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Delação de empreiteiro é novo rastilho de pólvora na Lava Jato

Ricardo Pessoa, da UTC, diz que pagou 3,6 milhões ao PT e envolve gestão Rousseff

Ricardo Pessoa chega à sede da PF em novembro, quando foi preso.
Ricardo Pessoa chega à sede da PF em novembro, quando foi preso.Z. Fraissat (Folhapress)

Mais um rastilho de pólvora foi aceso na operação Lava Jato. Detalhes da delação premiada assinada pelo empreiteiro Ricardo Pessoa começaram a vazar para a imprensa nesta sexta-feira e implicam membro do Governo Dilma Rousseff e o seu Partido dos Trabalhadores.

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Considerado o chefe do clube das empreiteiras, um grupo de construtoras criado para fraudar licitações da Petrobras, Pessoa é o sócio majoritário da UTC Engenharia e, entre novembro do ano passado e abril deste ano ficou detido em Curitiba. Foi afastado da empresa para poder receber o benefício da prisão domiciliar, que agora cumpre em São Paulo. Antes de ter seu acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira passada, o empreiteiro havia negado todas as acusações feitas contra ele. Sua postura mudou depois que a UTC começou a sofrer impactos negativos por conta da prisão de seu principal executivo e da proibição de firmar novos contratos com a Petrobras. Além disso, conforme investigadores que o incentivaram a assinar a delação, o empreiteiro se sentiu isolado ao não conseguir suporte de políticos que ele teria beneficiado por meio do esquema ilegal.

Em seus primeiros depoimentos que vieram à tona, o empreiteiro apresentou uma planilha em que constam pagamentos de caixa dois para o PT entre 2010 e 2014 por meio de dois tesoureiros, José de Filippi e João Vaccari Neto. O primeiro é o atual secretário municipal de saúde de São Paulo e foi tesoureiro da campanha de Rousseff em 2010. O segundo foi tesoureiro do PT entre 2010 e 2015, deixando o cargo em abril quando foi preso sob suspeita de intermediar as propinas pagas pelas construtoras para seu partido. As informações constam de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

Outro beneficiado pelo esquema ilegal chefiado por Pessoa seria o atual ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também do PT. Conforme uma reportagem da Folha de S. Paulo, os 250.000 reais recebidos por Mercadante na sua campanha para o Governo paulista em 2010 estariam envolvidos no esquema de corrupção. Ao contrário das doações feitas para os tesoureiros do PT e de Rousseff, contudo, essa contribuição a Mercadante foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral o que, ao menos em tese, retiraria seu carimbo de ilegal. Em teoria porque durante a investigação da Lava Jato constatou-se que parte das doações oficiais feitas pelos empreiteiros para as campanhas eleitorais eram, na verdade, pagamento de propina disfarçados.

Doação e crise

Sétima maior empreiteira brasileira com receita líquida de 2,9 bilhões de reais, a UTC se caracteriza por ser uma das grandes doadoras de campanhas eleitorais. Só no ano passado doou 19 milhões de reais ao diretório do PT e 7 milhões de reais ao do PSDB, sem contar os recursos repassados diretamente a candidatos de diversos cargos.

Atualmente ela tem 10 bilhões de reais em contratos com a Petrobras. Sendo, 4,2 bilhões de reais em contratos exclusivos e 5,8 bilhões de reais como participante em consórcios formados com outras construtoras. Com a Lava Jato, a UTC entrou em uma crise sem igual. Nos últimos meses demitiu metade dos seus 30.000 funcionários e tenta vender sua participação em dois aeroportos, o de Feira de Santana (na Bahia) e o de Viracopos (em Campinas, SP).

Sob nova direção, a UTC tenta evitar que essa pólvora acendida pelo seu sócio majoritário a exploda. Já o Governo Rousseff tenta conter essa crise. Nesta sexta-feira, ela consultou alguns de seus assessores mais próximos para tentar apagar esse incêndio.

Outro lado

Os advogados de Pessoa e de Vaccari não responderam aos pedidos de entrevistas da reportagem. A UTC disse que não se manifestaria sobre o assunto. Já a assessoria de Mercadante negou que ele esteja envolvido com os desvios da Petrobras e que as doações para sua campanha foram legais. Em nota, o PT afirmou que todas as contribuições recebidas pela legenda “aconteceram estritamente dentro da legislação vigente e foram posteriormente declaradas à Justiça”.

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