Ocidente aumentará a ação militar na Síria contra o Estado Islâmico
França anuncia que atacará nesta terça-feira posições do grupo terrorista no país
Um ano depois do início da operação militar internacional na Síria e no Iraque, o Estado Islâmico (EI) pouco cedeu, Bashar al-Assad resiste e aumentam as tensões com o Irã e a Rússia na região. E o conflito causou milhares de refugiados, fato que gerou comoção em todo o mundo. O Ocidente pretende modificar sua estratégia. O presidente François Hollande anunciou nesta segunda-feira que seus caças no Iraque ampliarão suas ações à Síria. Londres informa que já atacou a Síria com drones em agosto e projeta agora um maior envolvimento. E os Estados Unidos analisam como dar mais apoio aos rebeldes.
“Pedi ao ministro da Defesa que, a partir de amanhã [terça-feira], aviões franceses façam voos de reconhecimento no sul da Síria”, disse Hollande em uma entrevista coletiva no Palácio do Eliseu. “Permitirão planejar os bombardeios contra o Daesh”, o acrônimo em árabe do Estado Islâmico (EI). “Queremos saber onde estão os centros de treinamento e comando”. Hollande, que descartou toda intervenção terrestre por “não ser realista”, quebrou com esse anúncio um princípio específico da França no conflito: não atacar o EI na Síria, o principal feudo jihadista, para não reforçar indiretamente o regime de Bashar al-Assad.
O Reino Unido também havia optado até o momento em não intervir abertamente na Síria depois do Parlamento votar contra essa opção dois anos atrás. Agora, pelo contrário, David Cameron informou que Londres autorizou em 21 de agosto um ataque aéreo com drones na Síria, que matou dois britânicos combatentes do EI. O objetivo –Reyaad Khan, um jovem de 21 anos de Cardiff– era uma ameaça específica à segurança do Reino Unido, disse Cameron no Parlamento. O país exerceu seu “direito inerente à autodefesa”, à margem da guerra travada na Síria pela coalizão internacional.
O ataque também matou Ruhul Amin, britânico de Aberdeen, e um terceiro combatente. Cameron afirma que Khan preparava ataques “bárbaros” em solo britânico. A informação veio à tona no momento em que o Governo britânico parece decidido a intervir militarmente na Síria em menos de um mês, segundo o The Sunday Times. Acredita que conseguirá a autorização parlamentar. Conta com uma frágil maioria de 12 cadeiras, mas os tories dão como certo que o Governo terá o apoio suficiente de deputados trabalhistas para neutralizar os trinta deputados conservadores que provavelmente irão se opor a ampliar a ação militar além das fronteiras iraquianas.
Enquanto isso, nos EUA, o Pentágono prepara mudanças em sua estratégia de treinamento dos rebeldes moderados sírios depois que em julho a filial da Al Qaeda na Síria atacou os opositores respaldados por Washington. A cúpula militar estuda, segundo o The New York Times, aumentar o número de rebeldes em ação, facilitar apoios locais, melhorar suas habilidades de combate e fornecer-lhes melhor informação.
O ataque da Frente al Nusra consumou o início errático do programa do Departamento de Defesa. Desde seu início em maio, somente 60 combatentes foram treinados após uma exaustiva pesquisa para descartar extremistas, bem distante do objetivo inicial de recrutar entre 3.000 e 5.000 combatentes por ano. A prioridade dos rebeldes deve ser atacar o Estado Islâmico, não as forças do regime de al-Assad.
As novas estratégias serão aplicadas depois das mudanças no cenário nos últimos meses. Os escassos resultados, apesar dos milhares de bombardeios –O EI não se enfraquece e o regime de al-Assad não cai–, somam-se ao aumento da tensão nessa e em outras frentes. Com o Irã e a Rússia, de um lado, por seu apoio militar ao regime sírio. E entre o Irã e a Arábia Saudita, aliada essencial dos Estados Unidos, com confrontos na Síria e no Iêmen. O temor de um novo aumento da violência vem junto com uma ligeira distensão do Ocidente com o Irã e Moscou.
Teerã acertou em julho com seis potências, com Washington na liderança, um acordo sobre seu programa nuclear, o que facilita aproximações em outros campos. Com Moscou as tensões também foram em parte reduzidas após o instável acordo sobre a Ucrânia. Paris, entre outros, negocia com os dois países sobre a Síria. “A França trabalha a favor de soluções políticas. Falamos com todos os países que possam favorecer uma transição: países do Golfo, a Rússia e o Irã”.
Hollande prognosticou que, diante “do caos” na Síria, a Rússia irá se envolver mais, sobretudo “contra o EI”, e que Moscou já trabalha com Washington para elaborar “uma proposta”. “A Rússia também quer encontrar uma solução”. Entre os objetivos buscados, está a formação de um “Governo de unidade”. Mas sem al-Assad, exige Paris. “Al-Assad deve sair. Ele bombardeou posições civis e utilizou armas químicas”, afirmou o mandatário francês.
Foi o uso de armas químicas que, em 2013, levou Hollande a encabeçar uma operação militar contra Assad. Acabou frustrado, porque Washington se desvinculou na última hora, e, para Hollande, esse foi o erro que desencadeou o nascimento e a expansão do EI. Contra os jihadistas, a França atua militarmente em coordenação com os EUA, mas mantém sua autonomia na hora de decidir os alvos a atacar.
A mudança de estratégia da França e do Reino Unido ocorre em meio à maior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. A maioria desses refugiados procede da Síria, como o menino Aylan Kurdi, de 3 anos, fotografado em uma praia da Turquia após morrer afogado, numa imagem que golpeou as consciências de todo o mundo, como recordou o mandatário francês. E o passo dado pela França coincide também com um momento de psicose nacional após vários atentados terroristas e sete ataques frustrados. Os terroristas, observou o presidente, recebem ordens da Síria.
Na noite de segunda-feira, o Palácio do Eliseu informou que Hollande e Cameron conversaram por telefone sobre a Síria e os refugiados. Concretamente, discutiram o “reforço” das ações francesa e britânica nesse país, sua “coordenação” na luta contra o EI e a necessidade de “trabalhar em paralelo para uma transição política ordenada”. Hollande comentou sua decisão de acolher em dois anos os 24.000 refugiados atribuídos à França pela Comissão Europeia, enquanto Cameron "confirmou sua intenção de acolher 20.000 refugiados até 2020”, segundo o Eliseu.
Os primeiros bombardeios franceses no Iraque aconteceram em 19 de setembro de 2014. Desde então, 12 caças com base nos Emirados Árabes Unidos e Jordânia já efetuaram mais de 200 bombardeios.
Com informação de Pablo Guimón (Londres) e Joan Faus (Washington)
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