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O Califado mantém seu poder de atração sobre muçulmanos radicais

O Estado Islâmico possui um contingente de 31.000 milicianos

ÓSCAR GUTIÉRREZ
Fotograma de um vídeo difundido pelo Estado Islâmico.
Fotograma de um vídeo difundido pelo Estado Islâmico.

A jovem estava nervosa. A cena, casual, ocorreu recentemente na Tunísia. Ela fala em árabe. Questionada sobre os motivos de estar tão alterada, o intérprete, conhecido da jovem, conta que uma amiga dela acaba de partir rumo à Síria para viver com seu marido no Califado. A amiga dela era uma jovem normal, tanto que inclusive fez uma tatuagem –só que a esconde sob o niqab (véu completo, que só deixa os olhos descobertos) que vestia na companhia do marido, um militante islâmico convicto, responsável pela mudança para o Califado. Partiram simplesmente para viver lá. Apesar das derrotas na frente de combate, o Estado Islâmico (EI) não deixou de ser atraente para muçulmanos radicais. E seu magnetismo não vive só da violência.

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Doze meses depois de caças norte-americanos começarem a bombardear posições do grupo comandado pelo iraquiano Abubaker al Bagdadi, a cifra de milicianos permanece praticamente intacta, segundo os serviços de inteligência. O dos Estados Unidos calcula que o Estado Islâmico agrupe cerca de 31.000 combatentes, sendo 25.000 estrangeiros, incluindo 4.500 ocidentais.

Há um ano, antes da ofensiva que segundo Washington já matou mais de 15.000 jihadistas, esses números eram semelhantes ou inclusive menores. O think tank norte-americano The Soufan Group concluiu que o EI conseguiu repor seu contingente à medida que ele ia sendo eliminado. “Os jihadistas demonstraram inclusive a seus seguidores que estão investindo num futuro em longo prazo”, diz John Horgan, da Universidade de Massachusetts, especialista no estudo da psicologia e do terrorismo.

Horgan se apressa em descartar o que considera uma “visão ingênua” sobre os motivos que levam alguém a viajar para o Califado. Há muitos jovens e não tão jovens ávidos por apertar o gatilho, mas o gosto pela violência não explica a viagem de famílias como a daquela jovem tunisiana. “Gostemos ou não, o EI está construindo um proto-Estado”, prossegue Horgan, “e isso representa um tremendo atrativo para quem estiver tentado a se transferir para lá”.

Na mente dos estudiosos do jihadismo está bem presente o recente caso da família do setuagenário Mohamed Abdul Mannan, formada por 12 membros, entre eles um bebê, que emigrou em maio da cidade britânica de Luton para a Síria, num périplo que a levou a passar pela Turquia e Bangladesh. “Sentimo-nos mais seguros do que nunca”, disseram os integrantes da família em nota divulgada por membro britânico do EI.

Propaganda do Estado Islâmico

Não se sabe se o comunicado foi assinado voluntariamente pela família ou se é apenas mais um panfleto de propaganda do EI sobre suas bondades. Os jihadistas mantêm um aparelho de comunicação ainda sem igual entre os grupos terroristas. Em um de seus últimos vídeos, produzido pelo braço midiático Al Hayat sob o título Come, My Friend (venha, meu amigo), o grupo conclama os muçulmanos a se unirem a suas fileiras, usando para isso uma enxurrada de imagens de combatentes felizes e de adolescentes, muitos deles filhos de estrangeiros, treinando fardados. “Para as pessoas de fé, a felicidade é hoje”, diz a gravação.

Nesta linha, a análise do The Soufan Group alerta que o Califado do EI é “tanto uma ideologia como um destino físico”. “O EI”, disse o grupo em um comunicado, “depende das pessoas que viajam para lá para viver e morrer, e também de que se fale disso na Internet”. Isso explica, acrescenta o centro de análises, que fechar as fronteiras à passagem de estrangeiros seria crucial.

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