Autoridades do Rio se unem para tentar conter caos e roubos nas praias
PM voltará a abordar ônibus das periferias rumo à zona sul, mas com assistentes sociais
Após um final de semana de praias cheias que viraram cenário de roubos e assaltos por grandes grupos de jovens vindos da periferia, oito instituições ligadas à Segurança Pública e à assistência social do Rio de Janeiro se mobilizaram para conter a violência nos bairros da zona sul, joia da coroa da sede olímpica. A estratégia deve incluir também, por parte dos setores de inteligência, a identificação dos chamados justiceiros, moradores que neste final de semana se uniram por meio das redes sociais para espancar jovens que consideraram suspeitos e que ameaçam continuar com a caça de infratores nos próximos dias.
Diante de uma “situação que quase saiu do controle”, o subprefeito e secretário de desenvolvimento social, Adilson Batista, prometeu para o próximo final de semana “uma presença ostensiva do poder público” nas praias. Essa presença vai incluir agentes da polícia militar, guardas municipais e assistentes sociais. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou também que a PM voltará a abordar os ônibus procedentes dos subúrbios a caminho da orla, dessa vez acompanhados de assistentes sociais da Prefeitura para identificar menores em situação de vulnerabilidade social. “Vamos fazer o trabalho que sempre fizemos, com blitz, parando ônibus, parando carro, parando moto. Mas, desta vez, com apoio de outras instituições para que a gente tenha mais legitimidade, mais lisura nas nossas ações”, disse Beltrame, após uma reunião com representantes dos órgãos parceiros.
A abordagem de ônibus foi precisamente motivo de disputa entre a Justiça e a PM, depois que em agosto fossem apreendidos 160 menores que iam a caminho das praias vindos de favelas da zona norte. No último dia 10, a ação foi considerada ilegal pelo juiz Pedro Henrique Alves, da 1ª Vara da Infância, baseado no Estatuto da Criança e Adolescente que proíbe a privação de liberdade de menores sem que haja flagrante de crime. A decisão do juiz, que cobrou uma ação conjunta dos órgãos públicos, apenas reforçava o cumprimento de uma lei já existente, mas foi interpretada pela Secretaria de Segurança como um veto à PM. “A polícia está enxugando gelo, está sendo constrangida. Se atua, abusou do poder, se não atua, prevaricou”, reclamou o secretário Beltrame.
Beltrame defendeu que um fator determinante será avaliar a "vulnerabilidade dos menores". Destacou o fato de que os pais da maioria dos menores apreendidos nessas abordagens não apareceram para recolher as crianças. "Como é que deixam um menor sair de casa só de sunga, a quilômetros de distância de casa, sem dinheiro pra voltar pra casa, sem dinheiro pra comer, pra beber numa situação de completa vulnerabilidade? Isso não é responsabilidade da polícia”, questionou o secretario na segunda. A questão social apreciada pelo secretario contrasta com a interpretação do prefeito Eduardo Paes, que estava fora do Rio e viu as imagens dos arrastões pela televisão. “Nós não vamos tratar delinquentes marginais como problema social. Isso é problema de segurança pública. Não pode chamar jovem que sobe em teto de ônibus de vulnerabilidade social. São as injustiças do Brasil. Mas vamos justificar então que o sujeito vá para a rua assaltar e agredir quem está na praia? Delinquente tem que ser tratado como delinquente", disse o prefeito.
Copacabana respira depois do caos
Depois das cenas de rapazes aproveitando a parada dos ônibus para roubar quem aguardava nos pontos, de correrias, assaltos e linchamentos, a calma voltou às calçadas de Copacabana. Fora da voragem dos grupos de moradores nas redes sociais, o discurso fica, de certa maneira, mais comedido nas ruas. A sensação, no entanto, é de revolta e não é difícil achar quem justifica a violência contra os infratores, além de mudanças na legislação que permitam punir mais severamente os menores. “Esses dias eu vi uma cena de um menininho de dez anos puxando a corrente de uma senhora idosa. Um homem correu atrás do menino, o pegou, e a senhora deu um tapa na cara dele. Houve aplausos. O pessoal está revoltado”, relata Vania Scholz, 61, proprietária numa das esquinas de Nossa Senhora de Copacabana, cenário de linchamentos de jovens por parte de moradores com conhecimentos de luta. “Nós como seres humanos não podemos massacrar um menino, mas eu confesso que não acho tão errado que batam neles. Está virando uma guerra, à base de porrada”, completa Scholz.
“Nós não vamos tratar delinquentes marginais como problema social. Isso é problema de segurança pública.
Sabrina Rigo da Silva, 35 anos, que se diz acostumada com os arrastões de todos os verões, adverte está pensando em sair da cidade todo final de semana. "Os moradores não tem quem lhes ajude, aí eles fazem justiça com as próprias mãos. Acho certo. Ninguém faz nada, a polícia não dá conta, os moleques enfrentam os agentes, o que resta fazer?", reclama. A moradora de Copacabana é a favor da abordagem dos ônibus a caminho da praia e de maior punição dos menores. "Dá para saber quem vai para roubar. Não concordo com isso de que você não possa prender menores. Nos EUA está sendo preso menininho de oito anos. Não é que ache que seja a melhor solução, mas por que aqui os moleques saem [dos centros de internação] tão fácil assim?".
O estudante de 16 anos Matheus Lucas, que tem a mesma idade de muitos dos protagonistas do desafio que as autoridades cariocas enfrentam, resume com calma: "Acho que este é um problema mais sério do que está sendo tratado. É um problema de educação, e não de polícia. E é um problema do Brasil e não só do Rio".
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