista. O pai Picciani nega debilidade: “Ele lidera 70% da bancada. Disseram isso porque, agora, enfraquecer o Leonardo é enfraquecer a Dilma”.
Os Picciani são um clã em ascensão ligado a Eduardo Cunha e que fez campanha por Aécio Neves no Rio
Em seu quarto mandato na Câmara, Leonardo viu, na queda de Cunha e na mão estendida por Rousseff, a oportunidade de alavancar sua carreira, que já se perfilava quando tinha apenas 10 anos e pedia o voto para Ulysses Guimarães (PMDB). Mas foi de uma maneira bem diferente do que pensava. Aos 35 anos, o jovem líder sonhava conquistar a prefeitura do Rio de Janeiro, porém, o atual prefeito carioca e correligionário, Eduardo Paes tinha outros planos. Paes está empolgado em fazer de seu íntimo escudeiro e secretário de coordenação, Pedro Paulo, seu sucessor. Assim poderia até 2018 contar com a vitrine da capital fluminense para alçar voos mais altos, como uma candidatura ao Governo, ao Senado ou, dependendo do cenário nacional e do sucesso dos Jogos Olímpicos, à presidência. Para garantir o caminho livre, Paes convidou outro Picciani, o também deputado estadual Rafael, de 28 anos, para assumir a secretaria de transportes. “Como o Leonardo iria confrontar a gestão em que o próprio irmão faz parte?”, questiona um amigo dos Picciani na capital federal.
Hoje, sem um rumo muito bem definido, Leonardo, ao invés de tentar administrar a caótica e encantadora cidade do Rio, decidiu se jogar na disputa pela sucessão de Cunha. Leonardo é um dos possíveis candidatos a ocupar a cadeira de chefe da Câmara. Se não nos próximos meses, quando Cunha pode ser defenestrado, já no próximo mandato, a partir de 2017. “Ele é sem dúvida um dos fortes nomes do PMDB”, diz um deputado peemedebista que, por enquanto, ainda é do grupo de Cunha. Oficialmente, Leonardo diz que não age para isso, mas para ajudar o Governo a reconduzir o país. O pai, por sua vez, o visualiza disputando uma vaga para o Senado em 2018.
Os primeiros movimentos no xadrez político que envolveram Leonardo Picciani, que começaram em junho promovidos pelo governador e pelo prefeito do Rio, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Paes, pareciam que não iam dar em nada. Como líder do PMDB ele não conseguiu convencer seus pares a comparecerem à sessão em conjunto do Congresso Nacional que iria votar os vetos presidenciais em três sessões em outubro, uma das prioridades – junto à aprovação da volta do CPMF, o imposto nas transferências bancárias – para tentar superar a crise.
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