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Estados Unidos pedem mais dinheiro à Europa contra o Estado Islâmico

Balanço da guerra contra os jihadistas divide Washington

Nova York / Washington -
Soldados afegãos, em um ataque ao Estado Islâmico.
Soldados afegãos, em um ataque ao Estado Islâmico.GHULAMULLAH HABIBI (EFE)

Os Estados Unidos pediram mais dinheiro aos seus aliados europeus na guerra contra o Estado Islâmico (EI). O objetivo é estabilizar as áreas livres do controle dos jihadistas no Oriente Médio. Uma maior contribuição econômica permitirá o desenvolvimento desses territórios e reduzirá a chegada de refugiados à Europa, segundo a Administração Obama.

O general John Allen –enviado especial do presidente Barack Obama para a chamada coalizão global contra o EI– fez o pedido em 17 de setembro, durante uma reunião com interlocutores da União Europeia.

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Após a chegada à Europa, neste ano, de dezenas de milhares de refugiados, a França e o Reino Unido anunciaram que estenderiam, do Iraque à Síria, sua participação nos bombardeios contra o EI, liderados pelos Estados Unidos. Mas o pedido do emissário de Obama é econômico e está centrado no Iraque.

Allen, segundo uma fonte que conhece o conteúdo da reunião, “reconheceu a humanidade demonstrada pela UE ao acolher os refugiados, mas disse que quanto maior for o território livre da presença do Daesh [acrônimo árabe usado para designar o EI], menor será a chegada de refugiados em nossos países”.

O pedido de Allen se referia ao Fundo de Financiamento para a Estabilização Imediata (FFIS, na sigla em inglês), criado pelo Programa para o Desenvolvimento da ONU. Desde junho o fundo financiou projetos nas áreas libertadas do Iraque. O dinheiro serve para preparar as cidades para que os moradores possam voltar e a atividade econômica seja retomada.

“O general Allen comentou que o fundo tem aproximadamente 30 milhões de dólares (122,4 milhões de reais) em dinheiro disponíveis para ajuda, enquanto são necessários, segundo estimativas da ONU, entre 60 e 80 milhões de dólares (244,8 a 326,4 milhões de reais) para cobrir as necessidades em Tikrit e nas áreas próximas, e para ajudar o Governo do Iraque a estabilizar outras comunidades à medida que são libertadas do controle do ISIS [acrônimo em inglês para designar o EI]”, disse um funcionário do Departamento de Estado em alusão à reunião de Bruxelas.

Balanço da guerra

A campanha aérea contra o Estado Islâmico começou há mais de um ano, em agosto de 2014 no Iraque e um mês depois na Síria. Obama convocou na terça-feira uma reunião, às vésperas da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para conversar com seus aliados sobre a guerra contra o EI e o extremismo violento. O balanço está equilibrado: os jihadistas sunitas tiveram avanços e recuos.

Ao contrário do argumento oficial segundo o qual o EI está perdendo, o tenente-general Robert Neller, candidato a comandar os Marines norte-americanos, disse em agosto que a guerra está “em ponto morto”. E o Pentágono investiga se funcionários de alto escalão alteraram, para torná-los mais otimistas, relatórios de inteligência sobre a campanha, como alegam diversos analistas do Exército.

Na reunião de Bruxelas, o general Allen lembrou que a guerra contra o EI será longa, mas disse que os jihadistas perderam terreno e estão sob pressão na Síria e no Iraque. Deu o exemplo da libertação da cidade iraquiana de Tikrit, o feudo de Saddam Hussein. Essa foi até agora a maior vitória a coalizão no Iraque.

Allen disse que é fundamental que as forças locais tomem o controle de territórios libertados. A formação deficiente das forças iraquianas e sua indisciplina é um problema nos combates contra os jihadistas. Isso já aconteceu na luta contra a insurgência durante a intervenção militar norte-americana no Iraque (2003-2011).

O general fixou como objetivo a libertação dos 900 quilômetros de fronteira entre a Síria e a Turquia e disse que o acordo que permitiu aos EUA usarem as bases turcas ajudará a consegui-lo. Mas, por enquanto, o plano turco-norte-americano de criar uma área terrestre sem a presença do EI a noroeste da Síria está parado.

Outro objetivo é recuperar a cidade sunita de Ramadi, capital de Al Anbar, a maior província do Iraque, que os extremistas conquistaram em maio. O Pentágono culpou o Exército iraquiano por essa perda. Allen também manifestou sua preocupação pela situação em Homs, a terceira maior cidade síria, onde o EI acumula poder e a coalizão não encontra aliados para combatê-lo.

Vantagens do Estado Islâmico

Allen alertou os aliados europeus que um problema na luta contra o EI é que este, ao contrário da Al Qaeda, tem autonomia financeira graças ao dinheiro obtido com a venda de petróleo, os impostos arrecadados, a venda de escravos, o tráfico de antiguidades e os depósitos impostos aos bancos nas regiões ocupadas.

“A situação é extraordinariamente complexa”, diz Anthony Cordesman, do Centro para os Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington. “As opções menos ruins ainda são, pelo menos na Síria, muito ruins. As boas opções no Iraque ainda são muito incertas e será preciso tempo para que as melhorias na região sejam notadas”.

Rumores de renúncia do general Allen

A agência de notícias Bloomberg publicou na semana passada, citando quatro fontes governamentais, que o general John Allen pretende renunciar em novembro ao seu cargo de enviado do presidente Barack Obama na coalizão global contra o Estado Islâmico.

Segundo as fontes citadas, o principal motivo da renúncia de Allen, no mesmo ano em que assumiu o cargo, é o estado de saúde de sua mulher, que está doente. Mas frisam que, ao mesmo tempo, o general está frustrado pelo modo como a Casa Branca lida com a guerra contra o EI. Lamenta, por exemplo, a reticência do Governo Obama em utilizar militares norte-americanos no Iraque para comunicar à aviação posições de bombardeio.

A saúde de sua mulher já foi o motivo utilizado por Allen para se retirar do Corpo dos Marines em fevereiro de 2013 após 38 anos de carreira, onde chegou a ser general de quatro estrelas. Na época, Allen ambicionava o posto de Supremo Comandante Aliado da OTAN. Nos anos anteriores, o general serviu no Iraque e no Afeganistão.

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