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“Rousseff ganha mais que Obama com o reencontro em Washington”

Analistas discutem no ‘think tank’ CSIS a visita da presidenta brasileira à Casa Branca

Silvia Ayuso
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff
A presidenta do Brasil, Dilma RousseffKENA BETANCUR (AFP)

A visita a Washington que a presidenta Dilma Rousseff iniciou nesta segunda-feira está bastante atrasada. Especificamente desde outubro de 2013, quando o presidente Barack Obama esperava recebê-la na Casa Branca com as mais altas honrarias previstas no protocolo norte-americano.

Mas a revelação de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA havia espionado o celular de Rousseff levou ao cancelamento daquela visita de Estado e, durante meses, turvou gravemente as relações bilaterais.

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Quase dois anos e vários gestos diplomáticos depois —e apesar de Obama nunca ter se desculpado pelo escândalo—, chegou a hora de virar página e encerrar definitivamente esse capítulo. Uma ação que, na atual conjuntura, interessa mais a Rousseff do que a Obama, como concordaram os analistas reunidos em um debate realizado na segunda-feira na sede do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Institucionais (CSIS, na sigla em inglês), em Washington.

“A visita é muito mais importante para Rousseff do que para Obama, porque Dilma está numa encruzilhada política muito complicada, com o país numa espécie de recessão e com um escândalo de corrupção”, resumiu Antonio Jiménez Barca, correspondente do EL PAÍS no Brasil.

Tanto para melhorar sua imagem no exterior como para tentar fechar algum acordo comercial, Rousseff “tem muito a ganhar com a visita”, salientou Jiménez Barca durante uma mesa-redonda organizada conjuntamente pelo EL PAÍS e pelo programa Club de Prensa, do canal NTN24.

“O Governo brasileiro percebeu que este é o momento oportuno de relançar esta relação, tanto política como comercialmente”, concordou Hussein Kalout, do Centro Weatherland de Assuntos Internacionais, da Universidade Harvard.

O objetivo primordial da visita é “recuperar a confiança”, mas os dois presidentes também têm na pauta a necessidade de “promover uma nova relação estratégica” que interessa a ambos, observou o analista.

Neste sentido, os acordos comerciais e os preparativos para a reunião climática deste ano em Paris são temas que aparecem com destaque na pauta de Washington. Depois de um jantar protocolar na segunda-feira, os representantes dos dois países manterão reuniões ao longo de toda a terça-feira.

Mas não se trata, segundo Carl Meacham, diretor do Programa de Américas do CSIS, de alcançar um grande número de acordos concretos, e sim de aproveitar o encontro “como o começo do que deve vir” nessa relação bilateral ora retomada.

Uma incógnita marca a química pessoal entre os dois mandatários. Nem Rousseff nem Obama são os mesmos de 2013, recordou Muni Jensen, analista política do Club de Prensa. A presidenta brasileira se permitiu dar as costas a Obama num momento em que gozava de popularidade elevada e o mundo ainda olhava com admiração para o crescimento do Brasil, que além do mais se preparava para organizar a Copa do Mundo de futebol.

A Dilma Rousseff que chega agora à Casa Branca está acossada por escândalos de corrupção que chegaram ao seu círculo mais próximo, e a situação econômica brasileira motiva inúmeras dúvidas. Obama, por outro lado, já está na última etapa do seu segundo mandato e acaba de obter importantes vitórias —como a validação pela Suprema Corte da reforma da saúde, principal iniciativa da sua presidência—, além de presidir uma economia em forte recuperação.

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