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Coluna
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Saiba quando um homem quer uma mulher

Crônica do amor louco, confesso, não tem jeito, tampouco bons modos

Ben Cremin (Flickr/Creative Commons)

Quando um homem está a fim de uma mulher, de fato, ele não tem dia, noite, nem hora. Ele vai mesmo. Sendo solteiro ou casado. Ele vira bicho, juro.

Não tem reunião de firma que segure tal macho. Não tem sequer casamento que o deixe na linha do impedimento.

Reunião, aliás, ou é mentira ou é assembleia comunista, a revolução permanente de Mao Tse Tung, tudo ficção na cabeça do homem que não quer de verdade e urgentemente.

Se quer, vai, jamais vira aquele homem do afrosamba de Osanha, como diziam Vinícius de Moraes e Baden Powell:

“O homem que diz "vou"

Não vai!

Porque quando foi

Já não quis!

O homem que diz "sou"

Não é!

Porque quem é mesmo "é"

Não sou!

O homem que diz "tou"

Não tá”.

Monga do amor

Quando um homem está a fim de uma mulher ele esquece as convicçõezinhas que lhe são mais caras, ele chega atrasado no emprego, ele corre risco mesmo em tempo de crise, ele mente em casa aos parentes, ele simplesmente vai, vai, ele casado diz que o lar não mais o aquece, ele mente, convicto como um filósofo grego.

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Ele muda, se transforma, vira uma espécie de Monga do amor e do sexo. Jogo de espelhos. Canalha!

Ele te leva, amante da firma, em um restaurante japonês mesmo odiando uma casa em que a comida vem crua e o guardanapo cozido –atribuem esta definição da culinária oriental ao Veríssimo, maior vítima na face da terra de textos com autoria trocada na Internet.

Quando um homem quer mesmo ele perde até o jogo do Corinthians ou do Flamengo, embora fique ligado no rádio do porteiro e indo ao banheiro para checar o resultado. Mas já é um puto ganho e tanto.

Quando um homem está na fissura, mesmo sendo um empedernido macho-jurubeba, ele começa a ajeitar seu mocó de homem solteiro. Ele compra pelo menos duas tacinhas fuleiras para o casal beber junto. Logo ele, um tosco que até então apenas reutilizava copos de requeijão Poços de Caldas e de geleia de mocotó Colombo.

Quando te quer mesmo, amiga, ele faz até uma faxina, porcamente, tudo para debaixo da cama ou da geladeira. Haja bom-ar no conjugadinho de Copacabana, haja Pinho Sol no banheiro da kitinete do Largo de Santa Cecília (SP), haja desinfetante naquele apezinho do edifício redondo, o Módulo, na Conda da Boa Vista, Recife.

Faxina de homem é amor sem limite.

A operação Pinho Sol é um clássico do macho quando ama ou está apaixonado, no mínimo, pela formosa dama. Diz muito.

Tem mais: quando um homem acha que ama, mesmo sendo o mais sedentário do planeta, este homem vira o rei do pentatlo, moça.

Ele troca a picanha suculenta pela dieta de um spa no meio do mato no interior de São Paulo. Dieta de 600 calorias, limpeza de pele, detox completo, mesmo com uma cachacinha “Dedo de Prosa” escondida na moita. Maldita clandestinidade alcoólica.

Quando um homem está a fim, seja para que modalidade de relacionamento, ele nunca tem reunião fora de hora

Quando um homem acha ou está a fim, mesmo sendo um macho-jurubeba desgraçado, ele cheira a rolha, sente o bouquet e vira um amante de um bom vinho imediatamente. É capaz de discorrer horas sobre o aroma amadeirado, vixe, taninos suaves...

Quando um homem está a fim, seja para amar ou apenas uma transa, ele se transforma em um legítimo picareta. Vai ao Google diante de qualquer assunto que te pareça importante ou afetivo e é capaz de discorrer sobre o tema com a cara de pau de um especialista.

Marketing amoroso

Mas quando o homem está querendo mesmo, não apenas te levar na cama, vai te parecer, muitas vezes, um leso, abestalhado, simplesmente por querer à vera e não conseguir ser tão esperto, simplesmente por ser verdadeiro, verossimilhante.

Quando um homem está a fim, seja para que modalidade de relacionamento, ele nunca tem reunião fora de hora, mesmo que pertença aos partidos herdeiros da velha esquerda –“pra fazer revolução tem que ter reunião”, era o mantra.

Quando o caboclo está na tua não vira o pescoço na rua, te protege no lado de dentro da calçada, presta atenção no vestido novo, te aquece no ar condicionado criminoso e siberioso dos cinemas do Rio. Sim, também compra o ingresso com antecedência e pensa num lugar nada óbvio para te levar depois.

Faxina de homem é amor sem limite

Quando um homem está a fim… ele impressiona. Pode ser fissura sexual, pode ser ilusão de ótica, pode ser começo de amor para valer etc. Quando um macho está a fim vira um verdadeiro homem-Monet, o um impressionante impressionista-mor da humanidade.

Quando um macho quer, vira simplesmente uma mulher... Eis o segredo para amar uma fêmea, eis o melhor jeito de tê-la.

Ele sabe que só assim tem o seu espaço nos novos tempos, ele sabe o que é possível, ele sabe pisar nos astros distraído...

Quando um homem está a fim, mesmo, de uma dama, ele sabe que o melhor exercício é observá-la, reparar no que ela usa, no que ela veste, ficar tão perto e tão longe com o binóculo dos sentimentos focado no afeto de varejo.

Na verdade ele não sabe de nada, porém não tem escapatória, ele simplesmente não tem saída... Quando um homem quer uma mulher não tem porta de emergência capaz de cortar o fogo homérico ou platônico...

Quando um homem está a fim de uma mulher, amiga, não tem “nove horas”, não há regulamento, calendário ou relógio, simplesmente ele comparece e reza a missa de corpo presente.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor do romance “Big Jato” (Companhia das Letras), entre outros livros.

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